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15 de Agosto de 2021 às 21:36

Costa é um político hábil mas não é político corajoso

As habituais notas da semana de Luís Marques Mendes, no comentário na SIC.

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A VACINAÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS

 

  1. Este fim de semana foi destinado à vacinação dos jovens com 16 e 17 anos. Apesar do período de férias, esta operação foi um sucesso. Vacinados mais de 80% dos jovens deste escalão. O que prova duas coisas:
  • Primeiro, ao contrário do que se afirmava, os jovens querem ser vacinados. Percebem as vantagens da vacinação. Têm mais maturidade do que se julga.
  • Segundo, em matéria de vacinação, somos um excelente exemplo na Europa e no mundo. Os portugueses, ao contrário dos nacionais de vários outros países, valorizam as vacinas e acreditam nas vacinas. Os negacionistas existem e até podem ser "barulhentos". Mas são minoria. 
  1. Entretanto, a DGS autorizou a vacinação dos menores entre os 12 e os 15 anos. Confirmou-se por inteiro o que há uma semana aqui disse: que mais dia, menos dia, a DGS ia mudar de opinião e autorizar o que antes tinha recusado. E manda a verdade que se diga que o fez com base em argumentos técnico-científicos.
  • Só é pena que tivesse dado a sensação para a opinião pública que mudou de opinião em apenas 10 dias face às pressões políticas do PR, do Governo e da "task force" da Vacinação. Admito que a intenção até tivesse sido outra, mas a percepção pública que fica é essa. Não havia necessidade.

  • O importante agora é que também esta parte do processo de vacinação corra bem. Sem grande polémica e com uma boa adesão dos adolescentes.

  

 

A ENTREVISTA A GOUVEIA E MELO

 

  1. O Almirante Gouveia e Melo deu uma excelente entrevista à SIC: pragmática, sensata e genuína. Manda a verdade que se diga que o seu trabalho à frente da operação de vacinação tem já dois resultados sensíveis:
  • Primeiro, deu confiança aos cidadãos. No meio de tanto amadorismo e até alguma descrença em que o país vive, o rigor e o profissionalismo desta operação são um excelente exemplo.
  • Segundo, reforçou e muito o prestígio das Forças Armadas. Este processo de vacinação conferiu às FA um prestígio bem superior a muitos discursos, decretos ou condecorações
  1. Entretanto, atingimos ontem 1 milhão de infectados. Oportunidade para um rápido balanço da pandemia.

  2. A pandemia em grandes números desde o seu início: número de casos – 1.003.335; número de óbitos – 17.562; número de testes – 15.974.446; número de recuperados – 940.406; número de vacinados – 13,5 milhões;

  3. O número de casos e óbitos por regiões. Três conclusões: primeira, a melhor Região do país no ratio infetados/óbitos: os Açores; segunda, a pior Região é o Alentejo; terceira, apesar de o Norte e LVT terem sensivelmente o mesmo número de casos, o Norte tem muito menos óbitos que LVT.

  4. A vacinação na UE – Portugal está numa excelente terceira posição. Muito acima da média europeia. À frente da Alemanha, França e Espanha.

  5. Total de vacinas administradas. Pessoas com, pelo menos, uma dose: 74,9; pessoas com vacinação completa: 65,3%.

  6. Objectivos próximos a alcançar: 85% de pessoas com uma dose em 1 de Setembro; 71% com vacinação completa na primeira semana de Setembro.

  7. Solidariedade com os países de língua portuguesa – Até agora Portugal já doou aos PALOP e a Timor Leste cerca de 200 mil vacinas. E ainda irá doar mais, até cerca de 3 milhões.


Balanço final só mais tarde. Mas num processo que teve momentos baixos (as falhas de comunicação e avanços e recuos em várias decisões), os momentos altos foram bem mais importantes. Sobretudo três: a cooperação institucional entre PR e Governo; a dedicação e a competência dos profissionais de saúde; os notáveis avanços da ciência com a descoberta das vacinas.

 

 

O PM E A REMODELAÇÃO

 

Ideia-chave da entrevista do primeiro-ministro ao Expresso: para já não quer remodelar o Governo. Se nas sondagens a maioria dos portugueses quer uma remodelação e considera o Governo esgotado, pergunta-se: por que é que o PM afasta a ideia? Três razões, a meu ver:
  1. Primeira: o PM sente-se forte e sente as costas quentes. Sente que não tem oposição que lhe crie problemas; sente que passou bem a parte mais difícil da pandemia; sente que os milhões de Bruxelas que tem para investir disfarçam as fragilidades dos seus ministros. Logo, sente que pode facilitar.
  2. Segunda: a coragem não é o ponto forte do PM. Ele é um político hábil mas não é político corajoso. Fazer uma remodelação é um acto de coragem: os ministros que saem tendem a ficar furiosos com o PM. Alguns levam mesmo a sua fúria ao afastamento pessoal e político dentro do partido. Já sucedeu no passado. O PM tem medo. Logo, adia a remodelação.
  3. Terceira: uma atitude de uma certa arrogância. Isto aplica-se sobretudo ao caso do MAI. Eduardo Cabrita já devia ter saído do Governo há muito tempo. Está mais que fragilizado. Só se mantém porque é amigo pessoal do PM. Parece que tem lugar cativo no Governo por ser amigo de António Costa. Isto não é aceitável. Parece uma afronta aos portugueses.

