Opinião
Os factos alternativos
Não foi a equipa de assessores de Donald Trump que inventou a teoria dos factos alternativos. Ela existe há muito. Quem é, como eu, democrata por convicção sabe que as ditaduras têm a horrível realidade da verdade única, da verdade que agrada a quem detém o poder.
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Mas sabe também que as democracias, muitas vezes, mesmo no plano dos factos, conseguem construir mais do que uma verdade. As ditaduras só aceitam uma verdade, mesmo no plano da ideologia e dos programas políticos. Levam a exigência da verdade oficial, principalmente, a esse plano. Só há uma verdade informativa, só há uma verdade histórica, só há uma verdade religiosa, só há uma verdade no mundo, a que eles aceitam. Na democracia, naturalmente, nesse plano dos programas e das ideologias, há tantas verdades quanto as crenças e as convicções de cada um. Mas o problema é que a liberdade de expressão, quando as pessoas não têm escrúpulos nem boa formação moral, leva-as a construir a sua própria verdade e tornam-se também peritas em tentar recriar a história. Por exemplo: quem, porventura, diga que Portugal, em 2004, estava à deriva, está a querer recriar a verdade histórica, para melhor dizer, a falseá-la.
O que importa é haver sentido de Estado e respeito pela pátria, que em cada momento se aceita servir. Quando se ama a pátria não se aceita mentir aos compatriotas, por muito dura que a verdade histórica seja, porventura, para cada interveniente. A dignidade está em assumir-se aquilo que se faz, bem como as respetivas consequências. Gosto sempre, nestas matérias, de citar o meu pai que partiu faz hoje (quarta) cinco anos: é tudo uma questão de categoria.
Advogado
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