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Querem medalhas? As universidades têm de ajudar!

A forma como o sistema educacional em Portugal trata a Educação Física e a prática desportiva é deplorável. Queremos atletas olímpicos? Onde estão as escolas e as universidades para apoiar e estimular, do ensino básico e secundário ao superior, atletas que possam vir a ser futuros campeões olímpicos?

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A forma como o sistema educacional em Portugal trata a Educação Física e a prática desportiva é deplorável. Queremos atletas olímpicos? Onde estão as escolas e as universidades para apoiar e estimular, do ensino básico e secundário ao superior, atletas que possam vir a ser futuros campeões olímpicos? Despreza-se a Educação Física desde o ensino básico para se empacotarem alunos e professores em salas de aula para nada fazerem de muito diferente do que dormirem (há um recorte que circula pelas redes sociais e que não deixa de ser muito verdadeiro). E onde está o dinheiro do PRR para ajudar a construir as infraestruturas desportivas universitárias que permitam atletas olímpicos?

Um destes dias doámos umas bicicletas à Academia do Johnson. E, se bem entendemos a mensagem, pois serão necessárias muito mais bicicletas, bolas, arcos, pesos e outros equipamentos, para além das infraestruturas, para erradicar “os bairros” da cabeça das crianças e as colocar a treinar para objetivos. Mais, são necessários estímulos para além das infraestruturas e tempo para além do ensino para ajudar a criar atletas e não apenas a resgatar crianças perdidas e abandonadas à sua má sorte. Estes serão os casos mais extremos. Que dizer sobre os demais?

As universidades precisam investir em infraestruturas desportivas de qualidade, como campos de treino, ginásios, piscinas, pistas de atletismo, entre vários outros. E como os dinheiros do PRR – insisto – teriam sido importantes para, em vez de andarmos a criar cursos gratuitos que distorcem mercado, investir nessas infraestruturas!? As universidades precisam de equipamento e material desportivos modernos e que sejam mantidos.

Por seu turno, é evidente a falta de criação de programas específicos para atletas, que combinem treinos de alta performance com a flexibilidade necessária para conciliar estudos. Bolsas de estudo e outros incentivos financeiros para estudantes-atletas são absolutamente críticos.

Numa outra dimensão, a formação de equipas desportivas universitárias que participem em competições nacionais e internacionais é absolutamente fundamental. Bem como é absolutamente necessário o reconhecimento do mérito dos estudantes-atletas, tanto em termos de desempenho académico quanto desportivo.

Ah, e não esquecer o estabelecimento de parcerias com clubes desportivos e federações, possibilitando o acesso a melhores instalações e a treinadores especializados. Também a colaborações com profissionais da área da saúde é essencial para garantir o bem-estar físico e mental dos atletas.

Já agora, e a não esquecer, que tal integrar a Educação Física e a prática desportiva de forma mais profunda no currículo escolar, valorizando a importância do desporto desde os primeiros anos de ensino? E promover a formação contínua de professores e treinadores, assegurando que estejam sempre atualizados?

Trabalhar na mudança de mentalidade em relação ao desporto, promovendo uma cultura que valorize a atividade física não pode apenas ser um meio para obter medalhas, mas uma parte essencial da educação e do desenvolvimento humano. E onde está o envolvimento da comunidade académica e do público em geral em eventos desportivos, criando um ambiente de apoio e entusiasmo pelo desporto? E não é a discutir se foi ou não penálti num qualquer jogo de futebol, onde vamos apoiar a seleção ou saber qual o nosso lugar no estádio e se é ao lado de quem queremos. Todas as televisões, por exemplo, alinham pelo diapasão do disparate mais nobre, a audiência de sofá e, por conseguinte, a pior das audiências em debates futebolísticos que causam náuseas.

Sem implementar estas medidas, as universidades (e o ensino em geral) não apenas não ajudarão a criar futuros campeões olímpicos, mas, também, não contribuirão para uma sociedade mais saudável e equilibrada. A promoção do desporto deve ser vista como uma prioridade estratégica, com benefícios que vão muito além das competições e das medalhas. Mas as medalhas são e serão uma consequência do que se fizer para trás, desde pequeninos. E não, não é a cultura de ginásio para sentir que estou tonificado e bem comigo próprio. É muito mais do que isso. Muito mais que o egocentrismo (e hedonismo, diga-se) dos praticantes mais fervorosos.

Duas notas finais:

1) O meu pai, que já partiu, tinha Educação Física ao sábado no Instituto Superior Técnico. E era obrigatória. Anos 50 do século passado. E mais não digo.

2) Numa destas minhas viagens ao exterior fui capaz de visionar numa universidade chinesa uma sala com 100 mesas de ténis de mesa. Leram bem, 100 mesas. Dir-se-á que são muitos os chineses logo são necessárias 100 mesas. Mas não. Era uma universidade de média dimensão e comparável, em números, a uma das nossas universidades maiores. As mesas estavam, na sua maioria, ocupadas e os estudantes-atletas em treino. Tudo isto tem a ver com uma cultura de desporto que é necessário criar antes de querer medalhas. E eu não sou propriamente apologista do regime chinês, que fique claro.

 

A promoção do desporto deve ser vista como uma prioridade estratégica, com benefícios que vão muito além das competições e das medalhas.
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