 

Uma coisa é certa: mais cedo ou mais tarde, o PM há-de remodelar. É inevitável. Só que quanto mais tarde pior. Quanto mais tarde se remodelar, mais difícil será encontrar pessoas de prestígio e qualidade para ingressarem no Governo. Quem é que aceita ser ministro a ano e meio do fim do Governo e quando se suspeita que em 2023 o PM vai sair?

 

 

O ACIDENTE DO MINISTRO CABRITA E O SEF

 

  1. Falando do ministro Eduardo Cabrita, há duas contradições que esta semana ficaram muito evidentes. A primeira tem a ver com a morte do cidadão ucraniano no Aeroporto de Lisboa, em 2020. Já houve responsabilidades criminais, com a condenação judicial de três inspetores; esta semana soube-se que houve responsabilidades disciplinares com a expulsão da função pública do director do SEF responsável pelo sector; e as responsabilidades políticas do ministro? Continuam sem ser assumidas. Ora um caso grave como este não se resolve apenas com acções disciplinares e criminais. É preciso tirar também consequências políticas. É o que falta.

  2. A segunda contradição tem a ver com o acidente com o carro do ministro Cabrita, que vitimou uma pessoa. Quase dois meses volvidos, há um silêncio sepulcral e duas perguntas por responder:

    Primeira: ainda não se pode saber qual a velocidade a que seguia o carro do ministro? Isto é algum segredo de Estado? Uma figura pública tinha o dever de divulgar essa informação ou de exigir que ela fosse divulgada. Uma figura pública tem exigências de escrutínio que qualquer outra não tem.

    Segunda: o inquérito que a GNR está a fazer ao caso vai durar até à eternidade? Será que a GNR não percebe que quanto mais tempo demorar a fazer este inquérito mais suspeitas se criam de que está a proteger o ministro? A GNR é tutelada por Eduardo Cabrita. Eduardo Cabrita é parte interessada. Quanto mais tempo o secretismo durar, mais suspeitas se instalarão em torno do Ministro e em torno da GNR.

 

A PICARDIA COSTA/VENTURA

 

  1. A picardia política da semana passou-se entre André Ventura e António Costa. André Ventura foi infetado por covid-19. Logo a seguir soube-se que não se tinha vacinado. Na entrevista ao Expresso, o PM resolveu "provocá-lo", dizendo que ele já devia estar arrependido de não se ter vacinado. Ventura respondeu de imediato
  1. Este pingue pongue entre PM e André Ventura parece algo menor e sem importância. A verdade é que nada disto sucede por acaso.

  2. André Ventura não se vacinou. Não é por acaso. Está na linha da tradição negacionista dos sectores mais radicais e extremistas da direita europeia e dos EUA. A novidade, porém, é que Ventura é um negacionista atípico. Quer agradar a gregos e a troianos. Para dentro do partido, torce o nariz às vacinas. Para fora, nunca até hoje tinha assumido esta sua postura de negação, talvez para não perder votos junto dos milhões de portugueses que têm aderido convictamente à vacinação.

  3. António Costa resolveu "provocar" André Ventura. Também não aconteceu por acaso. Faz parte da estratégia política e eleitoral mais recente do Partido Socialista. O PS, evidentemente, está nos antípodas do Chega. Mas dá-lhe jeito valorizar o Chega. É que quanto mais valorizar o Chega mais enfraquece o PSD. Ao abrir uma polémica com André Ventura está a diminuir Rui Rio enquanto líder de oposição. Nada sucede por acaso. É a política, desta vez na sua versão mais mesquinha!

 

 

A CRISE NO AFEGANISTÃO

 

  1. O Afeganistão é um problema antigo e difícil de resolver. Todas as grandes potências tiveram problemas sérios com o Afeganistão. Primeiro, os ingleses. Depois, os soviéticos. Agora, os EUA.
  2. O que vai suceder no futuro com esta vitória dos talibã no Afeganistão só pode ser uma completa desgraça:
  3. Primeiro: corremos o sério risco de o Afeganistão voltar a ser uma santuário do terrorismo internacional. O que significa que vinte anos de intervenção militar dos EUA/NATO não serviram para nada. Foram vinte anos perdidos.
  4. Segundo: corremos o sério risco de uma nova onda de refugiados para a Europa. Uma nova crise migratória provocada pela saída em massa de afegãos aterrorizados com a violência talibã. Violência que incidirá em especial sobre as mulheres. Uma nova escravatura em perspectiva.
  5. Terceiro: o Afeganistão pode estar para o Presidente Biden como o Irão esteve para o Presidente Carter na crise dos reféns dos anos 80 do século passado. Um enorme calcanhar de Aquiles.
  • Foi Trump que iniciou a saída das tropas do Afeganistão. Mas muita gente nos EUA e fora pensava que Biden iria reverter a decisão. Não reverteu.
  • Biden previa ainda há pouco tempo que esta derrocada no Afeganistão não iria suceder. Enganou-se redondamente e já sofre críticas por isso.
  • A presidência Biden tem estado no essencial bem. Na economia e no combate à pandemia. O Afeganistão pode ser uma mancha séria no seu mandato.
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