Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Marques Mendes no seu habitual comentário na SIC. O comentador fala sobre o campeonato de futebol, o caso Berardo, as eleições europeias, carga fiscal e o crescimento da economia.
BALANÇO DO CAMPEONATO DE FUTEBOL
- Prémio Consagração – Benfica
- É um título merecido, em função da 2ª volta notável que realizou. Ganha por mérito próprio e por demérito alheio.
- Na Guerra dos Tronos, depois da derrota de há um ano, o Benfica precisava desta Reconquista para recuperar a sua hegemonia nacional.
- Prémio Desilusão – Porto
- Estrategicamente, depois da vitória de há 1 ano, o FCPorto precisava desta vitória para se consolidar e quebrar o ritmo do Benfica.
- Não conseguiu por culpa própria. Teve 7 pontos de avanço, teve condições para ganhar tudo e corre o risco de perder tudo, se perder a Taça de Portugal. Uma derrota a deixar marcas.
- Prémio Resistência – Sporting
- Depois do historial de loucura e desilusão de há 1 ano, fez uma época notável: 3º lugar, Taça da Liga, Finalista da Taça de Portugal.
- Conclusão: a credibilidade venceu o populismo e a megalomania.
- Prémio Superação – Moreirense
- Uma equipa de uma freguesia de Guimarães.
- Depois de ter ganho a Taça da Liga há um ano, termina o campeonato em 5º lugar, à frente de clubes com orçamentos maiores e mais elevados. Parece a descentralização a afirmar-se ao futebol.
- Prémio Surpresa – Bruno Lage
- Há 1 ano era um desconhecido. Há 5 meses era solução de transição e de recurso. Agora entrou para a história do Benfica.
- Teve uma oportunidade e agarrou-a. Percebeu, como na política, que não há segunda oportunidade para criar uma primeira boa impressão.
- Prémio Revelação – João Félix
- É a coqueluche do Benfica. Parece que tem magia.
- Já é exibido urbi et orbi. Um verdadeiro jackpot.
- Prémio Confirmação – Bruno Fernandes
- Fez uma época de ouro. Foi o abono de família do Sporting.
- Agora, vai por certo para o mundo global. Mais um a mostrar que Portugal é cada vez mais um país aberto ao mundo e exportador de talentos.
- Prémio Elefante no Estádio – Arbitragem
- Como é habitual esteve no centro das atenções. Em matéria de árbitros, tivemos polemicas a mais, competência a menos, exagero dos dirigentes e bastante amadorismo do VAR. Uma boa experiência que carece de melhoras rápidas.
- Prémio Corpo Estranho – Belenenses SAD
- É um corpo estranho. É um Belenenses que perdeu o estádio, perdeu o emblema da Cruz de Cristo, perdeu adeptos e mesmo assim está na 1ª Liga. Como é possível? Só em Portugal.
O CASO BERARDO
Há neste caso três questões novas e distintas entre si que merecem especial atenção.
- Primeira questão: a condecoração de Berardo. José Miguel Júdice suscitou a questão e eu concordo. Apesar de não apreciar muito decisões "à la carte". Mas, já que foi aberto um precedente com Berardo, há um caso ainda pior do que o comendador madeirense – José Sócrates. Pouca gente sabe mas o ex-PM foi condecorado em 21 de Abril de 2005. Apesar de, também ele, não ter qualquer condenação, tudo o que é conhecido é, do ponto de vista ético e público, ainda mais grave para os interesses do país e para a imagem de Portugal do que o que sucedeu com Joe Berardo. Porque é um ex-PM. Mancha a imagem de Portugal. Tem maiores responsabilidades. Por isso, pergunto: não vai acontecer nada à comenda de Sócrates? Não se instaura também um procedimento disciplinar?
- Segunda questão: as responsabilidades. Ao longo da semana, uns desvalorizam o comportamento de Berardo, considerando que maior culpa é dos Bancos; outros desvalorizam a responsabilidade dos Bancos e fazem de Berardo o único vilão.
- Sejamos claros. Este é um caso sério de polícia e envolve todos: Berardo e os gestores da Banca. Todos têm sérias responsabilidades. Berardo, no mínimo, aldrabou os Bancos; no máximo, fez uma burla. Não merece perdão. Vários gestores ou foram negligentes ou praticaram gestão danosa. Não merecem desculpa. Não vale a pena estar a desculpar ou a desvalorizar ninguém. O que todos merecem é investigação e julgamento.
- Num país a sério isto acabava com gente na cadeia – devedores e gestores.
- Última questão: a justiça. Este caso Berardo é o primeiro grande desafio à coragem de intervenção da nova PGR. Os casos antecedentes não são famosos. O Processo Marquês demorou 4 anos a investigar; o caso BES já vai fazer 5 anos e ainda nem sequer há acusação; a investigação das PPP rodoviárias já vai em 8 anos; por este andar o caso da CGD vai parar à eternidade.
- Isto não é aceitável. Se há falta de meios, a PGR que o diga abertamente. Se há falta de meios e o Governo não os dá, digam-no sem rodeios. O que não é aceitável é esta lentidão – perdem-se provas, chegam as prescrições e os portugueses indignam-se com a justiça. E, se assim for, tem de se criticar também a justiça por não cumprir a sua função.
