Opinião
Sinal dos tempos
Ângela Merkel e Emmanuel Macron foram os grandes promotores do acordo que foi possível alcançar. Ou seja, uma líder democrata-cristã e um líder que não é de esquerda, salvaram a Europa de um caminho muito perigoso, que poderia pôr em causa o projeto da União.
Qual a ideologia de Macron? Alguém sabe? Alguém fala disso? Alguém organiza colóquios sobre o assunto? Praticamente ninguém. Alguém o acusa de ser extremista ou populista? Também não. É Presidente da República, tem maioria absoluta na Assembleia Nacional e mudou agora de primeiro-ministro, que em França é o número dois do Governo porque o número um é, normalmente, o próprio Presidente.
Macron vem do PS mas será socialista? Ninguém o diz nem ninguém o reivindica. Vem da banca mas será um defensor do capitalismo sem regras? Julgo que também não. Será o quê, então? Não é extremista, não é socialista, não é direitista... Será, por enquanto, um OVNI político.
Mas a verdade é que o Presidente francês, depois da contestação dos gillets jaunes apareceu com cada vez mais força. E o seu peso na União Europeia é cada vez mais determinante. Ainda agora, nestas semanas e nestes dias, o eixo Berlim-Paris foi decisivo para se obter o acordo que se tornará essencial. Desde o eclodir, em França, da pandemia, que Macron assumiu, de modo determinado, a liderança da situação.
Os tempos estão assim. As pessoas querem pouco saber das ideologias de cada um. Querem líderes com caráter, que falem e façam aquilo que é necessário para garantir a ordem e proteger, tanto quanto possível, os direitos que adquiriram.
Ângela Merkel e Emmanuel Macron foram os grandes promotores do acordo que foi possível alcançar. Ou seja, uma líder democrata-cristã e um líder que não é de esquerda, salvaram a Europa de um caminho muito perigoso, que poderia pôr em causa o projeto da União. A esquerda, pouco pode determinar. Como vão longe os tempos dos Varoufakis e como ficou fraco o Podemos, nas eleições regionais espanholas de há uma semana.
Não está tempo para lirismos nem para demagogia. Vai chegar dinheiro? Vai. Mas não vai ser para as exigências de coligações oportunistas, de obsessões ideológicas ou de grupos de demagogos. Resta saber, também, se será para um plano de recuperação económica que parece desdizer - por exemplo em matéria de investimentos públicos - várias garantias e promessas de vários dirigentes.
Vamos pois para tempos de pouca ideologia. Será o tempo em que novas aparecerão? Desde que caiu o Muro, em 1989, que se continua à espera.