Opinião
O Governo e o País
Quem só vê o desejo, pode ver o país, mas não vê a economia nem a política. Quem só vê a necessidade, pode ver a economia, mas não vê o país nem a política.
"O quadro político agora criado torna inconciliáveis duas realidades: o governo e o país."
Cipriano Justo - dirigente da Renovação Comunista, In Público, 09.03.13
A esfera económica existe no interior de uma constelação onde também estão as esferas política e social. O que se decide para a esfera económica não pode ser independente do que vai acontecer na esfera política e na esfera social em reacção – de adaptação ou de rejeição – ao que foi programado para a esfera económica. A qualidade de cada decisão não se avalia em si mesma, mas sim pela harmonia do padrão que é estabelecido nos efeitos que tem na constelação das três esferas.
Quando se comparam duas realidades (como o "governo" e o "país") para revelar que são inconciliáveis, não se pode deixar de questionar o que provoca esta divergência. De um lado estará o que o governo considera necessário, do outro lado está o que o país considera desejável. Nada garante que estas duas realidades tenham de ser convergentes, pois entre elas há uma terceira realidade, aquela que é determinada pela possibilidade. É esta terceira realidade (a que está mais condicionada pela esfera económica) que determina o sentido efectivo das outras duas realidades, a da necessidade (do governo) e a do desejo (do país).
Quem só vê o desejo, pode ver o país, mas não vê a economia nem a política. Quem só vê a necessidade, pode ver a economia, mas não vê o país nem a política. Para ver a economia, a política e o país, é preciso estabelecer a harmonia da possibilidade e não permitir que se vá para além dela, porque ir para além desses limites – seja em função do desejo, seja em nome da necessidade – implica precipitar-se no vazio da descontinuidade, onde o presente não liga o passado com o futuro.