Opinião
Marques Mendes: Se houver um pico pandémico em meados ou fim de janeiro, o PS pode ser penalizado nas eleições
No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre as medidas sobre a pandemia e o plano para a TAP, entre outros temas.
MEDIDAS SOBRE A PANDEMIA
- Há quem diga que o Governo tomou as medidas que tomou porque está muito preocupado com a Ómicron. Outros dizem que o Governo está é preocupado com as eleições. Eu acho que são as duas coisas ao mesmo tempo:
- Primeiro: o Governo está preocupado com o Ómicron. E tem razão. Este tsunami de novos casos assusta qualquer governo. E nunca se sabe o efeito que terá dentro dos hospitais. É melhor prevenir que remediar.
- Segundo: o Governo está preocupado com as eleições. Se houver um pico pandémico em meados ou fim de Janeiro, o PS pode ser penalizado nas eleições. Por isso, está assustado e a tentar fazer tudo para evitar um desastre eleitoral. É normal. Qualquer outro Governo faria o mesmo. Sobretudo depois do que sucedeu no Natal do ano passado.
- Posto isto, há que dizer duas coisas:
- As medidas anunciadas são bastante equilibradas. E, se as compararmos com o que se passa pela Europa fora, então são mesmo muito equilibradas. São o mínimo dos mínimos.
- Depois, é preciso garantir que os apoios cheguem a tempo e horas às pessoas e sectores afectados. O que normalmente não acontece. Ou chegam fora de horas ou não chegam mesmo. Os "suspeitos" do costume já estão fartos de tanta penalização – a cultura, os bares, as discotecas e as famílias com crianças que não têm nem escola nem ATL.
VACINAÇÃO – UM ANO DEPOIS
- Faz amanhã um ano que se iniciou o processo de vacinação. A vacinação fez "milagres". Os dados mais surpreendentes são aqueles de que menos se fala – a relação entre vacinados e não vacinados nos internamentos e nos óbitos. Vejamos a diferença, a partir de dados oficiais (DGS e INSA):
- Internamentos de pessoas com 80 ou mais anos: em Outubro ( últimos dados disponíveis), 65% dos internados nesta idade não estavam vacinados. Só 35% tinham a vacinação completa. Ou seja: em cada 6 pessoas internadas, apenas 2 estavam vacinadas. Uma relação de 2/3 para 1/3.
- Internamentos de pessoas entre os 50 e os 59 anos: em Outubro, 86% dos internados nesta idade não estavam vacinados. Só 14% tinham a vacinação completa. Ou seja: em cada 6 pessoas internadas, só 1 estava vacinada.
- Óbitos de pessoas com 80 anos ou mais: das pessoas que morreram de Covid no mês de Novembro (últimos dados disponíveis), só 33% estavam vacinadas. Cerca de 67% não estavam vacinadas. Ou seja: em cada 10 óbitos, só 3 pessoas estavam vacinadas.
- Óbitos de pessoas na faixa entre os 50 e os 59 anos: das pessoas que morreram de Covid no mês de Novembro, só 11% estavam vacinadas. Cerca de 89% não estavam vacinadas. Ou seja: em cada 10 óbitos, só uma pessoa estava vacinada.
- O que estes dados provam é que a vacinação conta. Quem estiver vacinado está muito mais protegido. Quem não tiver vacinação completa corre mais o risco de ir parar aos hospitais ou até morrer.
- Finalmente, falamos muito de infetados. E cria-se um ambiente alarmista. Mas depois da vacinação, o que se devia falar era, sobretudo, de internamentos e óbitos. É o que conta para ver se temos ou não a situação controlada. Vejamos:
- Temos hoje mais do dobro de infetados de há um ano. Mas o que conta é que temos 3 vezes menos internados do que há um ano; e temos 6 vezes menos mortes do que há um ano.
O PLANO PARA A TAP
- A aprovação do plano de reestruturação da TAP é, no curto prazo, uma vitória do Governo e, em especial, do Ministro Pedro Nuno Santos:
- Vitória do Governo (estiveram envolvidos neste processo, pelo menos, o Ministro das Infraestruturas e o Secretário de Estado do Tesouro). Porquê?
- Primeiro, porque o Plano de reestruturação foi aprovado. Se tivesse sido recusado, seria uma derrota colossal do Governo.
