Opinião
Os erros de diagnóstico
Os banqueiros foram incompetentes e imprudentes, mas foram os políticos que não corrigiram os desequilíbrios que não podiam desconhecer e que se serviram dos recursos dos bancos para encobrir os erros de política económica e de modelo de desenvolvimento.
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A FRASE...
"O BES foi o banco de toda a oligarquia política, durante muitos anos e não só do PS."
José Pacheco Pereira, Público, 23 de Março de 2019
A ANÁLISE...
Quem comete um erro de diagnóstico condena-se a aplicar recursos, analíticos e financeiros, sem conseguir corrigir os desequilíbrios que geram a patologia. A questão relevante não é o BES ter sido o banco de toda a oligarquia política, a questão essencial é todo o sistema bancário nacional ter sido continuadamente instrumentalizado pelo sistema político sem que este tenha conseguido produzir uma estratégia de desenvolvimento que sustentasse o crescimento económico. Que alguns, no poder e na banca, se tenham aproveitado dessa lacuna para extrair benefícios próprios, é inerente à natureza humana e à atracção pela propina e pela gorjeta, mas não é a causa originária. Os banqueiros foram incompetentes e imprudentes, mas foram os políticos que não corrigiram os desequilíbrios que não podiam desconhecer e que se serviram dos recursos dos bancos para encobrir os erros de política económica e de modelo de desenvolvimento.
Tudo realmente começou com as nacionalizações de bancos e empresas nacionais em 1975, com o objectivo de evitar que se organizasse uma frente de resistência à descolonização. Depois deste episódio de voluntarismo revolucionário, não se fez o ajustamento do modelo de desenvolvimento a esta nova realidade em que desapareceram capital e os centros de acumulação de capital. Continuaram as políticas distributivas, como se nada tivesse acontecido ao potencial de crescimento da economia. Dois acordos de emergência com o FMI e a integração europeia encobriram os desequilíbrios, mas a disciplina da moeda única veio mostrar que uma economia endividada pelo orçamento, pela balança de pagamentos e pelo financiamento das privatizações das empresas nacionalizadas em 1975 ficava sem potencial de crescimento. Foi isto que a crise bancária de 2008 veio tornar evidente: os bancos nacionais eram os financiadores disto tudo, mas não eram donos de nada, apenas escondiam nos seus balanços as imparidades que os iriam destruir. Mas é no sistema político que sempre esteve a maior imparidade, a ausência de um modelo de desenvolvimento que sustente o crescimento - isto é, que seja competitivo antes de ser distributivo.
Quem erra o diagnóstico nunca vai encontrar a cura. Tratará de outras coisas, mas não a doença.
Artigo está em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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