Opinião
Os clubes, as SAD e os projetos
Quando, em 1995, Miguel Galvão Teles e José Roquette me convidaram para, com eles, apresentar uma candidatura às eleições do Sporting Clube de Portugal (SCP) de junho desse ano, estava em curso o início da vigência do quadro jurídico das Sociedades Anónimas Desportivas (SAD).
Era nessa condição e nesse quadro que José Roquette, bisneto do Visconde de Alvalade e há muito desejado como dirigente do Sporting, decidiu assumir um projeto com o objetivo de solidificar economicamente o clube, rentabilizar o seu património e dar condições acrescidas ao futebol profissional, bem como à área da formação. José Roquette conseguiu juntar um conjunto de notáveis sportinguistas, vários deles com posições importantes no tecido empresarial português e na vida nacional em geral: António Dias da Cunha, Manuel Alfredo de Mello, José Maria Ricciardi, Carlos Monjardino, entre outros, integraram o Conselho Fiscal. Eram nomes muito fortes que procuravam trazer para o projeto idealizado por José Roquette figuras sonantes também do sistema financeiro e que pudessem garantir a credibilidade do caminho que ia ser encetado.
Na altura, em junho de 1995, o passivo do Sporting era de cerca de seis milhões de contos (30 milhões de euros), mas referenciados no final dos mandatos de José Sousa Cintra. O projeto que se apresentou às eleições anunciava aos sócios que com a constituição de uma SAD para o futebol, e com a tal rentabilização dos ativos patrimoniais do clube, seria possível, com uma gestão rigorosa e dinâmica, conseguir fazer o Sporting entrar num novo ciclo. Como muitos se recordarão, esse projeto ficou conhecido como "O Projeto" e passou-se a falar dele a toda a hora, em todas as entrevistas, sem que vários soubessem a que é que se estavam a referir. Chegou-se àquele ponto muito costumeiro em Portugal de se passar a dizer, sem saber muito bem de que é que se estava a falar, que não se podia pôr em causa o projeto. Quem dissesse alguma coisa considerada menos admissível era logo atacado por estar a dizer algo que ia contra o projeto de José Roquette e daqueles que o acompanhavam. Passe a comparação, era um pouco a mesma lógica de argumentação, quando depois do 25 de Abril se falava na Revolução ou no PREC, não se podia pôr em causa as conquistas de abril, sem que existisse um consenso sobre o que isso significava. Só que os anos passaram e, por razões várias, os clubes que criaram as SAD, principalmente os "três grandes" não lograram alcançar o equilíbrio económico ou financeiro. Nem pouco mais ou menos! Pelo contrário, com o passar dos anos, com o Euro 2004, com a construção de estádios, nos termos impostos pelos governos da altura, o desequilíbrio económico dos clubes e o seu endividamento acentuaram-se de um modo muito significativo. Nenhum dos clubes descobriu petróleo nem o dinheiro jorra do ar, pelo que soluções muito duras tinham e têm de ser assumidas.
O SCP com o atual presidente assumiu um processo de restruturação económico-financeiro exigente, metódico e determinado, cujos resultados têm sido genericamente elogiados e reconhecidos como positivos. Com o que se passou nas últimas semanas, todas estas questões e estes diferentes projetos e processos voltam à superfície. Ao fim e ao cabo, o dilema é sempre o mesmo: como fazer a devida ponderação para o equilíbrio entre o rigor e o investimento necessário para que haja resultados e, portanto, receitas? É o que está em cima da mesa para ser debatido, analisado, escalpelizado e, tanto quanto possível, resolvido.
Advogado
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