Opinião
O que faltará?
Aquelas imagens em que ambos vão a caminhar e Donald Trump segue adiante, não espera para ir ao lado de Isabel II e, mais do que isso, coloca-se em frente - de costas - da sua anfitriã, é absolutamente inaceitável.
Nota: Este artigo está acessível, nas primeiras horas, apenas para assinantes do Negócios Primeiro.
O que se passou na mais recente visita de Donald Trump à Europa foi uma vergonha:
É absolutamente inacreditável o seu comportamento com a Rainha de Inglaterra. Seja-se, ou não, monárquico, trata-se de uma chefe de Estado que, antes do mais, é uma senhora de 93 anos. Como é possível um país de tão bonitas tradições que teve tantos cavalheiros na presidência, seja representado por alguém assim?
Aquelas imagens em que ambos vão a caminhar e Donald Trump segue adiante, não espera para ir ao lado de Isabel II e, mais do que isso, coloca-se em frente - de costas - da sua anfitriã, é absolutamente inaceitável. Se uma qualquer pessoa tivesse tal comportamento dela se diria que tinha agido como um verdadeiro carroceiro. A um chefe de Estado não se deve nem se pode chamar isso. Mas que causa indignação, sem dúvida.
Nessa visita ao Reino Unido foi dizendo disparates sem fim, proferindo grosserias sem qualquer justificação. Como sempre, disse e desdisse várias vezes, principalmente, afirmações sobre Teresa May. Cometeu variadíssimas ingerências nos assuntos internos do Reino Unido, nomeadamente sugerindo a Teresa May que processasse a União Europeia. Os seus anfitriões vão-no sucessivamente poupando às respostas que merecia, mas obviamente que não é nada indiferente nas relações entre Estados. Em minha opinião, justificar-se ia que o Foreign Office fizesse sentir o desagrado do Governo de Sua Majestade junto das autoridades norte-americanas.
O problema é que Trump vai acumulando deselegâncias e faltas de respeito e cada país que visita ou cada reunião em que participa, tem palavras ou atitudes que deveriam dar azo a protestos diplomáticos. Isto para não falar das pessoas que recebe na Casa Branca. Lembram-se do que disse do chefe de Governo do Canadá, depois da cimeira do G-20? Lembram-se do modo como ignorou o estender de mão da senhora Merkl, numa visita a Washington? Para não falar nas considerações que teceu sobre a Alemanha e o Governo da chanceler, na recente Cimeira da Nato.
Ele gosta é dos inimigos. A esses, trata ele, normalmente, bem. Veja-se o caso do presidente da Coreia do Norte e, agora, de Putin. Disse Trump que o seu melhor encontro nesta viagem tinha sido com o presidente russo.
À conta do que disse e não disse nessa reunião de Helsínquia, os seus próprios parceiros do Partido Republicano têm-lhe chamado tudo. Até em traição têm falado.
É uma tristeza estarmos entregues em parte considerável, a uma pessoa de tal formação e com tais comportamentos. Ofende, calunia, agita, perturba, desrespeita, faz e desfaz, diz e desdiz, ameaça e desmente, avança e recua.
Lamento profundamente, mas o que faltará para um impeachement ser despoletado?
Todos os que temos especial orgulho nos históricos laços com o nosso tão importante aliado, os EUA, temos muita pena do que se está a passar. Tenho tentado descobrir pontos positivos em Donald Trump e ainda recentemente elogiei a sua prestação na conferência de Imprensa que se seguiu à cimeira de Singapura. Mas é demais.
Advogado
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico