Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
07 de Outubro de 2018 às 21:11

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre o Orçamento para 2019, o futuro de Centeno e Azeredo Lopes, o conflito com os professores, as eleições no Brasil e a acusação a Ronaldo, entre outros temas.

  • ...

ORÇAMENTO PARA 2019

 

  1.       Do que se conhece do OE para 2019, há já algumas conclusões a tirar:

a)      Primeira: do ponto de vista do país, será um orçamento com uma marca histórica – um orçamento de défice zero. Isto é muito positivo e é um resultado histórico em toda a nossa democracia.

b)      Segunda: do ponto de vista dos portugueses, é um orçamento muito popular. Os pensionistas, os funcionários públicos, os utilizadores de transportes públicos da Grande Lisboa e do Grande Porto – todos vão gostar do OE. A generalidade dos portugueses vai apreciar este OE.

c)      Terceira: do ponto de vista político é:

  •          Um bónus eleitoral fantástico para o PS. É um voto a pensar na maioria absoluta. Um dos orçamentos mais eleitoralistas de sempre.
  •          Um pesadelo para a oposição. Se PSD e CDS criticam pelo défice, são incoerentes. Se criticam pelas benesses, tornam-se impopulares.

 

  1.       Há, todavia, uma grande dúvida – Tudo isto será sustentável a prazo, quando a economia arrefecer?
  •          O período que estamos a viver é muito parecido com o tempo do primeiro governo de António Guterres, há 20 anos: também o Governo era minoritário; também a economia estava a crescer; também era "chapa ganha, chapa gasta"; também o Governo distribuía dinheiro por toda a gente para tentar a maioria absoluta.
  •          Depois, foi o que se viu: o PS não conseguiu a maioria absoluta; a seguir veio o pântano; e depois começou a crise que demorou estes anos todos.
  •          É bom agradar às pessoas e melhorar o seu nível de vida. Mas, se não houver conta, peso e medida, o que se ganha hoje perde-se amanhã.

 

O FUTURO DE CENTENO

 

  1.       Uma das certezas com que se fica da entrevista de António Costa à TVI é a de que Mário Centeno não ficará no próximo Governo, se o PS ganhar eleições. Ele não o disse abertamente, mas deixou-o subentendido. Confirma-se, assim, o que eu já havia referido em várias ocasiões.

 

  1.       A partir daqui, há duas questões que subsistem:

a)      Primeira questão é: para onde irá Mário Centeno?

  •          Julgo que para um de dois cargos: ou Presidente do próximo Fundo Monetário Europeu (organismo que vai ser criado na União Europeia); ou Comissário Europeu, podendo ser eventualmente vice-presidente da Comissão.

b)      Segunda questão é: quem substituirá Mário Centeno?

  •          Eu diria que será uma de duas pessoas : ou Mourinho Félix ou Vieira da Silva.
  •          O primeiro parece a solução óbvia: é o principal Secretário de Estado de Mário Centeno. O segundo, por uma razão que pouquíssima gente conhece: Vieira da Silva foi a primeira escolha de António Costa para Ministro das Finanças do Governo. O Plano A de Costa era Vieira da Silva nas Finanças e Mário Centeno no Trabalho. Depois, houve uma troca. Será que voltamos a esse Plano A?

 

CONFLITO COM PROFESSORES

 

  1.       O Governo decidiu não satisfazer as reivindicações dos professores. Os sindicatos indignaram-se. Os professores manifestaram-se. Quem tem razão?

 

  1.       A minha opinião é que os professores são vítimas. Vítimas da irresponsabilidade do Governo; vítimas do radicalismo dos sindicatos.

a)      Vítimas da irresponsabilidade do GovernoFoi o Governo que criou este problema, quando há um ano criou esta expectativa. O Governo sabia que era impossível cumprir. Mesmo assim, andou irresponsavelmente a criar falsas expectativas. É o primeiro culpado.

b)      Vítimas do radicalismo dos sindicatosPerante a irresponsabilidade do Governo, os sindicatos actuaram de pior forma possível. Com radicalismo a mais e diálogo a menos. Foi a atitude do tudo ou nada.

