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Economia invisível

A nossa organização económico-social assenta, entre outros, no princípio (constitucional) da coexistência do setor público, do setor privado e do setor cooperativo e social.

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Isso não significa, todavia, que os três setores tenham de ter exatamente o mesmo peso ou preponderância. O Estado pode definir políticas para influenciar a dimensão de cada um dos setores, deslocar as balizas entre eles.

 

No entanto, uma coisa é o peso real de cada um desses setores, em cada momento, que pode ser medido, analisado objetivamente, e outra, bem distinta, é a perceção que os portugueses têm sobre a importância de cada setor. No que respeita ao setor cooperativo e social, verifica-se um fosso enorme entre a realidade e a perceção. O setor - e a economia social, em geral - enfrentam um problema sério de reconhecimento e visibilidade. E isso tem implicações a vários níveis: no financiamento de projetos, no recrutamento de voluntários (dirigentes e outros), na captação de utentes, na relação com os outros setores.

 

Será que é possível alterar esta realidade? Ou estaremos perante uma inevitabilidade? A tese que aqui se defende é a de que é possível alterar a situação - e que a mudança depende, em grande medida, do próprio setor. Como? Através de uma intervenção planeada, conduzida com determinação, e com um foco claro: é preciso aumentar o conhecimento (e a divulgação desse conhecimento); reforçar a autonomia; promover a cooperação e as parcerias; e aprofundar a identidade.

 

Aumentar o conhecimento. Não há reconhecimento sem conhecimento. Antes da primeira Conta Satélite da Economia Social, relativa a 2010, o conhecimento sobre esta realidade era insipiente, fragmentado, desigual, contraditório. As Contas Satélite (a de 2010 e a de 2013) deram um contributo para mudar essa situação - sobretudo no que respeita a grandes números. Ficámos a saber, por exemplo, que, em 2013, a economia social representou 2,7% da produção nacional e 2,8% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) nacional, 5,2% das remunerações e 6% do emprego remunerado. Foi importante. Mas há ainda um longo caminho a percorrer.

 

Reforçar a autonomia. A dois níveis. É fundamental diversificar as fontes de financiamento - para haver mais independência. Mas é igualmente essencial que as organizações sociais se afirmem com um propósito e objetivos próprios, autónomos (e não como delegações do Estado). Ao Estado o que é do Estado e à economia social o que é da economia social.

 

Promover a cooperação e as parcerias. Existem atualmente cerca de 61.000 organizações da economia social. Isoladamente não terão muita força. Em conjunto são um poder. Uma área que merece particular atenção é a da comunicação. Por via da cooperação é possível investir mais e melhor - por exemplo, contratando empresas de comunicação. E dar maior visibilidade ao que se faz.

 

Aprofundar a identidade. Como afirma Rui Namorado, a economia social para assumir por completo a sua identidade não deve ser só "uma terapêutica apta a minorar os efeitos dos sofrimentos sociais do presente, mas também uma imaginação libertadora de um futuro que os elimine". Economia social deve ser (e cada vez mais) sinónimo de solidariedade, inconformismo e transformação social. Só assim evitará a secundarização.

 

CIRSI 2018

 

O 1.º Congresso Internacional de Respostas Sociais Inclusivas (CIRSI 2018) tem lugar entre 25 e 27 de outubro, na Fábrica das Palavras, em Vila Franca de Xira.

 

A iniciativa é organizada pelo município de Vila Franca de Xira, o Centro de Bem Estar Infantil de Vila Franca de Xira e a Asociación de Familiares de Enfermos de Alzheimer y otras Demencias de Galicia. O intuito do CIRSI 2018 é refletir e contribuir para a identificação dos desafios existentes na área da solidariedade social, transversais a todas as faixas etárias, e encontrar formas adequadas, sustentáveis e inclusivas de intervenção.

 

Testemunhos de fraternidade

 

Realiza-se sábado, dia 27 de outubro, a partir das 15h, no Salão Nobre dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras, a sessão de encerramento da "Semana Mutualista", uma iniciativa da Associação Portuguesa de Mutualidades.

 

Do programa consta uma palestra de António Tomás Correia, presidente do Conselho de Administração da Associação Mutualista Montepio, sobre "A génese de um banco da economia social", a apresentação de "testemunhos de fraternidade" por parte de diversas entidades da economia social e de um "tributo de fraternidade", numa homenagem ao que está feito na perspetiva do que falta fazer.   

 

Vice-presidente da direção da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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