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Banco de Amorim no Brasil: “Minha vida agora é explicar que não temos nada a ver com o PCC”

“Dez presidentes de bancos ligando para mim de madrugada: ‘Poxa, Francisco, o que é isso? Você tem que explicar os detalhes. Porque você não pode deixar sem respostas’”, confidenciou o presidente do BLB sobre a operação do Ministério Público que liga o banco à maior organização criminosa do Brasil.

O Banco Luso Brasileiro (BLB) tem sede em São Paulo.
13 de Novembro de 2024 às 13:12
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"Até agora eu estou fazendo reuniões. Eu tenho quatro, cinco reuniões por dia aqui. Para tornar claro para o mercado que nós não tínhamos nada a ver com isso [lavagem de dinheiro do PCC]. Dez presidentes de bancos ligando para mim de madrugada: ‘Poxa, Francisco, o que é isso? Você tem que explicar os detalhes. Porque você não pode deixar sem respostas’", confidenciou o presidente do Banco Luso Brasileiro (BLB) ao jornal Estado de S. Paulo. 

 

A 9 de abril deste ano, o Ministério Público de São Paulo espoletou a Operação Fim de Linha, que tem como objetivo desmantelar organizações que alegadamente fazem lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de duas empresas de autocarros - a Transwolff e a Upbus – que atuam no transporte urbano de passageiros da cidade paulista, no âmbito do qual é citado o BLB, banco onde o Grupo Américo Amorim é o segundo maior acionista. 

Desde então que a rotina de José Francisco Fernandes Ribeiro, segundo o próprio presidente do BLB, tem sido explicar que o banco não tem nada a ver com aquela que é considerada a maior organização criminosa do Brasil. 

Em recente entrevista ao jornal paulista, Ribeiro contou ter repetido milhares de vezes as mesmas explicações, mostrado os mesmos documentos, inclusive para a própria família. Uma situação que, garante Ribeiro, poderia ter sido evitado se os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO) tivessem solicitado explicações sobre as transações realizadas com a Transwolff. 

"Em momento algum fomos procurados, fomos indiciados, em momento algum. Nem pelo Banco Central, nem pelo próprio Ministério Público. Tudo que nós ficamos sabendo foi através de notícias", afiançou o líder do BLB. 

 

Seriam cerca de 23 milhões de reais (quatro milhões de euro) que BLB teria repassado para a Transwolff por meio de 88 cheques, em "compra simulada" de autocarros, dinheiro usado pela empresa para formar capital e participar de licitações públicas.  

"Embora o banco tenha sido citado 15 vezes na denúncia, nenhum dirigente da instituição foi preso, denunciado ou alvo da operação de buscas em abril", nota o jornal brasileiro. 

Para Ribeiro, o Ministério Público fez uma ilação irresponsável porque os 88 contratos citados são operações de financiamento de autocarros zero quilómetros, cujos processos foram aprovados, um a um, pela Secretaria dos Transportes e pela SPTrans, que assinaram como anuentes da operação financeira. 
 

"Por essa tese da Promotoria, segundo o presidente, praticamente toda a prefeitura estaria envolvida na lavagem de dinheiro do PCC. "Todo mundo estaria envolvido. Mas não tem isso, não tem lavagem de dinheiro. É isso que queremos falar. Nós financiamos veículos zero quilómetros. E não foi a primeira vez’", sublinhou o presidente do BLB. 

"Vocês matam uma pessoa e quebram uma empresa, do dia para a noite" 

Ainda em entrevista ao Estado de S. Paulo, Ribeiro disse que os compradores dos autocarros deram entrada, usando o dinheiro da venda dos veículos usados, e financiaram o saldo remanescente em 60 vezes.  

"Houve a alienação dos bens, como qualquer operação do tipo, com a diferença de haver uma garantida de pagamento do próprio município", contou ao diário. 

"Vocês [promotores] têm que ter mais responsabilidade no que fazem, como eu tenho responsabilidade no que eu faço. Eu não posso sair aí acusando alguém se eu não tiver provas. Porque vocês matam uma pessoa e quebram uma empresa, do dia para a noite. Isso para mim é um ato irresponsável", acusou o presidente do BLB. 

"Uma informação que poderia ajudar a Promotoria a entender melhor a operação", considerou, Ribeiro, "seria conhecer a rotina do banco, que não trabalha com dinheiro em espécie e, assim, não teria como fazer lavagem de dinheiro de origem desconhecida". 

"Nós não temos isso [movimentação em dinheiro]. Nós temos um caixa, mas não recebemos dinheiro aqui dentro do banco. Nós não temos um depósito dessas pessoas físicas aqui dentro do banco, porque nenhum deles [dos contratos] tem conta aqui no banco. Nenhum deles", assegurou. 
 

"O que mais me chama a atenção é que eles estão demonizando o banco, sendo que os cheques não foram depositados aqui. Foram todos no Banco do Brasil. Todos lá. Por que não demonizam o Banco do Brasil?", questionou José Francisco Fernandes Ribeiro. 

Contactado para comentar as afirmações de Ribeiro, o Ministério Público de São Paulo disse ao jornal "que, neste caso, limitou-se a oficiar o Banco Central, não tendo tomado nenhuma outra providência". 
 

