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Francisco de Almeida 17 de Janeiro de 2013 às 10:04

Quanto vale a sua empresa?

Por cada empresa que recebe investimento, existem milhares que nunca receberam, nem receberão, um tostão de ninguém.

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Uma das principais questões que consome as ideias de muitos empreendedores que tenho conhecido é: Quanto vale a minha empresa? "Sites" de referência do empreendedorismo, jornais e afins, dão destaque, numa base diária, a novos negócios, inventados nas cafurnas de universidades de referência nos EUA, que após meros meses de existência conseguiram captar a atenção (e o capital) de grandes investidores.


Esta história, para o empreendedor mais desatento, transforma-se num verdadeira odisseia, desfocando-o, em muitos casos, do negócio que está a desenvolver. A maior parte destas publicações omite um conjunto de factores que me parecem críticos para perceber este fenómeno.


Em primeiro lugar, por cada empresa que recebe investimento, existem milhares que nunca receberam, nem receberão, um tostão de ninguém, mesmo nos EUA. Basta uma pesquisa rápida na Internet para descobrirmos inúmeras estatísticas e taxas de insucesso de novas empresas. Claramente, não são famosas (apenas uma em cada quatro "startups" tipicamente terá sucesso).


Em segundo lugar, o investimento por si só não é nenhum feito extraordinário. Deveria ser um meio para permitir um desenvolvimento sustentado de uma empresa, e não um objectivo. Na maior parte dos casos, as empresas que conseguem investimento numa fase inicial, conseguem-no através da cedência de uma parte considerável do capital social da empresa e, quando precisarem de um novo aumento de capital, este provavelmente levará a uma nova diluição de capital. Isto leva, à perda de controlo. Numa fase inicial, um investidor quer canalizar todo o investimento para o desenvolvimento do negócio, sendo o pagamento de qualquer "prémio" ao empreendedor extremamente raro.


Em terceiro lugar, boa parte do investimento que é conseguido numa fase inicial de um negócio, é conseguido mais pelo empreendedor do que pela empresa/ negócio. A demonstração de "track record" pelo empreendedor (ou seja, já foi empreendedor com sucesso, já conseguiu atrair capital, já deu rendibilidade aos accionistas) é claramente o factor mais crítico para o sucesso na atracção de capital numa fase inicial. Dos inúmeros investidores que conheci, tornou-se claro que preferem investir num negócio com potencial médio e um empreendedor com provas dadas, do que num negócio extraordinário e um empreendedor sem nada para mostrar.


Finalmente, é importante ter consciência de que Portugal não é os EUA. Em Portugal, a capacidade de investimento em "startups" é ainda muito limitada e não parece estar a acompanhar o "boom" de novas empresas de elevado potencial. Este efeito dá maior poder aos investidores, que podem dar-se ao luxo de esperar para investir em negócios com provas já dadas e menor incerteza.


Isto são tudo más notícias? Sinceramente, acredito que não e, do que tenho testemunhado, percebo que em muitos casos este contexto até funciona como uma vantagem. O "bootstrapping" (reduzir custos ao mínimo possível nas fases de teste, lançamento e desenvolvimento do negócio eliminando a necessidade de apoio externo) dá uma disciplina, foco e "drive" extraordinários aos empreendedores. Tenho conhecido empreendedores que, ao não conseguirem atrair capital, com o "pelo do cão" conseguem montar empresas vencedoras, com negócios inovadores e levá-las a actuar em mercados internacionais.


Invariavelmente, quando lhes pergunto se seria mais fácil chegar onde chegaram se tivessem conseguido atrair capital no início, respondem-me que provavelmente sim, mas que ainda bem que não o fizeram já que provavelmente já não seriam os donos das empresas.


Em jeito de conclusão, deixo um conselho para que os empreendedores desenvolvam os seus negócios até onde lhes for possível, sem o recurso a qualquer fonte de financiamento externa. Quando necessitarem, efectivamente, de investimento adicional, explorem opções adicionais como os conhecidos "3 F" (friends, fools & family), fundos públicos (como os do QREN), ou linhas de financiamento bancário. A utilização de investidores externos deve ser feita apenas quando estão esgotadas fontes alternativas e, idealmente, numa fase em que a empresa tenha já provas dadas, minimizando a incerteza, e aumentando a capacidade de atracção de capital por uma quota reduzida no capital social da empresa.

 

 

francisco@leap.pt
Managing Director da Leap

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