Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre o Orçamento para 2019, o futuro de Centeno e Azeredo Lopes, o conflito com os professores, as eleições no Brasil e a acusação a Ronaldo, entre outros temas.
ORÇAMENTO PARA 2019
- Do que se conhece do OE para 2019, há já algumas conclusões a tirar:
a) Primeira: do ponto de vista do país, será um orçamento com uma marca histórica – um orçamento de défice zero. Isto é muito positivo e é um resultado histórico em toda a nossa democracia.
b) Segunda: do ponto de vista dos portugueses, é um orçamento muito popular. Os pensionistas, os funcionários públicos, os utilizadores de transportes públicos da Grande Lisboa e do Grande Porto – todos vão gostar do OE. A generalidade dos portugueses vai apreciar este OE.
c) Terceira: do ponto de vista político é:
- Um bónus eleitoral fantástico para o PS. É um voto a pensar na maioria absoluta. Um dos orçamentos mais eleitoralistas de sempre.
- Um pesadelo para a oposição. Se PSD e CDS criticam pelo défice, são incoerentes. Se criticam pelas benesses, tornam-se impopulares.
- Há, todavia, uma grande dúvida – Tudo isto será sustentável a prazo, quando a economia arrefecer?
- O período que estamos a viver é muito parecido com o tempo do primeiro governo de António Guterres, há 20 anos: também o Governo era minoritário; também a economia estava a crescer; também era "chapa ganha, chapa gasta"; também o Governo distribuía dinheiro por toda a gente para tentar a maioria absoluta.
- Depois, foi o que se viu: o PS não conseguiu a maioria absoluta; a seguir veio o pântano; e depois começou a crise que demorou estes anos todos.
- É bom agradar às pessoas e melhorar o seu nível de vida. Mas, se não houver conta, peso e medida, o que se ganha hoje perde-se amanhã.
O FUTURO DE CENTENO
- Uma das certezas com que se fica da entrevista de António Costa à TVI é a de que Mário Centeno não ficará no próximo Governo, se o PS ganhar eleições. Ele não o disse abertamente, mas deixou-o subentendido. Confirma-se, assim, o que eu já havia referido em várias ocasiões.
- A partir daqui, há duas questões que subsistem:
a) Primeira questão é: para onde irá Mário Centeno?
- Julgo que para um de dois cargos: ou Presidente do próximo Fundo Monetário Europeu (organismo que vai ser criado na União Europeia); ou Comissário Europeu, podendo ser eventualmente vice-presidente da Comissão.
b) Segunda questão é: quem substituirá Mário Centeno?
- Eu diria que será uma de duas pessoas : ou Mourinho Félix ou Vieira da Silva.
- O primeiro parece a solução óbvia: é o principal Secretário de Estado de Mário Centeno. O segundo, por uma razão que pouquíssima gente conhece: Vieira da Silva foi a primeira escolha de António Costa para Ministro das Finanças do Governo. O Plano A de Costa era Vieira da Silva nas Finanças e Mário Centeno no Trabalho. Depois, houve uma troca. Será que voltamos a esse Plano A?
CONFLITO COM PROFESSORES
- O Governo decidiu não satisfazer as reivindicações dos professores. Os sindicatos indignaram-se. Os professores manifestaram-se. Quem tem razão?
- A minha opinião é que os professores são vítimas. Vítimas da irresponsabilidade do Governo; vítimas do radicalismo dos sindicatos.
a) Vítimas da irresponsabilidade do Governo – Foi o Governo que criou este problema, quando há um ano criou esta expectativa. O Governo sabia que era impossível cumprir. Mesmo assim, andou irresponsavelmente a criar falsas expectativas. É o primeiro culpado.
b) Vítimas do radicalismo dos sindicatos – Perante a irresponsabilidade do Governo, os sindicatos actuaram de pior forma possível. Com radicalismo a mais e diálogo a menos. Foi a atitude do tudo ou nada.
