Opinião
A Mão Visível* - Protocolo de produção
O objecto de observação da coluna A Mão Visível, promovida por um pequeno grupo de cidadãos (Jorge Marrão, Joaquim Aguiar, Camilo Lourenço e Miguel Beleza) começa sempre por uma frase proferida nos media que, em geral, pretendem iluminar um assunto/finalidade. Mas, desde que iluminados, todos os objectos têm uma sombra de que não se podem separar e a que, geralmente, não se atribui especial importância. Mas sendo a sombra indissociável do objecto, pode oferecer informação adicional que contribui para se compreender melhor o objecto que se observa.
Os conceitos e as frases não são corpos nem objectos, o que significa que, mesmo quando iluminados, não têm sombra. Mas têm um outro lado, têm face e verso, e variam em função da perspectiva.
Maquiavel recomendava que para se observar o príncipe convém ser do povo e para se observar o povo convém ser príncipe. Leonardo da Vinci ensinava a perspectiva aérea como a técnica de pintar o vale do cimo da montanha e pintar a montanha do fundo do vale. A cultura chinesa aconselha a que se respeite o método dos quatro horizontes, fazendo a articulação de múltiplas perspectivas para captar o que não se vê quando se está numa posição fixa. Maquiavel compreendeu o que nem o príncipe nem o povo podiam saber. Leonardo da Vinci desenhou plantas de cidades e mapas de grandes espaços sem ter voado. Os chineses sabem que a arte suprema da guerra é vencer sem combater, aproveitando a propensão das coisas.
Cada objecto oferece uma sombra para analisar, cada frase ou conceito inclui um lado e outro lado. A paralaxe é o movimento aparente de um objecto ou a variação de sentido de conceitos e frases quando o observador muda de posição.
Mostrar o que está na sombra dos objectos e o que está do outro lado dos conceitos e das frases é um modo de descobrir o que está encoberto e de revelar o que está implícito, designadamente as consequências directas e escondidas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
A sombra que se pretende explicitar são os efeitos escondidos das escolhas visíveis, não apenas teorias e factos, para que se tornem menos ambíguas na sociedade. Procurar-se a explicitação do custo de oportunidade de cada escolha e os modelos de incentivos subjacentes.
Dotar-se-á a sociedade de um novo instrumento de observação da realidade sugerida pela sombra das coisas? O tempo o dirá.
* Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.