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22 de Maio de 2022 às 21:24

Novo líder do PSD tem pela frente um inferno e uma oportunidade

As notas de Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC. O comentador fala sobre a pandemia, a guerra na Ucrânia, novidades no Orçamento e as eleições no PSD.

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O ESTADO DA PANDEMIA

 

  1. O estado da pandemia volta a suscitar a atenção dos portugueses. Vale a pena ver como estamos hoje em comparação com a situação de há um ano:
  • Novos casos: na semana 10-16 de Maio de 2021, tivemos 2.600 novos casos. Na semana homóloga deste ano tivemos 157.502.
  • Óbitos: na mesma semana de 2021, tivemos 15 óbitos. Um ano depois, na semana homóloga, tivemos 191 óbitos.
  • Internamentos: há um ano, em 17 de Maio, tínhamos 246 doentes internados. Um ano depois, igualmente a 17 de Maio, tivemos 1.450 pessoas internadas.
  • Doentes em UCI: em 2021, no mesmo dia 17 de Maio, tínhamos 72 doentes em UCI. Um ano depois, tivemos 84.

 

  1. Aqui chegados, há três comentários a fazer:
  • Primeiro: a situação não é preocupante, porque os novos casos não são especialmente graves. Mas exige atenção e cuidado. A máscara deixou de ser obrigatória, mas é recomendável que seja usada em múltiplas ocasiões.
  • Segundo: este momento requer comunicação. Comunicação sóbria e eficaz. E não tem havido. Um exemplo: antigamente, a DGS dava informação diária da pandemia. Um exagero. Agora só dá uma vez por semana. Outro exagero. Nem 8 nem 80. Talvez fosse conveniente dar informação duas, três vezes por semana.
  • Terceiro: é preciso lançar uma campanha nacional de recomendação de uso de máscara em locais fechados, perante aglomerados de pessoas, e sempre que se esteja perante pessoas vulneráveis (idosos). Esta pedagogia é essencial e a DGS deve fazê-la.

 

 

COSTA EM KIEV

 

  1. O PM foi à Ucrânia e esteve bem. Reafirmou a solidariedade do povo português. Disponibilizou mais apoio humanitário e maior apoio militar. Surpreendeu com o anúncio de um apoio financeiro de 250 milhões de euros. E reforçou o apoio de Portugal a uma futura ligação da Ucrânia à UE, tenha ela a forma que tiver.

 

  1. Nesta questão da eventual entrada da Ucrânia na UE, o PM esteve francamente bem: foi franco e foi genuíno. Não foi hipócrita.
  • A verdade é esta: anda muita gente na UE a mentir à Ucrânia. A prometer uma adesão da Ucrânia à UE a curto prazo, o que dificilmente irá suceder.
  • Nesta matéria, a UE está profundamente dividida. Há vários países, sobretudo países de Leste e Báltico, que querem uma adesão imediata. E há vários países da "velha" Europa, com a França à cabeça, que têm profundas objeções.
  • Neste quadro, é preferível dizer a verdade. Não enganar nem iludir os Ucranianos. Não gerar falsas expectativas. Até porque é possível apoiar a Ucrânia, designadamente na sua futura recuperação, mesmo que não seja por via da adesão imediata.

 

  1. Finalmente, o menos positivo. Eu preferia não ter visto o PR antecipar o anúncio da ida do PM a Kiev. Como gostava que não tivesse sido o PM a anunciar publicamente o convite para o PR português visitar a Ucrânia. Não é por questões de violações de segredos de Estado ou de segurança. É por uma outra razão: PR e Governo são dois órgãos de soberania distintos. Não é bom para a democracia que o PR seja "porta-voz" da agenda do PM; nem que o PM seja "porta-voz" da agenda do PR. Cada coisa no seu sítio certo.

 

 

TRÊS MESES DE GUERRA

 

Faz terça-feira três meses que a guerra começou. Em três meses tudo mudou. No Mundo, na UE, na Rússia e na Ucrânia. Até mudou a natureza da guerra. Vejamos os principais destaques:

  1. GUERRA POR PROCURAÇÃO? Começou por ser uma guerra da Rússia contra a Ucrânia. Hoje, é uma guerra entre a Rússia e o Ocidente. No início, o Ocidente não acreditava na derrota russa. Os EUA até "ofereceram" asilo a Zelensky. Hoje o Ocidente acredita e quer a derrota de Putin. A natureza da guerra mudou!

 

  1. PUTIN NUM BECO SEM SAÍDA? Ao fim de três meses, a única vitória russa relevante é a conquista de Mariupol. A Rússia perdeu em Kiev e em Kharkiv. A situação está estagnada no Donbass. Entretanto, o Kremlin perdeu politicamente com o futuro alargamento da NATO. No mundo, Putin está mais isolado do que nunca. Ninguém imaginava há 3 meses que isto pudesse suceder.

 

  1. EMBARGO AO PETRÓLEO RUSSO. Há semanas que a UE discute o 6º pacote de sanções. Há 4 países contra: Hungria, Eslováquia, República Checa e Bulgária. O acordo passará por períodos de transição para esses países. E por um pacote de fundos estruturais (para oleodutos, renováveis e eficiência energética). Eis a grande fragilidade da União: a dependência energética da Rússia.

 

  1. CHINA GANHA OU PERDE? No curto prazo perde. Pela ambiguidade política e pelos efeitos negativos da guerra na sua economia. No médio prazo tem muito a ganhar. A Rússia vai ficar dependente da China. E esse é o maior activo da China.

 

 

 

 

NOVIDADES NO ORÇAMENTO

 

  1. Esta será a semana da discussão e aprovação final do OE para 2022. Vamos ter algumas alterações. Eis algumas das novidades que vão surgir esta semana:
  • O OE vai acolher todas as principais reivindicações da ANMP;
  • O OE vai aumentar para o dobro a capacidade de endividamento das autarquias para obras cofinanciadas pela UE;
  • O valor de 20 mil euros por escola a transferir para os municípios passa para o valor médio de 29.700€ (igual à Parque Escolar);
  • O OE vai aceitar várias exigências do PSD/Madeira (um exemplo: a extensão até 2023 das licenças na Zona Franca da Madeira);
  • As negociações com Livre e PAN podem dar acordo com vista à abstenção no OE;
  • As metas do défice e da dívida não terão alteração;
  • Os salários e pensões não terão atualização face à inflação.

 

  1. Daqui se podem retirar algumas conclusões políticas:
  • Primeiro, o Governo está a tentar exibir uma imagem de abertura e diálogo. O objectivo é tentar a abstenção do Livre, do PAN e até, se possível, dos deputados do PSD/Madeira. Tudo para evidenciar que o OE não se esgota na maioria absoluta do PS.
  • Segundo, a opção por uma forte redução do défice e da dívida é uma opção correcta. Em tempo de instabilidade internacional, esta é uma boa "válvula de segurança" de Portugal face aos mercados.
  • Terceiro, a opção pela não actualização das pensões mais baixas face à inflação já me parece uma opção errada. Os reformados com pensões baixas não geram surtos inflacionistas. E, sem atualização, vão ter uma redução do valor real das suas pensões.

 

 

AS ELEIÇÕES NO PSD

 

  1. É já no próximo sábado que é eleito o novo líder do PSD. Apesar de o país ter passado ao lado desta campanha, o que vai suceder é relevante: é a escolha do novo líder da oposição. Luís Montenegro ou Jorge Moreira da Silva? Ninguém sabe. Mas é possível antecipar uma realidade curiosa: a vida do novo líder do PSD vai ser simultaneamente um inferno e uma oportunidade:
  2. Um inferno: porque o novo líder não tem lugar na AR, onde estão os outros líderes; porque a direita está muito fragmentada (onde antes havia um partido à direita do PSD, agora há dois e em crescendo); porque muitos anos de oposição geram desmobilização e desertificação.
  3. Uma oportunidade: porque o PSD vai finalmente unir-se (ganhe quem ganhar, vai fazer o "rassemblement" do PSD e chamar o seu adversário a colaborar); porque o Governo vai começar nos próximos anos a acusar o desgaste de muitos anos de poder; porque se espera que o PSD faça finalmente oposição, o que já não sucede há bastante tempo.

 

  1. Neste novo ciclo, o líder deve ter três preocupações essenciais:
  • Primeira, ganhar eleições europeias. Sem as ganhar é mais difícil construir a ideia de alternativa para 2026. E eleições europeias a meio de um mandato legislativo são sempre difíceis para o partido do governo.
  • Segunda, ganhar autoridade política. O PSD nos últimos anos não se deu ao respeito. Por isso deixou de ser respeitado. Quem vencer tem de reforçar a sua autoridade política para impor a centralidade do PSD.
  • Terceira, a preocupação de "conquistar" novos quadros. O partido foi durante décadas o partido com melhores quadros em Portugal. Em todos os domínios. Mas deixou de ser. Tem de "reconquistar" agora esse estatuto.

 

 

 

A INDEPENDÊNCIA DE TIMOR-LESTE

 

  1. Um dos mais jovens países do mundo fez esta semana 20 anos. E o mais curioso é que há algumas semelhanças fortes entre o que se passa hoje na Ucrânia e o que se passou em Timor-Leste.
  • Primeiro, também Timor-Leste foi alvo de violenta agressão. Desta feita, por parte da Indonésia.
  • Segundo, quando a Indonésia invadiu Timor também se pensava que era um conflito desigualDavid contra Golias. Parecia impossível a Indonésia não vencer.
  • Terceiro, tal como sucede na Ucrânia, também em Timor-Leste a resistência surpreendeu e superou todas as expectativas.
  • Finalmente, tal como sucede com a guerra na Ucrânia, também no caso da agressão da Indonésia a mobilização da opinião pública internacional foi essencial para a vitória da causa timorense.

 

  1. Neste momento de merecida celebração é justo enaltecer algumas personalidades que tiveram um contributo de mérito para a causa timorense:
  • Em Portugal, sobretudo Durão Barroso, Ana Gomes, António Guterres e Jorge Sampaio.
  • Pelo lado timorense, sobretudo Xanana Gusmão, Ramos Horta e o Bispo Ximenes Belo.
  • No plano internacional, o massacre de Santa Cruz, que relançou a causa timorense e isolou a Indonésia; e o Presidente Bill Clinton que mudou a orientação dos EUA e foi decisivo no fim do conflito.
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