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10 de Dezembro de 2013 às 00:01

F. - Portugal é uma figura de mulher

A propósito da necessidade de decidir qual a mensagem a deixar como legado à sua neta, Pedro Arroja abre-nos uma janela sobre o seu pensamento, nomeadamente a sua visão sobre o que é Portugal.

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O autor ajuda-nos a compreender o que, na sua perspectiva, nos caracteriza como povo e comunidade e nos distingue dos demais países. Guia-nos sobre os reais motivos que levaram à situação que agora se vive em Portugal, arriscando planos para uma saída sustentável da crise. Porém, desengane-se o leitor se pensar que este é um livro sobre a crise. Longe disso. Este livro é sobre Portugal e desafia-nos em quase todas as páginas.

Há alguns pontos de partida na exposição que nos é proposta. O primeiro deles é que Portugal constitui uma comunidade, dado que partilha um conjunto de valores e tradições. Essas tradições, na definição do autor, têm apenas elementos positivos que são transmitidos geracionalmente. A tradição é o património da comunidade. Explica-se que isso é mais importante do que parece.

 

Outra ideia importante, na qual assenta grande parte do livro, é que Portugal é um país de cultura católica, o que nos distingue dos países do Centro da Europa e dos EUA, que são de matriz protestante. Ao longo do livro é praticamente constante o "confronto" entres as matrizes católica e protestante, daí retirando-se explicações sobre a comunidade portuguesa e de como tem sido desvirtuada pela importação de ideias e instituições protestantes, com os partidos políticos à cabeça e com a União Europeia em pano de fundo. A UE tem permitido e incentivado a disseminação de ideias anglo-saxónicas e protestantes, afastando Portugal do que lhe é mais profundo e tradicional. A vivência da comunidade em consonância com a sua tradição torna-se mais difícil, sendo fonte de problemas em todas as dimensões. Não surpreende, portanto, que a receita para sair da crise passe pela tradição espiritual católica portuguesa, com o plano de acção devidamente descrito mais ou menos a meio do livro.

"F. - Portugal é uma figura de mulher" não é um livro consensual, pelo contrário. O próprio autor alvitra que o dissenso é um atributo da comunidade nacional. Em alguns momentos, a forma como se valoriza a tradição pode ser confundida com o propagar de ideias mais reacionárias, mas isso seria apenas analisar ao de leve, preso a preconceitos morais e políticos. Portanto, é impossível pensar por vezes que estamos perante um livro que defende um Portugal com menos liberdade individual, eventualmente menos democrático só porque isso é o que nos tem sido legado como tradição. Mas isso talvez só aconteça porque eu próprio, como leitor, sou um filho do Portugal pós 25 de Abril, partidarizado, mais meritocrata e menos apreciador da obra, mais globalizado (no mau sentido da palavra), ciente da tradição, mas sem dúvida um produto de outro tempo, um tempo mais protestante.

Este é um livro imprescindível a quem desejar conhecer Portugal e os portugueses, mas exige um espírito muito aberto e vontade de querer, realmente, compreender.

 

 

 

 

 

 

Autor: Pedro Arroja
Editora e Data: Guerra & Paz - 2013
Frase: "A tradição (…) é o património comum da comunidade. Sem nada em comum que ligue as pessoas, não há comunidade possível."
Palavras-chave: "Comunidade"; "Tradição"; "Homem Invisível"; "Catolicismo vs. Protestantismo"; "Homem Invisível"; "Seita vs. Comunidade"; igualização
Apreciação: ****

 

 

 

 

 



*Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

filipegarcia@gmail.com

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