Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Luís Marques Mendes na SIC Notícias. O Negócios revela os excertos, nos quais o comentador, esta semana, fala de futebol, sondagens, maioria absoluta do PS e Venezuela.
O CASO RONALDO
O que Cristiano Ronaldo fez bem? Duas coisas:
- Enfrentou a justiça espanhola com clareza e com determinação, explicando o que há a explicar e respondendo às dúvidas ou interrogações que existem.
- Comportou-se como um qualquer cidadão. Sem estar a fazer pressões ou a usar o seu estatuto de influência e mediatismo. Um bom exemplo.
O que fez mal Cristiano?
- Ter invocado que só estava ali a responder à justiça porque era Cristiano Ronaldo. Fez mal. Este é um argumento defensivo, contraproducente e, além do mais, falso. Desde logo, porque estas investigações têm recaído sobre outros atletas (Messi e Falcao, entre outros). Messi até já foi condenado.
O que vai suceder?
Há duas datas importantes.
20 de Agosto. Ele Se quiser pode voluntariamente pagar o que eventualmente não pagou. Ao que apurei, nada vai acontecer.
20 de Outubro vão ser ouvidos os peritos fiscais. E aí haverá uma de três hipóteses:
a) Os peritos dizerem que Ronaldo cumpriu as suas obrigações – e aí o processo será arquivado.
b) Os peritos dizerem que a questão é meramente de interpretação da lei – pode haver então uma correção da declaração fiscal e o pagamento dos respectivos montantes e o processo acaba em acordo.
c) Os peritos dizerem que houve intenção (dolo) de fugir ao fisco e o processo irá para julgamento.
d) Uma coisa é certa: se tiver de pagar algum valor adicional, esse encargo será suportado pelo Real Madrid.
FUTEBOL – UM MUNDO À PARTE?
Claro que sim e pelas piores razões:
Primeiro: parte dos clubes de futebol vive acima das suas possibilidades.
- Depois da crise de 2008, toda a gente por essa Europa fora fez ajustamentos nos seus orçamentos: os Estados, as empresas e as pessoas. Menos os Clubes de Futebol. Continuaram a viver à grande e à francesa. Como se viu agora com o caso Neymar. Dar 222 milhões por um jogador de futebol é um balúrdio. É uma quantia quase "pornográfica".
- Isto só contribui para uma de duas coisas: ou para ter clubes cada vez mais endividados; ou para alguns grandes magnatas fazerem lavagem de dinheiro. O "fair play" financeiro não chega. É preciso ir mais longe.
Segundo: a fuga ao fisco por parte de futebolistas de alta competição.
- Que os jogadores de futebol ganhem fortunas ainda se pode compreender. É a lei da oferta e da procura. Os jogadores valem o que os clubes pagam por eles.
- Mas que, a seguir, usem e abusem de "esquemas" para fugirem ao fisco já não é tolerável. Aqui já não é o mercado a funcionar. São os Estados a serem burlados. Isto é intolerável. É preciso mão pesada.
Finalmente, o mais grave é a tolerância da sociedade em relação a esta imoralidade no futebol.
- Se um político não cumpre a lei, cai o Carmo e a Trindade. Se um empresário ou um gestor coloca dinheiro numa "offshore", é um barulho do outro mundo. Se, ao contrário, um jogador de futebol foge ao fisco ou recorre a paraísos fiscais, já não acontece nada. Os cidadãos fecham os olhos, encolhem os ombros e "chutam para canto".
- Isto não é aceitável. Esta tolerância tem de acabar. Um atleta de alta competição tem de dar o exemplo – dentro e fora do campo.
PS EM ALTA, OPOSIÇÃO EM BAIXO
Esta sondagem SIC/Expresso tem duas conclusões essenciais: Primeira: o PS não é penalizado com os factos das últimas semanas. Não me surpreende. Eu já aqui tinha antecipado essa hipótese.
a) Os portugueses não dão uma grande importância política às questões de Estado. Valorizam muito mais a economia, o emprego, o poder de compra dos salários e das pensões. E a economia, essa, está a crescer.
b) O Governo nem sempre esteve bem nestes casos. Só que a oposição não esteve melhor. E se a oposição não esteve bem não capitaliza com os erros do Governo. Tão simples quanto isso.
Segunda conclusão: esta sondagem é um aviso muito sério à oposição. O PSD está com 28%, um dos piores resultados de sempre. O CDS está com 6,9%. Os dois somados (35%) não dá para ganhar eleições e muito menos com maioria absoluta.
a) Ora, estes dados deviam merecer uma reflexão muito séria por parte da oposição.
- Primeiro, porque se PSD e CDS não melhoram no pior momento do Governo, então quando é que vão melhorar?
- Segundo, se não melhorarem nos próximos meses, correm o sério risco de passarem 8 anos seguidos na oposição. Se dois anos de oposição já parece uma eternidade, 8 anos é um susto.
b) Por tudo isto, a oposição, a seguir às autárquicas, devia parar para pensar. Pensar em novas causas; pensar mais no futuro que no passado; acentuar diferenças programáticas em relação ao Governo; e ter uma atitude mais positiva e ambiciosa em relação ao país.
MAIORIA ABSOLUTA É POSSÍVEL?
A sondagem SIC/Expresso é mais uma a dizer que o PS vai tentar, em 2019, uma maioria absoluta. Aqui chegados, há duas questões essenciais que se colocam:
Primeira: uma maioria absoluta, depois de 2019, é assim tão importante para o PS? Eu diria que sim.
- Repetir esta "coligação a três" num segundo mandato não é uma tarefa fácil. Há demasiadas divergências entre os três partidos. Estas divergências podem ser "geríveis" durante quatro anos mas dificilmente são geríveis durante oito anos. O poder desgasta.