- Perderam na opinião pública, porque ninguém compreende que os professores queiram recuperar todo o tempo de serviço quando nenhuma classe profissional recuperou tudo o que perdeu no tempo da troika.
- Perderam na decisão final. Se os sindicatos tivessem tido abertura negocial, os professores acabariam por recuperar 4, 5 ou até 6 anos de tempo de serviço. Até aí o Governo aceitaria ir. Assim, só ganha 2 anos e alguns meses. Os professores perderam também por causa dos sindicatos. E o que mais surpreende são os sindicatos da UGT. Foram a reboque do radicalismo da Fenprof e prejudicaram os seus associados.
TANCOS – MINISTRO DEVE SAIR?
- Nestas matérias, a minha orientação é muito clara e coerente: quando um Ministro está sob suspeita grave, deve fazer o que fizeram António Vitorino , no Governo Guterres, e Miguel Macedo, no Governo de Passos Coelho – devem tomar a iniciativa de sair, não se agarrando aos lugares. Não é para assumirem a sua culpa. É para não comprometerem a sua imagem e a imagem das instituições que representam.
- Assim, mantendo a minha coerência, acho que Azeredo Lopes deve sair ou ser convidado a sair. Por três razões essenciais:
a) Primeira razão: o Ministro da Defesa é a partir de agora um Ministro sob suspeita. E não é uma suspeita qualquer. É uma suspeita grave – a suspeita de ter tido conhecimento do encobrimento de um crime.
- E um Ministro sob suspeita, é um Ministro diminuído na sua autoridade; condicionado no seu poder; e altamente fragilizado;
- A primeira prova de que o Ministro está diminuído, condicionado e fragilizado revelou-se anteontem, no 5 de Outubro – o Ministro faltou às cerimónias militares, não acompanhando sequer o Presidente da República.
- Ele deixou de ter condições para ser Ministro. Devia sair.
b) Segunda razão: Azeredo Lopes não é um Ministro qualquer. É o Ministro das Forças Armadas. Ora, uma suspeita grave em relação ao Ministro que "tutela" as Forças Armadas não afecta só a imagem do Ministro e do Governo. Afecta também a imagem da instituição militar. Ora, o interesse público deve estar sempre acima do interesse pessoal, político e partidário.
c) Terceira razão: há um certo grau de probabilidade de, mais dia, menos dia, Azeredo Lopes vir a ser constituído arguido.
- A confirmarem-se os dados vindos a público, o Ministro vai ter de ser ouvido. Pode ser como testemunha, mas também pode ser constituído arguido.
- Ora, se for constituído arguido, tem de sair do Governo. E é sempre melhor sair antes, pelo seu pé, com liberdade e dignidade, do que sair mais tarde, empurrado e já sem ponta de dignidade.
COSTA NÃO CASA COM PCP E BE
- Ao dizer que "não quer casar com o PCP e o BE", António Costa deu até hoje o sinal mais explícito de que quer uma maioria absoluta nas próximas eleições. Nunca tinha sido tão claro. Até foi ao ponto de comparar com o seu exemplo como Presidente da Câmara de Lisboa: primeiro, teve maioria relativa; a seguir, teve duas maiorias absolutas, mesmo sem as ter pedido. Mais claro não podia ser.
- E a maioria absoluta, sendo difícil, não é, de facto, impossível. Para isso, Costa tem a seu favor 4 realidades:
- A boa situação económica e social;
- O mau estado do PSD;
- A boa cooperação institucional com o PR;
- O voto útil no PS – porque a ideia de o BE ir para o Governo provoca susto no eleitorado moderado do centro.
- O problema mesmo é se não tem maioria absoluta. Isso vai ser um choque enorme para Costa e um problema sério para o PS. Aí, o mais provável é termos um novo governo minoritário do PS, que provavelmente não fará a totalidade do mandato. Poderá cair a meio do mandato, até por causa do arrefecimento da economia.
Aí vamos ter, muito provavelmente, uma espécie de Guterres 2.