ELEIÇÕES EUROPEIAS
Conclusões a tirar a uma semana das eleições europeias:
- Primeiro: teremos provavelmente uma elevada taxa de abstenção. É mau mas não é novidade. Nos últimos 25 anos a abstenção nas Europeias tem sido sempre acima de 60%. Votam 3 a 3,5 milhões. Abstêm-se 6 a 6,5 milhões. Isto não significa que os portugueses estejam divorciados do projecto europeu. Significa, sim, que o Parlamento Europeu diz muito pouco às pessoas. É a percepção pública que existe nos eleitores.
- Segundo: Portugal será excepção no contexto europeu – Na Europa haverá uma perigosa subida dos partidos eurocépticos, nacionalistas e de extrema direita. Portugal será uma boa excepção. Em princípio, só os partidos tradicionais elegerão deputados. E isso põe-nos a resguardo de tendências extremistas, radicais e de extrema-direita.
- Terceiro: são umas eleições marcadas pele recente crise dos professores – Só no final se poderá avaliar o real efeito que a crise eleitoralmente teve. Mas um dado é desde já evidente – inverteu a dinâmica das campanhas. O PS estava à defesa, passou ao ataque. A oposição estava na dianteira, abrandou a sua dinâmica.
- Quarto: estas eleições rodam em torno de António Costa. Parecem eleições uninominais. Parecem um plebiscito ao PM. António Costa nacionalizou as eleições, governamentalizou as eleições, colocou o Governo todo em modo de campanha, obrigou a oposição a ir atrás da sua estratégia e marca o discurso da campanha. Se o PS vencer, a vitória é toda de António Costa. E em qualquer caso não são verdadeiras eleições europeias – são a primeira volta das legislativas.
- Quinto: as grandes dúvidas para domingo são: Marinho Pinto: há 5 anos elegeu 2 deputados. Provavelmente vai perdê-los agora. Quem vai beneficiar com isso? A esquerda ou a direita? À esquerda: há 5 anos o PCP ganhou ao BE (3 contra 1 deputado). Será que esta tendência se vai manter ou o Bloco vai equilibrar as contas? À direita: quem mais vai beneficiar? O PSD ou o CDS? O PS: há 5 anos ganhou por "poucochinho". E a liderança mudou. Como vai ser agora? A liderança não está em causa. Mas o melhor ou o pior resultado do PS dá maior ou menor autoridade política ao PS para as legislativas.
CARGA FISCAL NO MÁXIMO
- O INE confirmou esta semana que em 2018 Portugal bateu mais um record – tivemos a maior carga fiscal de sempre (35,4% do PIB). Mário Centeno é ao mesmo tempo o recordista do défice mais baixo de sempre (um bom galardão) e o campeão da maior carga fiscal de sempre (um título pouco recomendável).
- Mas isto, dito assim, diz pouco às pessoas. A grande questão é: em termos de esforço fiscal, os portugueses estão a fazer mais ou menos esforço que a generalidade dos europeus? Para responder, temos que analisar o esforço fiscal relativo de cada país. Esforço fiscal relativo é um indicador que mede a carga fiscal de cada país em comparação como seu nível de vida, medido pelo PIB per capita.
- Analisado no quadro europeu, o que temos? Primeiro: estamos 22% acima do esforço fiscal média da Europa a 28. O que significa que para o seu nível de vida os portugueses estão a fazer um esforço fiscal superior ao da média dos europeus. Segundo: só há 5 países em situação pior que a nossa (Croácia, Grécia, Bulgária, Hungria e Polónia). Ao contrário, 22 países estão melhor que nós. Terceiro: a Irlanda (que devia ser o nosso exemplo) tem um esforço fiscal muito aquém do da média europeia.
- Este brutal esforço fiscal é mau. Mau para o investimento que não sobe como devia subir; para a economia que não cresce como devia crescer; para as pessoas que se sentem a trabalhar mais para o Estado e menos para as suas poupanças.
- Aqui está um bom tema para a próxima campanha eleitoral. E sobretudo um bom tema para os programas eleitorais do PSD e do CDS.
- Mas, para isso, não chega defender uma redução da carga fiscal. É preciso ter um plano concreto: que impostos baixam? Que calendário para a redução? Quais as despesas que se cortam para compensar a redução fiscal?
CRESCIMENTO DA ECONOMIA
- O INE divulgou os dados do crescimento da economia no primeiro trimestre deste ano. Aplica-se aqui na perfeição a história do "copo meio cheio" ou do "copo meio vazio".
- Para muitos, estes resultados são bons. É a teoria do "copo meio cheio". E têm alguma razão: estes resultados foram melhores que os do último trimestre de 2018; e estamos a crescer (1,8%) acima da média da Zona Euro (1,2%) e acima da média da União Europeia (1,5%).
- Mas, atenção! Estamos a crescer menos que os países do nosso campeonato. Esta é a lógica do "copo meio vazio". E devia suscitar-nos bastante preocupação: Primeiro: estamos cada vez mais na cauda da Europa do Euro. Em 19 países da Zona Euro, estamos em 17º lugar. Atrás de nós só temos a Letónia e a Grécia. Não são grandes companhias. Segundo: nos últimos anos fomos ultrapassados por vários países – Eslovénia, Malta, Estónia, Eslováquia e Lituânia. Para além da República Checa, que não é da Zona Euro. Terceiro: se não crescemos mais, corremos o risco de, dentro de poucos anos, sermos ultrapassados pela Letónia e passarmos a ser, com a Grécia, o "carro vassoura" da Zona Euro. Em conclusão: este não é mais um problema. Este é, verdadeiramente, o problema central do país.