- Hoje, para se unir, a "geringonça" invoca sempre um inimigo externo: o anterior Governo de Passos Coelho. É o grande cimento da "geringonça". Só que depois de 2019 a comparação já não é com Passos Coelho. Desaparece o inimigo externo e o "papão" Passos Coelho. Aí manter a estabilidade da coligação é mais difícil.
- Conclusão: sem maioria, o PS pode não conseguir fazer uma segunda "geringonça". Se a conseguir fazer, ela pode não durar um mandato inteiro. Um segundo Governo Costa pode ser uma espécie de segundo Governo Guterres. Cair a meio do mandato.
Segunda questão: vai ser fácil o PS chegar à maioria absoluta? Eu diria que não.
a) Primeiro: uma maioria absoluta exige 44 ou 45% dos votos. É muito difícil.
b) Segundo: para se ter uma maioria é preciso pedi-la expressamente aos eleitores. O PS não o pode fazer, sob pena de "comprar" uma guerra com os seus parceiros.
c) Terceiro: a ideia de uma maioria absoluta tem a oposição de muita gente: a oposição do PSD e do CDS – se não puderem ganhar, ao menos quererão evitar uma maioria absoluta dos adversários; a oposição do BE e do PCP – se o PS tiver uma maioria absoluta, o Bloco e o PCP são descartáveis; finalmente a oposição dos agentes económicos e sociais – com um governo de maioria perdem poder de influência.
A DÍVIDA E AS GREVES – AS AMEAÇAS AO GOVERNO
O continuado aumento da dívida e o "regresso" das greves são o grande calcanhar de Aquiles do Governo.
Aumento da dívida
a) A dívida pública continua a subir (dados do BdP), estando já nos 250 mil milhões, em termos absolutos, e em 130% do PIB;
b) Este é um dos pontos mais fracos do Governo. António Costa devia aproveitar esta oportunidade histórica de um bom crescimento da economia para reduzir a dívida pública. Não o fazer é um erro estratégico.
c) Esta situação vai ter uma consequência séria no curto prazo: vai impedir a subida do rating da República ainda este ano. Está meio mundo à espera que as agências de rating subam o rating e tirem Portugal do nível "lixo" ainda este ano. Muito provavelmente isso não vai suceder este ano. Só em 2018. Por causa da dívida. Será uma derrota para o Governo e uma má solução para o país.
Regresso das greves
a) De repente, surgiu um surto de novas greves no horizonte: juízes, enfermeiros, técnicos do SEF e várias outras.
b) Por que é que isto sucede? Duas razões:
- Primeiro: quando a oposição orgânica (política, tradicional) falha, a oposição inorgânica aparece e ganha mais força. É o que está a suceder. Falham os partidos, voltam os sindicatos.
- Segundo: é o efeito da fragilização do Governo. Quando o Governo está mais fraco, os sectores sindicais ganham força (sobretudo os sindicatos com marca PCP). É um clássico.
A "DITADURA" DA VENEZUELA
Confirmou-se tudo o que aqui sublinhei na semana passada:
a) Eleições viciadas;
b) Endurecimento do regime, a caminho de uma ditadura;
c) Isolamento internacional (até a Santa Sé e a Mercosul condenaram a eleição. Quase só Cuba reconhece a nova Assembleia).
A UE reagiu com firmeza e inteligência – condenando a eleição mas não aplicando sanções.
a) Pelo menos, nesta fase, as sanções só serviriam para Maduro unir os Venezuelanos em torno de si e contra o "inimigo externo".
b) As sanções seriam um factor de mobilização interna – o cimento que o regime desejaria para virar o povo venezuelano contra os "inimigos da Venezuela".
Portugal
a) Andou bem o Governo e andou bem o PSD. O Governo porque não teve pejo em condenar a eleição. O PSD porque não teve medo de se colocar abertamente ao lado do Governo nesta matéria.
b) O PCP continua pré-histórico, ao apoiar mais uma ditadura em ascensão (já assim era com a Coreia do Norte).
c) O CDS usou uma xico-espertice – um debate na AR para tentar mostrar as divergências na geringonça (entre o PCP e o PS). É o tacticismo habitual.
OPERAÇÃO AUTÁRQUICAS
OS TRÊS CONCELHOS MAIS JOVENS DO PAÍS
ODIVELAS
- A vitória do PS é o cenário mais previsível, apesar de o Presidente da Câmara nunca ter ido a votos. Herdou a presidência a meio do mandato.
- Só que é um concelho sociologicamente socialista e a Câmara foi sempre do PS.
- Falta saber o peso de Fernando Seara, que não é de Odivelas, que já foi candidato em Sintra, depois saltou para Lisboa e agora saltou para Odivelas. Falta saber como reage o eleitorado a tanto salto em comprimento.
Candidatos:
PS – Hugo Martins
PSD/CDS – Fernando Seara
CDU – Fernando Painho Ferreira
BE – Paulo Sousa
TROFA
- A vitória da coligação PSD/CDS é o cenário mais provável. O Presidente está em primeiro mandato e tem uma imagem positiva.
Candidatos:PSD/CDS – Sérgio Humberto Silva
PS – Amadeu DiasCDU – Fernando Sá
VIZELA
- Uma grande divisão no campo do PS. Na prática, há dois candidatos da área socialista.
- Um que é o candidato oficial. O outro que é candidato independente. E o Presidente da Câmara, também socialista, não se recandidata.
- Uma eleição em que está tudo em aberto.
Candidatos:
PS – João Ilídio Costa
PSD/CDS – Jorge Pedrosa
CDU – Carmezim Oliveira
INDEPENDENTE – Victor Hugo Salgado