Como membros cativos desta sociedade, temos uma necessidade insaciável de rotular todos os que connosco a habitam. Neste sentido, uma das grandes dúvidas existenciais com que se debatem muitas pessoas que desejariam seguir um rumo empreendedor é o típico "terei eu perfil de empreendedor? - poderei eu caber nesse magnífico rótulo reservado a uma elite mínima que inventa coisas fantásticas que mudam o mundo e que, quando as coisas correm bem, se transformam em multimilionários antes dos 30?"

O termo empreendedor é um rótulo recente que temo que hoje em dia esteja de moda, quase rivalizando com o clássico "empresário", que desde há muito parece caber a todos os que aparecem em revistas cor-de-rosa junto de modelos ou actrizes.

A verdade é que, por mais que queiramos perceber de antemão se temos o que é necessário para nos tornarmos empreendedores de sucesso, basta fazer uma rápida pesquisa on-line para ver a enormidade de estudos e teorias já publicados para se perceber que é um exercício que mais rapidamente nos levará à loucura do que responderá objectivamente à nossa questão.

Na sua essência, o empreendedor é um estatuto que não pode ser atribuído à priori, mas na minha opinião apenas à posteriori. Creio que o termo empreendedor deveria ser uma espécie de coroação dada a quem tenha tido a capacidade de identificar uma oportunidade, agarrá-la, e de reunir os recursos necessários para transformar a oportunidade num negócio lucrativo.

À semelhança dos que querem ser engenheiros, médicos, gestores ou advogados, não basta querer ser empreendedor para ser reconhecido como tal, é necessário muito trabalho, dedicação e persistência em torno de um projecto concreto e que dê frutos para nos transformarmos de aspirantes em empreendedores.

Deste raciocínio podia concluir-se que quem seja tipicamente mais persistente, obstinado e que tenha maior capacidade de correr riscos tem maior probabilidade de ter sucesso enquanto empreendedor. Pode ser que sim, mas eu por acaso acredito que a raiz está em algo diferente. Para mim a base de um bom empreendedor está na crença em relação ao projecto com que se está a envolver. Dos inúmeros empreendedores que já conheci e com quem já abordei estas temáticas, a conclusão que retiro é que é exactamente essa crença (quase fé incondicional) que lhes dá a persistência necessária e a vontade de lutar para se transformarem em grandes empreendedores. Da minha experiência, isto é verdade tanto para pessoas que são naturalmente mais lutadoras e persistentes como para as que tipicamente desistem mais facilmente.

Concluindo, para quem tenha uma ideia de um projecto e esteja a obcecar com a dúvida ter ou não perfil de empreendedor, o meu conselho é que desenvolvam a ideia e, sem que seja necessário largar tudo e mergulhar para o incerto, perceber o quanto acreditam na possibilidade de sucesso do projecto. Pode ser que tenham uma surpresa com o simples que por vezes é dar esse passo que por vezes mais parece um salto de fé.

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