"A Promotoria não explicou por que os dirigentes do banco não foram denunciados ou foi tomada outra providência contra eles. Os promotores também não explicaram qual seria exatamente a participação do Banco Luso na lavagem do dinheiro para o PCC", sinalizou o jornal. 

Já o Banco Central do Brasil disse que "não comenta ações de supervisão em instituições específicas. Como supervisor, atua continuamente para assegurar a solidez e a eficiência do SFN (Sistema Financeiro Nacional) e o regular funcionamento das instituições que o compõem", explicou. 

BLB desvaloriza investigação sobre "operações simples" 

No final de setembro passado, quando contactado pelo Negócios, a propósito da investigação do Ministério Público de São Paulo, o BLB enviou um comunicado sobre o caso: "Temos registo detalhado de todos os eventos que geraram questionamentos e já concluímos auditoria interna que atestou a qualidade e a regularidade de cada um dos contratos", começava por informar. 
 
"Trata-se de uma série de operações de financiamento absolutamente trivial a pequenos operadores de ônibus que atuam em regiões periféricas do município de São Paulo como subcontratados de uma empresa licitada pela prefeitura. Por esse motivo, a empresa licitada contratada constava nos contratos como anuente", alegava o BLB. 

Para o banco, que celebra este ano 36 anos de existência, em causa estiveram "operações simples, com tomadores de crédito conhecidos e com os próprios ônibus listados como garantia real", assegurando que "todos esses dados são de conhecimento das autoridades". 

 

Família mais rica de Portugal ocupa três cadeiras na administração do BLB 

Após ter acumulado 106,2 milhões de reais (18,4 milhões de euros, ao câmbio atual) nos primeiros 30 meses da coliderança Amorim, nos últimos quase 10 anos o BLB agregou lucros de 243,2 milhões de reais (42,2 milhões de euros), dos quais 42 milhões (7,3 milhões de euros) foram obtidos em 2023, mais 8,3% face ao ano anterior. 

Principal componente do ativo de 3,2 mil milhões de reais (555 milhões de euros), a carteira de crédito do BLB cresceu 37% para 2,6 mil milhões de reais (451 milhões de euros), dos quais 61% foram provenientes do segmento de transporte público, o seu "core". 

 

Ribeiro lidera a administração do BLB, onde, entre outros, têm assento Marta Amorim (filha do falecido Américo), o seu cunhado Francisco Teixeira Rêgo (casado com Luísa Amorim) e Jorge Seabra de Freitas, os quais integram a cúpula do grupo da família mais rica de Portugal. 

 
O BLB foi fundado em 1988 por Manuel Rodrigues Tavares de Almeida, que saiu de Bocas do Vouga, Aveiro, aos 18 anos, rumo ao Brasil, onde começou por trabalhar na padaria de um tio em São Paulo. 


Amorim vende um terço ao Mônaco e fica com 32,8% do BLB 

O "Almeidão", como era conhecido, chegou a ter uma dúzia de padarias, às quais se juntaram bares, postos de gasolina, aguardentes com marcas reconhecidas como "3 Fazendas" e "Tatuzinho", entre muitos outros negócios. Morreu em setembro de 2015, quando o grupo era já liderado pelo filho, que detém o mesmo nome do progenitor. 

Quase quatro anos antes, em janeiro de 2012, o entretanto falecido Américo Amorim e o grupo local Ruas e Cunha (RC) entraram no capital do banco com 33% cada, numa injeção global da ordem dos 50 milhões de reais (8,7 milhões de euros ao câmbio atual). Dois anos depois, através de um novo aumento de capital, de 60 milhões de reais (10,4 milhões de euros), fixaram as suas participações em 43% cada. 

Um reforço que surgiu na sequência de a família fundadora do BLB ter sido acusada de prestar informação falsa ao Banco Central do Brasil, sonegação fiscal e uso de notas falsas. Já em dezembro passado, através do cancelamento das ações mantidas em tesouraria, os dois grupos passaram a deter, cada um, 49,2302% do capital do banco, com a família fundadora do banco a reduzir a sua participação para uns residuais 1,5396%. 

Já este ano, sabe o Negócios, o Grupo Américo Amorim vendeu 16,43 pontos dos seus 49,23% ao grupo brasileiro Mônaco, reduzindo a sua posição no banco para 32,8%. O novo acionista também adquiriu 8,23 pontos ao grupo RC, que passa a ser, a solo, o maior acionista do BLB com uma participação de 41%. 

O grupo Mônaco, que se apresenta como "líder nas vendas de veículos em sete estados brasileiros", anunciou a 13 de agosto passado, sem detalhar, que era o novo acionista da instituição financeira paulista, que classificou como "referência nacional no financiamento de transportes coletivos e cargas". 

"Decidimos investir no Banco Luso Brasileiro por entender a relevância da instituição para o nosso segmento de mercado, trazendo a garantia de produtos e serviços de qualidade que estão alinhados com o ecossistema de soluções do grupo Mônaco", afirmou o CEO, Rui Denardin, em comunicado.

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