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21 de Fevereiro de 2021 às 21:42

Marques Mendes: Se nada for feito nas moratórias, podemos ter um “buraco” sério

As habituais notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre o estado da pandemia, as eleições autárquicas e a bazuca europeia, entre outros temas.

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O ESTADO DA PANDEMIA

 

  1. Depois da tempestade, começa a chegar a bonança. Os números não mentem.
  2. Número de infetadosObjectivo a atingir para desconfinar: 2.000 infetados/dia. Na semana passada tínhamos 2906/dia; esta semana já estamos nos 1681/dia. Abaixo do objectivo.
  3. Número de internadosObjectivo a atingir para desconfinar – 1.500 internados. Na semana passada tínhamos 5531; esta semana temos 3922.
  4. Número de doentes em UCIObjectivo a atingir para desconfinar – 200. Na semana passada tínhamos 839; esta semana temos 701.

Conclusão: o confinamento está a resultar. Mas ainda estamos longe de atingir os objectivos dentro dos hospitais (internados e UCI).

 

  1. Quando começamos a desconfinar? Até meados de Março é impossível. Temos mais três semanas de confinamento. A partir daí pode haver um problema sério. Se a meio de Março o objectivo definido for alcançado, como é que o Governo justifica que não se comece a desconfinar? Com os alunos em casa a arruinarem a sua aprendizagem? Com a economia a sofrer? Com a pobreza a aumentar? Com a falta de apoios que grassa? O Governo tem de explicar.

 

  1. No entretanto, no melhor pano cai a nódoa: na quarta-feira Mariana Vieira da Silva, a Ministra, disse que ainda não é tempo de falar de desconfinamento. Ontem, a mesma Mariana Vieira da Silva, militante do PS, falou de desconfinamento para dizer que começará pelas escola Afinal, deve levar-se a sério a Ministra ou a militante do PS? Numa coisa ela tem razão: o desconfinamento tem de começar pelas escolas.

 

  1. Mas só podemos desconfinar se houver alternativa – a testagem e o rastreio. Mas aí estamos mal. O Governo prometeu reforçar o número de testes. A DGS até falou em 100 mil testes/dia. Apesar disso, o número de testes baixo. Estamos a ter, apenas, 31 mil testes/dia. Há duas semanas tínhamos o dobro. Afinal, a propaganda é uma coisa. Os factos são outros.

 

 

  1. Vacinação – Nada de novo. Estamos a vacinar ao nível dos demais países da UE. E continuamos com falta de vacinas. A única novidade não é boa – para aqueles que "sonhavam" com a hipótese da vacina chinesa ou russa, as hipóteses são nulas. A primeira, nunca chegou a ser solução. A vacina russa, essa, chegou a ser ponderada em Bruxelas. Havia abertura para a considerar. Depois da visita do Sr. Borrel a Moscovo, a hipótese gorou-se por razões políticas.

 

 

APOIOS SOCIAIS

 

  1. Agora, a pandemia económica e social. Aqui, há boas decisões, más noticias e preocupações para o futuro:
  2. Boa decisão: a decisão relativa ao pagamento aos pais que acompanham os filhos em casa. Pode ter sido uma decisão tardia. Pode ter sido tomada por pressão do PCP/BE. Podia abranger também os alunos do segundo ciclo. Mas não deixa de ser uma boa decisão.
  3. Má notícia: os atrasos inexplicáveis do Estado no financiamento da chamada educação especial (apoio a crianças e jovens com problemas de aprendizagem). Primeiro, há processos de apoio a crianças necessitadas que aguardam há mais de 6 meses uma decisão de autorização; segundo, em processos já autorizados há dívidas da Segurança Social desde Setembro de 2020; terceiro, mesmo em relação ao ano lectivo anterior, há pagamentos ainda em atraso em relação a Abril, Maio e Junho de 2020. Esta insensibilidade social não é aceitável.

 

  1. Mas o que mais preocupa é o futuro. Continua a faltar planeamento:
  • MoratóriasO que está a ser feito para evitar problemas quando acabarem as moratórias, em Setembro? Aparentemente NADA. Se nada for feito, podemos ter um "buraco" sério.
  • Turismo O que é que está a ser pensado para recuperar a imagem do país em termos internacionais depois desta 3ª vaga pandémica?
  • Empresas As nossas empresas estão altamente endividadas. Com capitais próprios muito abaixo do que é normal nos EUA ou na UE. Não conseguem investir e crescer. O que é que está a ser preparado para as capitalizar? O que está no PRR é pífio. Ataca-se com uma fisga um problema que precisa de uma bazuca!

 

 

A BAZUCA EUROPEIA

 

  1. Está em debate público o plano para aplicar a chamada Bazuca Europeia – 13,9 mil milhões de euros a fundo perdido. Onde é que o Governo se propõe gastar este dinheiro? Sobretudo em três grandes áreas:
  • Pilar de Resiliência – 8,5 mil milhões Euros (61% do total), com investimento no Sector Social; no Sector Produtivo; na Competitividade e Coesão.
  • Pilar da transição climática – 2,8 mil milhões Euros (21% do total), com investimento na Mobilidade Sustentável; na Descarbonização e Economia Circular; na Eficiência Energética e Renováveis.
  • Pilar da transição digital – 2,5 mil milhões Euros (18% do total), com investimento na Escola digital; nas Empresas 4.0; na Administração Pública.

 

  1. Este plano é bem-vindo. Mas tem, pelo menos, três grandes problemas:
  2. Falta de ambição: Qual é a nossa grande urgência? Crescer mais que os Países de Leste, que são os nossos competidores directos e que nos estão a ultrapassar no ranking Europeu. Só que o objectivo do Governo não é esse. O governo só quer crescer ao nível da media europeia. À primeira vista, parece bom e bonito. Na prática é um desastre. É que Polónia, Hungria, Eslováquia, Letónia e Roménia crescem mais que a média europeia e estão prestes a ultrapassar-nos. Se não os acompanhamos, perdemos. Por este andar, dentro de poucos anos somos um dos cinco Países mais pobres da UE.
  3. Visão estatizante Outro pecado capital do PRR. Neste plano, há Estado a mais e Sociedade a menos. Isto não parece um Plano de Recuperação do País. Parece um plano de recuperação do Estado. Parece um adicional ao OE. É um Plano profundamente  desequilibrado contra as empresas. E são as empresas que criam riqueza.

 

  1. EmpréstimosO Governo pode utilizar até 15 mil milhões de euros de empréstimos que a UE põe à sua disposição. Mas só vai utilizar 2,7 mil milhões. Porquê? Porque temos uma dívida pública muito alta e o Governo tem medo de agravar a situação. A lição a tirar é esta: andámos anos a agravar o défice e a dívida com despesa corrente e agora não podemos usar dinheiro que era essencial para investir. Os erros pagam-se caro.

 

 

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

 

As eleições autárquicas começam a "mexer". E vão mexer ainda mais. Desde logo porque vão ser decisivas para avaliar se a seguir vamos ter ou não ter uma crise política. Estas eleições são um risco para o PCP, um problema para o PS, uma oportunidade para o PSD.

 

  1. Um risco para o PCPDesde que há geringonça, o PCP está sempre em queda. Perde de eleição em eleição. Se volta a perder autarquias este ano, entra num "buraco negro". Se pudesse, o PS oferecia meia-dúzia de Câmaras ao PCP, de mão beijada, só para salvar a geringonça e para se salvar a si próprio.

 

  1. Um problema para o PS O PS precisa de voltar a ganhar esta eleição. Se perder ou tiver uma queda grande, António Costa pode ficar igual a António Guterres há 20 anos. É o fantasma do pântano e da crise. Claro que o PS tem uma folga grande mas vai disputar eleições num ambiente desfavorável.

 

  1. Uma oportunidade para o PSDO PSD teve há quatro anos o seu pior resultado autárquico de sempre. Fazer pior agora é impossível. Tem, pois, uma enorme oportunidade de crescer. Mas, para ter sucesso, não chega ganhar mais duas ou três Câmaras – tem que ganhar umas quinze, vinte ou mais. Para isso, o PSD precisa de ter candidatos fortes e credíveis, sobretudo nas grandes cidades, como Lisboa e Porto. Se tiver candidatos fortes, sobretudo em Lisboa e no Porto, o PSD parte para a eleição com uma dinâmica de vitória. Se não tiver, parte derrotado.

 

 

RUI RIO E RUI MOREIRA EM CONFRONTO

 

  1. Numa entrevista à Rádio Observador, Rui Rio abriu uma polémica política com o Presidente da CM do Porto. A primeira conclusão a tirar é simples: o único que tem a ganhar com esta polémica é Rui Moreira. Mostra que está forte, que está de pedra e cal, que todos o temem, e que os partidos – neste caso o PSD – têm muita dificuldade em derrotá-lo.

 

  1. Para o PSD nada disto é bom. O líder do PSD dá uma entrevista para assinalar três anos de liderança e qual é a mensagem que sai para o exterior? Uma ideia nova? Uma causa alternativa? Uma crítica ao PM? Não. A mensagem que passa é a de um conflito com dois Presidentes de Câmara. Isto não é uma boa imagem. É um erro.
  2. Primeiro: O adversário do líder da oposição é o PM. Não são os autarcas. Ele está a concorrer para ser PM. Não para ser autarca.
  3. Segundo: Sempre que o líder da oposição distrai as atenções da governação deixa o PM à solta. Mau para a oposição, mau para a democracia.
  4. Terceiro: É uma completa inversão de prioridades. O que o PSD mais precisa de fazer é mostrar diferenças em relação ao Governo. Ao fim destes anos, a generalidade dos portugueses não percebe quais são as diferenças essenciais entre PS e PSD. Não sei se a falha é na política ou na comunicação. Ou nas duas ao mesmo tempo. O que sei é que o PSD precisa de mais trabalho, melhor trabalho, trabalho focado no essencial e não no acessório.

 

 

A POLÉMICA COM O PRESIDENTE DO TC

 

  1. É uma polémica sem sentido. Goste-se ou não se goste das ideias, do estilo e da linguagem do Prof. Caupers, ele tem direito a ter aquelas ideias, aquele estilo e aquela linguagem. Como qualquer um de nós tem o direito a concordar, a discordar ou a criticar. Vivemos em liberdade e democracia. Não no tempo da inquisição. Nem no regime do pensamento único.

 

  1. Lamentável é a atitude dos que exigem que ele se retrate, se demita ou vá explicar-se à AR:
  2. Retratar-se de quê? Seria pior a emenda que o soneto! Uma pessoa de carácter assume as suas ideias;
  3. Demitir-se porquê? Então em Portugal uma pessoa é "corrida" por delito de opinião? Onde está o Estado de direito?
  4. Ir ao Parlamento? Então os Senhores Deputados não sabem que os Tribunais são independentes? Não sabem que um Tribunal não é uma Direcção-Geral ou uma empresa pública? Será preciso fazer um desenho?
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