- Segundo, porque o plano foi aprovado como o Governo queria. As concessões são reduzidas e a TAP não passa a TAPzinha;
- Terceiro, porque o plano foi aprovado antes das eleições. Se até 30 de Janeiro não houvesse plano aprovado, seria um pesadelo para o Governo. Assim, é um alívio.
- Vitória de Pedro Nuno Santos: esta decisão dá credibilidade e estatuto ao Ministro. É o Ministro que enfrenta situações difíceis; que tem coragem; que dá a cara; que resolve problemas. Para quem quer suceder a António Costa, esta decisão é um certificado de credibilidade.
- Quanto ao futuro, veremos: temos, já no início de 2022, a contratação de um empréstimo de 360 milhões de Euros. Diz-se que será um empréstimo obrigacionista. Ou contratado na banca internacional. Nem uma coisa nem outra. Será um empréstimo contratado com um Sindicato Bancário Nacional.
- Quanto ao médio prazo, é prudente esperar para ver. Bons planos no papel é o que mais temos. O problema está na execução. Por isso, uma sugestão: o Governo faria bem se nomeasse desde já uma comissão independente encarregue do acompanhamento da execução deste plano de reestruturação. É preciso escrutinar para não falhar.
GOUVEIA E MELO NA ARMADA
- Toma posse amanhã como novo CEMA o Almirante Gouveia e Melo. Quanto à escolha nada a opor. Só merece saudação e elogio. O Almirante Gouveia e Melo é um oficial competente, prestigiado e credível. Várias vezes o elogiei.
- Posto isto, acho que a decisão do Governo é altamente censurável:
- Primeiro, quanto ao processo. Para nomear Gouveia e Melo, o Governo destratou o actual CEMA, o Almirante Mendes Calado. Demitiu-o sem uma explicação pública minimamente convincente. Depois de o próprio se ter disponibilizado para sair pelo seu pé daqui a uns meses. Isto não se faz. É arrogância e prepotência.
- Segundo, o momento da decisão. O Governo tem legitimidade jurídica para tomar esta decisão. Mas, politicamente, não a devia tomar. Um Governo que está a um mês de terminar o seu mandato devia deixar uma decisão de fundo como esta para o próximo governo. É uma questão de seriedade.
- Terceiro, a pressa. Qual era a pressa de decidir agora? Nenhuma. O lugar não está vago e o Almirante Mendes Calado não cometeu qualquer falha. Fica a suspeita de que o Governo pretende apenas aproveitar-se da popularidade do Almirante Gouveia a Melo. Parece uma decisão de campanha eleitoral. Simplesmente censurável.
- Não é a primeira nem a segunda vez que o Governo trata mal as FA: como se a instituição militar fosse uma Direcção Geral ou um departamento do Esta governamentalização das FA não é aceitável. As FA têm de ser tratadas com outra dignidade e outro sentido de Estado.
BALANÇO DO ANO
1. FIGURA NACIONAL DO ANO – Henrique Gouveia e Melo (79%). Uma decisão óbvia e justa. O Almirante foi o herói da vacinação. Ele e os profissionais de saúde. · Carlos Moedas, em segundo lugar (12%) · Rui Rio, em terceiro (8,8%)
2. ACONTECIMENTO NACIONAL DO ANO – Crise política / Eleições antecipadas (63%) Era uma decisão previsível face ao impacto que a crise teve no país. · Fuga e detenção de Rendeiro, em segundo lugar (19,6%) · Decisão instrutória – Caso Sócrates, em terceiro (17,5%)
3. FIGURA INTERNACIONAL DO ANO – Angela Merkel (50%). Outra decisão expectável. Merkel marcou fortemente a Alemanha, a Europa e o mundo. · Joe Biden, em segundo lugar (26%) · António Guterres, em terceiro (23,8%)
4. ACONTECIMENTO INTERNACIONAL DO ANO – Invasão do Capitólio (41,3%). A surpresa e o impacto deste acontecimento não deixaram ninguém indiferente. · Saída da Nato do Afeganistão, em segundo lugar (40,2%) · Cimeira co clima (COP 26), em terceiro (18,6%)
5. FIGURA DO DESPORTO DO ANO – Ruben Amorim (43,2%). O treinador do Sporting é também uma escolha previsível e justa. · Ricardinho, em segundo lugar (29,5%) · Pedro Pichardo, em terceiro (27,3%)
|