  •          Perderam na opinião pública, porque ninguém compreende que os professores queiram recuperar todo o tempo de serviço quando nenhuma classe profissional recuperou tudo o que perdeu no tempo da troika.
  •          Perderam na decisão final. Se os sindicatos tivessem tido abertura negocial, os professores acabariam por recuperar 4, 5 ou até 6 anos de tempo de serviço. Até aí  o Governo aceitaria ir. Assim, só ganha 2 anos e alguns meses. Os professores perderam também por causa dos sindicatos. E o que mais surpreende são os sindicatos da UGT. Foram a reboque do radicalismo da Fenprof e prejudicaram os seus associados.

 

TANCOS – MINISTRO DEVE SAIR?

 

  1.       Nestas matérias, a minha orientação é muito clara e coerente: quando um Ministro está sob suspeita grave, deve fazer o que fizeram António Vitorino , no Governo Guterres, e Miguel Macedo, no Governo de Passos Coelho – devem tomar a iniciativa de sair, não se agarrando aos lugares. Não é para assumirem a sua culpa. É para não comprometerem a sua imagem e a imagem das instituições que representam.

 

  1.       Assim, mantendo a minha coerência, acho que Azeredo Lopes deve sair ou ser convidado a sair. Por três razões essenciais:

a)      Primeira razão: o Ministro da Defesa é a partir de agora um Ministro sob suspeita. E não é uma suspeita qualquer. É uma suspeita grave – a suspeita de ter tido conhecimento do encobrimento de um crime.

  •          E um Ministro sob suspeita, é um Ministro diminuído na sua autoridade; condicionado no seu poder; e altamente fragilizado;
  •          A primeira prova de que o Ministro está diminuído, condicionado e fragilizado revelou-se anteontem, no 5 de Outubro – o Ministro faltou às cerimónias militares, não acompanhando sequer o Presidente da República.
  •          Ele deixou de ter condições para ser Ministro. Devia sair.

b)      Segunda razão: Azeredo Lopes não é um Ministro qualquer. É o Ministro das Forças Armadas. Ora, uma suspeita grave em relação ao Ministro que "tutela" as Forças Armadas não afecta só a imagem do Ministro e do Governo. Afecta também a imagem da instituição militar. Ora, o interesse público deve estar sempre acima do interesse pessoal, político e partidário.

c)      Terceira razão: há um certo grau de probabilidade de, mais dia, menos dia, Azeredo Lopes vir a ser constituído arguido.

  •          A confirmarem-se os dados vindos a público, o Ministro vai ter de ser ouvido. Pode ser como testemunha, mas também pode ser constituído arguido.
  •          Ora, se for constituído arguido, tem de sair do Governo. E é sempre melhor sair antes, pelo seu pé, com liberdade e dignidade, do que sair mais tarde, empurrado e já sem ponta de dignidade.

 

COSTA NÃO CASA COM PCP E BE

 

  1.       Ao dizer que "não quer casar com o PCP e o BE", António Costa deu até hoje o sinal mais explícito de que quer uma maioria absoluta nas próximas eleições. Nunca tinha sido tão claro. Até foi ao ponto de comparar com o seu exemplo como Presidente da Câmara de Lisboa: primeiro, teve maioria relativa; a seguir, teve duas maiorias absolutas, mesmo sem as ter pedido. Mais claro não podia ser.

 

  1.        E a maioria absoluta, sendo difícil, não é, de facto, impossível. Para isso, Costa tem a seu favor 4 realidades:
  •          A boa situação económica e social;
  •          O mau estado do PSD;
  •          A boa cooperação institucional com o PR;
  •          O voto útil no PS – porque a ideia de o BE ir para o Governo provoca susto no eleitorado moderado do centro.

 

  1.       O problema mesmo é se não tem maioria absoluta. Isso vai ser um choque enorme para Costa e um problema sério para o PS. Aí, o mais provável é termos um novo governo minoritário do PS, que provavelmente não fará a totalidade do mandato. Poderá cair a meio do mandato, até por causa do arrefecimento da economia.

Aí vamos ter, muito provavelmente, uma espécie de Guterres 2.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio