Opinião
Capacitação dos dirigentes - uma responsabilidade partilhada?
As associações de cariz social estão, hoje, confrontadas com importantes responsabilidades e desafios, num quadro de crescente complexidade. Procuram respostas para problemas sociais complexos.
Os dirigentes associativos são um pilar essencial do associativismo voluntário. Sem dirigentes não haveria associações, nem sociedade civil - a democracia ficaria bem mais empobrecida, a economia também, não teríamos os atuais índices de tolerância social e política, as pessoas seriam menos felizes. Numa palavra: o país seria mais pobre.
Como definir os dirigentes? As associações são atores coletivos, pessoas coletivas - que integram órgãos e serviços. É aos órgãos que cabe manifestar a vontade imputável à associação. No sentido aqui utilizado, os dirigentes são os titulares desses órgãos (é o caso da mesa da assembleia, direção e conselho fiscal). E muito embora se confirme a existência de dirigentes profissionais, a esmagadora maioria é voluntária e benévola - para além de ser eleita.
As associações de cariz social estão, hoje, confrontadas com importantes responsabilidades e desafios, num quadro de crescente complexidade. Procuram respostas para problemas sociais complexos. E são agentes de transformação social - ou deveriam ser. A governação neste contexto é mais exigente. Exige dirigentes mais disponíveis e mais bem preparados.
Mais disponibilidade implica uma outra regulação do trabalho e em particular do tempo de trabalho. A maioria dos dirigentes voluntários acumula a sua atividade profissional com o trabalho na associação. Dirigentes voluntários que trabalham 10 ou 12 horas por dia, que não têm hora para sair, que estão confrontados com bancos de horas, pouco ou nada podem dar na associação. Na verdade, o tempo não estica. A desregulação do horário de trabalho veio - importa dizê-lo - fragilizar a sociedade civil.
Por outro lado, ter dirigentes mais bem preparados implica uma forte aposta na capacitação - e um outro modelo de capacitação. Significa, designadamente:
- Continuar a investir em áreas de formação tradicionais: cultura associativa, gestão, legislação, desenvolvimento pessoal;
- Apostar também em novas áreas temáticas: por exemplo, programas que facilitem a mobilização e a operacionalização do capital social nas comunidades;
- Partilhar responsabilidades, com respeito pela autonomia das associações (com o Estado central, as autarquias locais e as estruturas representativas das "famílias" associativas a trabalhar em conjunto). A nossa Constituição remete para a necessidade de colaboração entre o Estado e as associações - ora, esta é uma das áreas onde essa colaboração faz mais sentido.
A Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto defende este novo modelo de capacitação e tem procurado pô-lo em prática - quer com a implementação de novas ações, quer através da celebração de vários protocolos com autarquias. Para além disso, apresentou na Assembleia da República uma proposta que visa aprofundar a referida partilha de responsabilidades, por via da revisão - e revalorização - do estatuto do dirigente associativo voluntário. Vamos ver o que dizem os nossos deputados.
Revista Análise Associativa
Foi recentemente publicado o n.º 6 da Análise Associativa, a revista da Confederação Portuguesa de Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD).
O tema em destaque é "Governação e Sustentabilidade das Associações", com textos de Maria Luísa Pedroso de Lima, Sérgio Pratas, Cristina Casais Ribeiro, Fernando Vaz e Pierre Marie. Este número contém, ainda, uma entrevista com Augusto Flor, presidente da direção da CPCCRD, e estudos sobre associativismo e economia social, de Nuno Nunes e Cristina Fernandes, Emanuel Rodrigues e Albertina Alves. Brevemente, esta edição vai estar acessível online.
Dia da Mulher, um dia de reflexão de todos
A Beneficência Familiar - Associação Mutualista do Porto realiza, na manhã do dia 7 de março, uma sessão com documentário e debate sobre o tema "Dia da Mulher, um dia de reflexão de todos". A sessão terá lugar na sua sede (rua Formosa, 321-1.º) e contará com a intervenção de Catarina Oliveira, psicóloga clínica e de Sandra Carvalho, gerontóloga.
A organização lançou uma pergunta para reflexão, que servirá de mote para o debate: "7 mil milhões de Outros, é mais o que nos une ou o que nos separa?". A entrada é livre.
A Beneficência Familiar é uma mutualidade criada em 1877 e tem cerca de 46 mil associados.
Vice-presidente da direção da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto