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Memórias: Durão Barroso "fez tudo" para que Santana Lopes fosse seu sucessor

No segundo volume da sua biografia política, citada pelo Expresso, Jorge Sampaio revisita os tempos turbulentos da governação de Santana Lopes. Diz que voltaria a fazer tudo igual, contra a opinião de amigos e da sua Casa Civil, onde Santana era descrito desde "imoral" a "irresponsável".

Jorge Paula/Correio da Manhã
Negócios 14 de Março de 2017 às 09:51
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Se o tempo voltasse atrás e Jorge Sampaio se visse, de novo, a ter de decidir o que fazer com um primeiro-ministro (Durão Barroso) demissionário e um amigo (Ferro Rodrigues) a clamar por eleições antecipadas, o ex-presidente da República teria feito tudo igual. Teria dado posse a Pedro Santana Lopes, apesar de todos os avisos sobre a sua personalidade, e, meses mais tarde tê-lo-ia demitido na mesma, abrindo espaço à maioria absoluta de José Sócrates. A decisão "difícil e solitária" fê-lo sofrer mas era a única possível, até pela forma como Durão Barroso geriu a sua saída: "Estou convencidíssimo que ele tinha um compromisso com Santana e que estava tudo combinado entre eles – pelo menos tudo fez para que ele fosse o seu sucessor", conta Sampaio no segundo volume da sua biografia política, que foi parcialmente resumida pelo jornal Expresso.

 

Segundo o relato do semanário, Jorge Sampaio conta que Durão Barroso só aceitaria ir para a Comissão Europeia se não houvesse eleições antecipadas. Sampaio, à altura no seu segundo mandato, que durou entre 2001 e 2006, tenta persuadir Manuela Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa para o cargo, mas "ninguém quis e fiquei com a criança nos braços e num beco sem saída, porque o dr. Barroso ia fazendo várias ameaças: que fazia disto uma crise, que ficava cá e ia disputar as eleições, etc".

O ex-Presidente da República diz-se convencidíssimo de que Barroso "tinha um compromisso com Santana e que estava tudo combinado entre eles – pelo menos tudo fez para que ele fosse o seu sucessor." Apesar da pressão do PS, e apesar da posição maioritária dos seus conselheiros, Jorge Sampaio tomou a decisão de empossar Santana Lopes, porque, naquela altura, PSD e CDS tinham "todas as condições políticas e constitucionais para continuar a governar de forma estável em termos parlamentares".  É isto que "muitas pessoas não quiseram perceber e continuam a não perceber" e é por isso que Sampaio "hoje voltaria a fazer o mesmo", segundo citações do Expresso.

 

De pé atrás em relação ao primeiro-ministro, Sampaio segue de perto a acção governativa desde a primeira hora. Condiciona a formação do Governo (o Expresso recorda que ele vetou nomes como Paulo Portas, Fernando Negrão e José Luis Arnaut para o Executivo), cancela férias e vê os acontecimentos a precipitarem-se muito rapidamente até "descambarem na confusão".

 

"Irresponsável", "instável", "errático" e "imoral": retratos de Santana

O rol de episódios é longo, e, por essa altura, já a sua Casa Civil insistia na necessidade de afastar Santana Lopes do cargo, com adjectivos fortes que dão conta do desnorte que se tinha instalado no Governo.

Para Carlos Gaspar, "[Santana] é muito irresponsável e instável". Segundo Salgado de Matos, o então primeiro-ministro "ou ensandeceu ou quer eleições antecipadas". João Bonifácio Serra dizia que "O principal problema é a sua personalidade e desequilíbrio".  O General Faria Leal dizia-o "propenso a acidentes" e que o Governo "está sempre metido em complicações". Já Nuno Brederode Santos considerava Santana "errático, irresponsável e imoral com zero sentido de Estado".

 

Jorge Sampaio conta que ainda hesita, ouve posições de empresários e de Vítor Constâncio (à data governador do Banco de Portugal) e "decidi rapidamente. Isto não ia a parte nenhuma. Era preciso uma nova legitimidade democrática. Era preciso uma ruptura. A maioria estava a desfazer-se e já era altamente discutível que tivesse legitimidade política. Tomei a decisão praticamente de um dia para o outro, mas já a vinha a congeminar há uns tempos".

 

Ao convocar eleições antecipadas Sampaio tinha a noção de que corria riscos: "Se o povo se pronunciasse contrariamente ao que eu supunha, paciência! Mas ficaria sempre muito diminuído e enfraquecido nas minhas capacidades e poderes", conta no livro, da autoria do jornalista José Pedro Castanheira. Mas o povo daria maioria absoluta a José Sócrates. 

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