Opinião
Podemos confiar nas agências de acreditação das escolas de gestão?
O que está verdadeiramente em causa é a aceitação de que possa haver interferência política nas agências de acreditação de universidades e, em particular, numa das três agências mais importantes do mundo.
Não está em causa, neste escrito, avaliar as políticas de diversidade, equidade ou inclusão e os seus porquês.
Não está em causa, neste escrito, avaliar a bondade, sequer, de uma aproximação à avaliação das universidades por meio de critérios que versem a diversidade, a equidade e a inclusão por parte das agências de acreditação, o que, diga-se, parece ser um caminho mais ou menos óbvio muito embora dependa, também obviamente, da forma como é feito.
Não está em causa sequer saber se o critério A ou B estão bem, ou menos bem na avaliação das universidades. Se os critérios existem devem ser sempre para conseguir um bem maior que deve ser, efetivamente, uma universidade plural e livre.
Todos sabemos que as universidades são o espaço (ou deviam ser), por excelência e havendo respeito, da liberdade de expressão sem consequências. Só a pluralidade intelectual e a sua complementaridade as fará avançar em várias dimensões, mesmo por entre consensos muitas vezes complexos e posições divergentes.
O que aqui procuro trazer é a tomada de posição da AACSB por quem pelo menos seis universidades portuguesas — ou as suas escolas de gestão — são acreditadas.
A AACSB — Association to Advance Collegiate Schools of Business —, de origem americana, acaba de anunciar a remoção das diretrizes de diversidade com que vinha a avaliar e a acreditar escolas de gestão.
A CEO da AACSB, Lily Bi, veio afirmar que a reformulação das diretrizes de diversidade e inclusão visa proteger as escolas de negócios associadas. Pura desfaçatez. Mesmo porque é sabida a campanha do atual Presidente Donald Trump contra políticas de diversidade, equidade e inclusão. E foi isso, precisamente, que levou a principal agência global de acreditação, de origem americana, a substituir a sua antiga ênfase em “diversidade e inclusão” por “comunidade e conexão” no contexto dos seus princípios orientadores.
Esta mudança da AACSB é, assim, a consequência das críticas generalizadas aos esforços de DEI — Diversidade, Equidade e Inclusão — pelo atual Presidente americano e seus aliados republicanos, que sustentam que tais iniciativas representam “um imenso desperdício público e discriminação vergonhosa”.
A eliminação dos critérios de DEI pela AACSB provocou críticas imediatas nas redes sociais, com alegações de que a mudança compromete os esforços para promover a diversidade, a equidade e a inclusão na educação na área dos negócios. As críticas na Europa, onde as escolas de negócios lideram iniciativas de ESG (Ambientais, Sociais e de Governance), foram particularmente veementes.
Ioannis Ioannou, professor de estratégia na London Business School, chamou a atenção para a “falha de liderança”, criticando a AACSB por ceder a pressões políticas. Outros colegas questionaram a viabilidade da organização, sugerindo a necessidade de um novo órgão de acreditação.
A AACSB afirmou, em contrapartida, que fez a mudança para mitigar riscos legais e políticos para as escolas associadas, especialmente nos estados dos EUA que impuseram restrições às iniciativas de DEI. Apesar da nova linguagem, a agência vem afirmar que a sua missão e valores permanecem inalterados, continuando a apoiar ambientes educacionais inclusivos. A AACSB espera proteger as suas escolas associadas de possíveis desafios legais ao adotar uma linguagem mais neutra.
No cômputo geral, e como referi no início deste texto, não está em causa a bondade, ou não, das políticas de DEI. Não está em causa sequer avaliar da forma como tem sido feito o caminho para haver mais diversidade, equidade e inclusão. O que está verdadeiramente em causa é a aceitação de que possa haver interferência política nas agências de acreditação das universidades e, em particular, numa das três agências mais importantes do mundo.
Se a agência AACSB cede a pressões políticas, então é legítimo pensar que cede a muitas outras pressões. Cede a lobbies e influências? Cede a poderes e a valores? Cede ao que julga ser o melhor caminho para as universidades? Repito, não estou a avaliar critérios nem caminho, mas a ligeireza com que se anuncia uma mudança por razões estritamente políticas. E cederá aos lobbies das próprias universidades que avalia e acredita?
Em suma, uma vergonha.