Opinião
Contratos, evidências e segredos
Não se pretende golpe algum nem afastar o PS do Governo. Trata-se de bom senso e de uma proposta a pensar no que é melhor para Portugal e para os portugueses.
1. Ontem foi noticiado que a União Europeia começa a ponderar comprar vacinas a outros fornecedores, noutros países. E deu-se o exemplo, nomeadamente, da Rússia.
Há várias semanas que defendi, neste espaço, por mais que uma vez, essa linha de ação https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/pedro-santana-lopes/detalhe/nem-se-atrevam . O importante é massificar a vacinação. Sei que não bastam espaços e que também são precisos recursos humanos. Mas agora que se passou para a fase dos centros de saúde, o que impede que se considerem os grandes espaços, nomeadamente pavilhões desportivos, a funcionarem pelo menos 16 horas por dia? Claro que é preciso comprar. Mas aí é seguir o exemplo israelita. Comprar mesmo caro. O que está em jogo vale a pena. Como escreveu a competente e conhecedora europeísta Teresa de Sousa, a União Europeia esteve mal ao querer poupar https://www.publico.pt/2021/01/31/opiniao/opiniao/uniao-europeia-quis-poupar-vacinas-colher-semeou-1948638. Como disse Joe Biden, mal tomou posse, a prioridade é vacinar porque estamos em guerra e tem de se derrotar o vírus. Por isso, há que mobilizar todos os meios e assumir como prioridade cimeira. Assim devem fazer todos os governos, incluindo obviamente o nosso. Eles vão vacinar 100 milhões em 100 dias. Alguém duvida de que vão conseguir? Nós temos também de mobilizar todos os recursos e o próprio Comandante Supremo das Forças Armadas deve ser o primeiro a mostrar, na palavra e na ação, essa mobilização nacional. É a maneira de resolver a situação mais depressa para, logo que possível, começar a recuperação económica.
2. Ao defender um Governo de emergência nacional não estou a defender Governo de iniciativa presidencial. Defendo essa solução, por entender que a hora é de coesão nacional e constatando que os outros países da UE têm todos essa realidade, elementar numa altura como a que se vive: Governos com maioria estável no Parlamento. Certo que há o caso de Itália, mas o sistema partidário italiano sempre foi um caso à parte: 66 governos em 75 anos. E também sei que há estabilidades de diferentes tipos. Por exemplo, a espanhola é algo que não se deseja, com o presidente do governo a defender a monarquia e o segundo vice-presidente, líder do Podemos, "a puxar" para a república. Isto, entre várias diferenças importantes como, por exemplo, a de se comparar, ou não, Puidgemont com as vítimas da Guerra Civil.
Mas governo com apoio maioritário garantido não exige obrigatoriamente que outros partidos entrem no governo. Deviam entrar, com respeito pelos resultados eleitorais e sem exigir outro primeiro-ministro. O que importa é unir e não dividir. E não é um governo ou acordo de bloco central. O que se defende é uma base mais alargada. Li, por exemplo, Vital Moreira, que disse ser esta proposta um estratagema da direita golpista para voltar ao poder. Espero que esta explicitação tranquilize quem pensa assim, que não se pretende golpe algum nem afastar o PS do Governo. Trata-se de bom senso e de uma proposta a pensar no que é melhor para Portugal e para os portugueses. Como nos outros países europeus, um Governo, nestas circunstâncias, não se pode distrair com permanentes negociações parlamentares e desvirtuar as medidas necessárias e que se imponham para o bem coletivo, só por ter de fazer cedências conjunturais para assegurar a sua continuidade. E era um exemplo para o país: tudo junto, pondo as diferenças de lado. É básico. E mais: os guardiões de Belém que não tenham medo, o Presidente não fica com menos poder. Marcelo é Marcelo e teve a vitória que teve. Não há maioria que o limite.
3. Anda para aí uma grande polémica sobre o secretismo, ou não, de um relatório sobre a atuação do Banco de Portugal, no caso BES. Secreto, porquê? Num mundo como o de hoje em que não há segredos de nada? Se fossem relatórios de serviços secretos em que estivesse em causa a segurança nacional... Agora um relatório sobre a atuação de um banco central?
Não se entende.