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Santana questiona formação moral e escrúpulos de Sampaio

Sem nunca referir o nome do ex-Presidente que o demitiu e acusa de deixar o país à deriva, o ex-primeiro ministro lamenta que pessoas sem moral e escrúpulos usem a liberdade de expressão para reescrever a história.

Jorge Paula/Correio da Manhã
Negócios 16 de Março de 2017 às 09:30
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Santana Lopes não gostou da avaliação de Jorge Sampaio aos seus tempos como primeiro-ministro e contra-ataca num texto publicado no Negócios, no qual questiona a formação moral e os escrúpulos das pessoas que tentam "construir a sua própria verdade" e se tornam "peritas em recriar a história", dando como exemplo os que defendem que o país estava à deriva em 2004. Esta é exactamente a acusação de que o ex-primeiro-ministro foi alvo por parte do ex-presidente da República.

"Fartei-me do Santana [Lopes] como primeiro-ministro, estava a deixar o país à deriva" é até agora a frase com mais impacto mediático do segundo volume da biografia de Jorge Sampaio, que ainda não foi editada, mas que já teve alguns excertos publicados no Expresso. O ex-Presidente justifica dessa forma a decisão de demitir Santana Lopes no final de 2004, cerca de seis meses depois deste ter substituído Durão Barroso, que nesse ano trocou Portugal pelo cargo de presidente da Comissão Europeia. 

Santana já desafiou Jorge Sampaio para um debate televisivo sobre o que se passou na altura, e agora, nas páginas do Negócios, escreve um texto sobre "os factos alternativos", os benefícios de as democracias permitirem "tantas verdades quanto as crenças e as convicções de cada um", e os riscos dessa liberdade, quando usada indevidamente, como se conclui que terá sido o caso de Jorge Sampaio.

"O problema é que a liberdade de expressão, quando as pessoas não têm escrúpulos nem boa formação moral, leva-as a construir a sua própria verdade e tornam-se também peritas em tentar recriar a história", escreve, para a seguir dar um exemplo: "Quem, porventura, diga que Portugal, em 2004, estava à deriva, está a querer recriar a verdade histórica, para melhor dizer, a falseá-la".

O ex-primeiro ministro segue para defender os méritos desse ano de governo dividido com Durão Barroso: "A verdade é que Portugal nesse ano cresceu mais do que nos anos anteriores, teve um défice de 3,1% (depois de todas as correcções de anos posteriores), tinha uma maioria parlamentar estável sem a mínima quebra de disciplina de voto, tinha um primeiro-ministro confirmado no congresso do seu partido com cerca de 90% dos votos, quase não tinha greves nem manifestações". Mais, defende, "dois dias antes da dissolução, era recebido em apoteose em Trás-os-Montes".

O agora provedor da Santa Casa da Misericórdia lembra que a decisão de Jorge Sampaio coincide com a demissão de um ministro do seu governo, e questiona o que se passou desde então: "Quantos ministros se demitiram ou foram demitidos, quantas crises políticas já existiram, quantos escândalos "lesa-majestade", esses sim, já aconteceram, quantas trafulhices já se descobriram?".

Considerando que a decisão foi errada, e sugerindo que as actuais declarações de Sampaio servem para tentar justificar esse erro, Santana Lopes termina o texto distinguindo entre os que têm e não têm "categoria" para os cargos que ocupam: "Quando se ama a pátria não se aceita mentir aos compatriotas, por muito dura que a verdade histórica seja, porventura, para cada interveniente. A dignidade está em assumir-se aquilo que se faz, bem como as respectivas consequências. Gosto sempre, nestas matérias, de citar o meu pai que partiu faz hoje (quarta) cinco anos: é tudo uma questão de categoria".

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