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[689.] Anúncios de perfumes

Nesta altura a imprensa e a TV enchem-se de anúncios de perfumes.

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Sempre entre os mais agradáveis de ver, feitos com bons orçamentos, tentam mostrar em imagens e palavras o impossível em palavras e imagens: o cheiro. Corrijo: não tentam nada mostrar o cheiro, porque não dão nenhuma informação a esse respeito. São puramente simbólicos.

 

Só num intervalo publicitário natalício passaram 11 anúncios de perfumes para homem, mulher ou ambos. Assemelham-se na ausência de explicação ou descrição do cheiro, quase prescindirem de palavras e por construírem narrativazinhas.

 

Um ou outro repete a velha estória do boy meets girl: o desejo acende-se e acabam amantes antes de nascer o Sol. É o que sucede nos reclames de Boss The Scent e de 212 VIP Men de Carolina Herrera. São ambos tipo homem conquista o topo do mundo, porque mostram ambos o topo de prédios de Nova York.

 

O mais estilizado no género é o de 1 Million e 1 Million Privé, de Paco Rabanne. Tal como no de Boss Bottles Intense, começa com um homem a vestir um smoking, mas neste ele é tipo 007, dá saltos, evita lasers de segurança, abre um cofre cuja porta é igual à embalagem do perfume, e logo está, qual King Kong, no topo dum arranha-céus com uma mulher na mão, literalmente como King Kong; mas, ao contrário do macacão, não cai por ela, liberta-se e vai-se à vida para novas conquistas. Se bem entendo, na música de fundo uma mulher diz "Ouch! Do it again". Este perfume não promete uma mulher para a vida, antes permite ao homem conquistar 1 million!

 

Também Antonio Banderas muda de mulher. Ele está rodeado delas num iate, mas aparece a tal, ela toca o alarme, toda a gente abandona o iate e ficam os dois enfronhados enquanto as outras partem nos botes salva-vidas. Estão um para o outro, porque ele usa King Seduction e ela usa Queen Seduction.
 

No reclame de Acqua di Gioio de Armani, um nadador musculado faz jus ao nome e nada debaixo de água, que é afinal o próprio perfume, e ao atingir a superfície a sua mão toca na imagem da sua mão, isto é, descobre-se a si mesmo. Um belo toque filosófico sem darmos por isso.

 

A bela Charlize Theron, usando J'Adore de Dior faz mais do que filosofia, faz religião: então não é que, como Jesus Cristo, anda milagrosamente sobre as águas? Está acima do próprio perfume, líquido que faz dela ouro - que digo eu?, faz dela tudo, "a água, a terra, o sol e eu". "Somos ouro", diz. Linda como sempre, mas o photoshop e outros efeitos digitais afastam-na tanto do real que a manipulação digital fica demasiado à vista. Os milagres não costumam ser digitais.

Ainda no género maioritário do boy meets girl, o anúncio de Light Blue de Dolce & Gabbana coloca-os em forte contacto físico em paisagem montanhosa com neve, como que a dizer que estamos no tempo de frio, não estamos em Capri, como costumam os anúncios deste perfume, ele também dá para atrair a parceira no Inverno. O entusiasmo levá-los-ia longe no amor físico, pelo que o anúncio corta-se a si mesmo, como se fosse a realização de um filme. A voz diz "Cut!" e aparece a claquete onde os marotos escreveram "Cena 69". Se não tivessem cortado, o anúncio não poderia passar na televisão generalista, não era?

 

Para variar do género boy meets girl, Nina Ricci também optou pela floresta gelada, mas esta toda gótica como as séries de TV, com a novidade de que girl meets girl. A narrativa é esquisita: encontram-se na floresta, há uma coruja ao ataque e um lobo mau (há homens maus!), e elas logo brincam na cama sem avanços eróticos, são amigas, só para dizer, talvez, que estes perfumes Nina e Luna são para mulheres que não querem cá essas poucas-vergonhas que os outros anúncios de perfumes prometem, como o de Decadence de Marc Jacobs, em que a belíssima mulher parece auto-satisfazer-se fechada numa casa. Para mais, uma decadência não basta, a marca junta-lhe a nova água de cheiro Divine Decadence! Ainda se fosse como a jovem ingénua do perfume Chloé, que se mostra toda parada e a sonhar em andar de carro com o cabelo ao vento!

 

 

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