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30 de Maio de 2021 às 21:22

Marques Mendes: "A Convenção da Direita foi um flop"

As notas de semana de Marques Mendes no seu comentário habitual na SIC. O comentador fala sobre a final da Liga dos Campeões no Porto, a vacinação e a Convenção da Direita, entre outros temas.

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OS EFEITOS DA CHAMPIONS

 

1.     A final da Champions  é uma boa oportunidade para colocar algumas questões:

a)     Por que é que a DGS autorizou a presença de público na final da Champions e não autorizou na final da Taça de Portugal? Porquê duas decisões opostas com uma semana de intervalo? É difícil de perceber. Mas certamente que a DGS tem uma  explicação inteligente para esta atitude de "dois pesos e duas medidas".

b)     A Ministra da Presidência, a respeito da Champions, tinha prometido que os adeptos ingleses chegariam a Portugal e funcionariam em bolha. Sucedeu tudo ao contrário. Foi "tudo a monte e fé em Deus". Claro que no entretanto abriram as fronteiras. Mas a questão é esta: se a Ministra não podia garantir o controle dos adeptos ingleses, por que é que prometeu o contrário? E por que é que agora se refugia no silêncio?

c)     No início da semana, o SE Saúde veio anunciar prioridade na vacinação em Lisboa. O Presidente da Câmara do Porto, e bem, bateu o pé; o Coordenador da Task Force da vacinação disse que nem pensar; e o Governo recuou. Pergunta-se: se a estrutura nacional da vacinação tem dado conta do recado, se o Almirante Gouveia e Melo tem sido competente e pragmático, por que é que os governantes se metem onde não são chamados?

 

2.     Enquanto não há explicações e respostas, retiram-se algumas conclusões:

·     A primeira: fica a sensação de muita desorientação e precipitação nas nossas autoridades. A decidir e a comunicar é tudo caótico.

·     A segunda: fica a ideia de que não há critério nem coerência. É tudo decidido a la carte, em função do interlocutor;

·     A terceira é o mau exemplo. Esta situação da Champions pode até nem trazer grandes complicações sanitárias. Tudo se passou ao ar livre e dentro do estádio estavam todos testados. Mas, é um mau exemplo. Depois de tudo o que se passou, como é que o Governo tem autoridade para fazer cumprir regras sanitárias nas praias ou nos Santos Populares?

 

3.     Finalmente, as variantes do vírus. Toda a gente quer voltar ao normal e com razão; a vacinação avança, com efeitos muito positivos. Mas atenção: as novas variantes do vírus estão aí; algumas como a indiana têm vindo a crescer muito (em Abril não existia cá dentro, em Maio já está em vários concelhos); e a vacinação só é realmente eficaz para quem já tem duas doses tomadas.

 

 

A VACINAÇÃO

 

1.     O estado da arte  Começamos a entrar na fase decisiva:

a)     A vacinação vai em bom ritmo: já vamos com 5,45 milhões de doses administradas; 3,5 milhões de pessoas com uma dose; quase 2 milhões de pessoas com vacinação completa.

b)     A população mais vulnerável está vacinada: 97% dos mais de 80 anos e dos 70 aos 79 anos; 87% dos 60 aos 69; 41% dos 50 aos 59 anos.

c)     Do ponto de vista regional , há alguns desequilíbrios em vias de correcção: o Alentejo lidera com 45% de doses; em 2º lugar, o Centro com 42%; depois o Norte e a Madeira com 37%; a seguir a LVT com 35%; finalmente o Algarve com 34% e os Açores com 33%.

d)     Na distribuição vacina a vacina, há curiosidades: 3,65 milhões de doses administradas são da Pfizer; 1,19% são da AstraZeneca; da Moderna são 506 mil; e da Janssen apenas 101 mil. O curioso é que no início a vacina da AstraZeneca era vista como a grande solução (tínhamos comprado 7 milhões de doses). Se não fosse a Pfizer e os reforços de compras entretanto feitos, o processo de vacinação teria sido uma calamidade.

e)     Em termos de futuro, os próximos passos são claros: em Maio conclui-se a vacinação dos mais velhos; Junho e Julho são decisivos na vacinação dos mais jovens (abaixo dos 50 anos); Agosto será o mês dos 70% de vacinados e da imunidade de grupo.

 

2.     Finalmente, uma saudação e uma sugestão:

a)     Uma saudação ao Almirante Gouveia e Melo – No Infarmed, foi clara a sua preocupação com as pessoas que estão a ficar para trás: os acamados, idosos ainda não vacinados, pessoas em localidades muito isoladas; pessoas com doenças especiais. Muito bem: pessoas são pessoas, não são números.

b)     Uma sugestão: por que não pedir a ajuda das Câmaras e sobretudo das Juntas de Freguesia para localizarem as pessoas que ainda falta vacinar?

 

O ENCONTRO DAS DIREITAS

 

1.     Desde o início que esta conferência era um equívoco. Para os seus organizadores, pessoas bem intencionadas (Jorge Marrão e Paulo Carmona) era apenas e só mais um fórum de debate. Como em anos anteriores. Muito bem. Só que para outros, criou-se a expectativa de que, desta vez, era a oportunidade de  iniciar uma aproximação entre os partidos à direita. Neste plano, a Convenção foi um FLOP.

 

2.     Por que é que foi um FLOP?

a)     Primeiro, pouca participação. Muitos e bons oradores mas sempre pouca gente a assistir. Para quem quer mobilizar o eleitorado não é bom sinal.

b)     Segundo, muita sofreguidão pelo poder. Mas faltou o essencial. Querem o poder para quê? Que ideias diferentes? Que causas alternativas? Com a excepção da IL, este é o grande problema da direita em geral e do PSD em particular. Tem uma agenda de casos. Não tem uma agenda de causas. Nem a classe média; nem o desemprego juvenil; nem o crescimento dos salários; nem a competitividade da economia; nem a baixa de impostos.

c)     Terceiro, uma  direita dividida como nunca. A única coisa que une os vários partidos são as críticas ao PS. É muito pouco para construir um projecto político e ganhar eleições.

d)     Quarto: tudo isto só beneficia André Ventura e António Costa. Ventura ganha estatuto e complica a governabilidade à direita. O PM ganha com a direita a dar de si própria uma imagem de fragilidade. E "puxa" pelo Chega. Dá-lhe jeito: é dividir para reinar.

 

3.     Com esta agravante: quanto mais a direita exibe a sua fragilidade, mais o governo disfarça as suas mazelas: um Governo desorientado, exausto e com vários ministros fragilizados. Cada vez mais um Governo unipessoal. Ou há PM e há Governo. Ou não há PM e não há Governo.

 

O PSD E O CHEGA

 

1.     Entretanto, Passos Coelho – que foi a grande surpresa da Convenção do MEL – fez saber pelo Expresso que no imediato não está disponível para voltar à liderança do PSD. Eu, por mim, já o disse, acho que um dia ele poderá voltar para ser candidato a PR ou a PM.

 

2.     No imediato, esta sua decisão é compreensível. O problema de Passos Coelho não é ganhar a liderança do PSD. Isso ele conseguiria com facilidade. O problema dele é como ganhar eleições no país e conseguir uma maioria para governar. E isso não é fácil.

A questão é tão simples quanto isto: Passos Coelho teve uma governação corajosa e responsável. Mas uma governação com um custo político enorme. A grande imagem que fica para milhões de portugueses é a de um PM a cortar salários, a cortar pensões e a fazer um brutal aumento de impostos. Ora esta imagem não desaparece com facilidade da cabeça dos eleitores. Pode levar anos. Ainda por cima se tivermos em atenção que em 2023 o país, com a enorme bazuca europeia, vai viver uma certa "euforia" económica.

 

3.     No entretanto, tivemos o Congresso do Chega. É tudo muito artificial.

·     Primeiro: Ventura diz que quer governar com o PSD, ao mesmo tempo que quase insulta o PSD e Rui Rio. Isto não se pode levar a sério.

·     Segundo: Ventura diz que quer vários ministros num eventual governo PSD. Para quem só tem um deputado é tudo um exagero.

·     Terceiro: um partido com prioridades trocadas. Então faz um Congresso para actualizar o seu programa e adia essa discussão para depois do Congresso? O que conta é o poder. Não as ideias. Não é grande exemplo!

 

 

A REFORMA MILITAR

 

1.     Governo, com apoio do PSD e CDS, de um lado; dezenas de ex-Chefes Militares, do outro. Tudo por causa de uma proposta de mudança da estrutura do comando militar. Quem tem razão? O Governo tem razão no conteúdo. Não tem razão na forma. 

·     A proposta do Governo faz todo o sentido. Reforçar os poderes do CEMGFA não é apenas coerente com o que se passa na generalidade dos países da NATO. É também positiva: reforça a coordenação, a eficácia, a operacionalidade e a responsabilização dentro das FA. Não podemos defender estes valores nos discursos e recusá-los na prática.

 

2.     Onde o Governo não tem razão é na forma como tem gerido este assunto. Há muita arrogância no ar, desde logo na forma como o Governo tem tratado os ex-Chefes Militares que se têm mostrado contra. São Chefes Militares que prestaram grandes serviços às FA e ao país. Têm visões e prioridades diferentes mas merecem respeito. Em particular Ramalho Eanes. É uma referência moral da República. Uma pessoa de grande honestidade intelectual. Defende princípios e não corporações. Merece não só respeito como atenção.

 

 

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