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Guerra no BCP 2.0: Castro Henriques denuncia “falsidades e distorções” de Filipe Pinhal

Quase duas décadas depois da guerra pelo poder no BCP, o caso ainda gera tensões. António Castro Henriques, ex-administrador do banco, desmente tese do “assalto” à instituição defendida por Filipe Pinhal.

Paulo Duarte
14 de Novembro de 2024 às 14:00
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Dezassete anos depois da guerra pelo poder no BCP entre duas fações lideradas por Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto – que culminaria na saída de ambos da instituição - o conflito está novamente a motivar tensões.
Em causa está o lançamento de "Estes portugueses são do piorio", de Filipe Pinhal, antigo administrador do banco que apoiava Jardim Gonçalves. Na obra, o gestor refere-se ao chamado "assalto ao BCP" de 2007 – nome pelo qual ficou conhecida uma alegada tentativa de tomada de poder do banco com o apoio do Governo de então, liderado por José Sócrates.

Uma tese desmentida por António Castro Henriques - que esteve no outro lado da barricada - numa carta aberta dirigida a Filipe Pinhal. "A tese do assalto teve por objetivo lançar uma cortina de fumo que desviasse a atenção pública da matéria dos processos contraordenacionais e criminais que se seguiriam, de modo que os mesmos fossem interpretados como instrumentos da alegada ofensiva. Terá sido uma tentativa de desinformação e de vitimização com que obteve um razoável êxito", escreve o antigo administrador do banco.

Castro Henriques vai mais longe e escreve mesmo que o livro de Pinhal está repleto de "falsidades, distorções e meias-verdades".

"Muito boa gente ainda hoje acredita que as mudanças operadas no BCP em 2008 foram originalmente arquitetadas, patrocinadas ou mesmo causadas por José Sócrates, Fernando Teixeira dos Santos e Vitor Constâncio e seus ‘mandantes, cúmplices e operacionais’. Ora, nada é menos verdadeiro", lamenta o gestor.

Castro Henriques dirige-se diretamente a Filipe Pinhal. "O seu escrito desdobra-se em imaginativas cronologias do pretenso assalto, que tanto teria começado a ser planeado em 2004/5 entre pessoas ligadas ao "Compromisso Portugal", como teria sido municiado com financiamentos e outras facilidades concedidas pela Caixa Geral de Depósitos, pelo Banco Espírito Santo e pelo próprio BCP a alguns dos acionistas que integrariam as hordas assaltantes, como ainda disporia de apoio governamental e das autoridades de mercado", acusa, especificando que "quanta aos objetivos, tratar-se-ia de servir certos notáveis, que ambicionavam administrar a BCP, de reforçar o poder de uma mão-cheia de acionistas, que assim lograriam não ter de reembolsar as suas dívidas ao banco, de alargar a base de apoio do novo presidente executivo, Paulo Teixeira Pinto, de quem, oportunamente, os assaltantes se libertariam, ou, mais candidamente, de dispor de um BCP mais dócil aos desígnios governamentais".

"Tudo isto", ironiza, "beneficia da atuação inerente às teorias da conspiração, mas não é minimamente rigoroso. A causa verdadeira da crise foi interna e é muito menos sexy: radica numa condução desastrada do processo de sucessão de Jardim Gonçalves à cabeça de poder executivo do banco".

Castro Henriques explica depois que a saída de Jardim Gonçalves da presidência executiva do BCP esteve relacionada sobretudo com a idade e que o conflito que se seguiu ficou a dever-se mais ao facto de o sucessor Paulo Teixeira Pinto, "contrariamente ao que seria a expetativa de muitos, não se viu vinculado a atuar como mero sucessor, agindo sob o comando" do ex-CEO, agora presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS). "Adotou um modelo e estilo de liderança próprios e procurou colher apoio para uma visão estratégica continuadora, mas distinta da que, até então, vigorara. Diversos membros do CGS foram, desde o início, abertamente críticos deste posicionamento", recorda.

Em causa na guerra do BCP esteve um clima de tensão crescente entre dois grupos de acionistas que apoiavam, cada um deles, os principais rostos do BCP: de um lado, Jardim Gonçalves, o fundador que nessa altura era presidente do Conselho Superior e do Conselho Geral e de Supervisão, defendido pelos acionistas que com ele estavam desde a fundação do banco; do outro, Paulo Teixeira Pinto, o presidente executivo que chegou ao lugar enquanto delfim do primeiro e que tinha o apoio do chamado "grupo dos sete", constituído por Joe Berardo, Bernardo Moniz da Maia, Manuel Fino, Filipe de Botton, Diogo Vaz Guedes, João Pereira Coutinho e Vasco Pessanha.

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