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23 de Maio de 2013 às 09:53

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As histórias mais recentes de empreendedores de sucesso, enaltecem o potencial do "on-line" para transformar universitários em multimilionários, em meia dúzia de anos.

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Por vezes fico com a clara sensação que actualmente o ramo empreendedor está circunscrito única e exclusivamente ao mundo on-line. Da minha recente aproximação ao mundo empreendedor em Portugal (e não só), estimo que mais de 90% das pessoas que conheci estavam envolvidas em algum tipo de startup tecnológica, com a larguíssima maioria exclusivamente focada no mercado on-line. Assistindo a conversas entre empreendedores testemunhei em várias ocasiões uma espécie de superioridade de quem desenvolve negócios de base web, e de desdém por quem não seja proficiente na linguagem dos bits e dos bites.


Se por um lado é natural que os empreendedores (ou aspirantes) sigam a clara tendência de evolução dum mercado que cresce consistentemente a dois dígitos, e que está avaliado globalmente em mais de $1 trilião (dados de 2012), creio que não deverá ser descurado o facto de que as pessoas continuam a precisar de uma enormidade de produtos e serviços físicos que muitas vezes o canal on-line não tem capacidade de transaccionar, ou por impossibilidade ou simplesmente porque a penetração de Interne a nível global ainda está abaixo dos 35% da população.


O atractivo do on-line está fundamentalmente assente em dois factores principais. Em primeiro lugar, os custos de startup são tipicamente baixos. Na maioria dos casos é possível lançar e testar um negócio com um investimento mínimo, sendo apenas fundamental um computador, uma ligação à Internet e um programador. Para um desenvolvimento mais profundo do negócio tornam-se naturalmente necessários recursos e capital adicionais, mas nessa fase já é possível ter uma prova de conceito e uma indicação do potencial do negócio, simplificando o processo de atracção de recursos e de capital. Para negócios físicos, o investimento "à cabeça" é tipicamente muito superior servindo como um factor dissuasor importante, especialmente em termos comparativos.


Em segundo lugar, as histórias mais recentes de empreendedores de sucesso, enaltecem o potencial do on-line em transformar universitários em multimilionários em meia dúzia de anos. Fundos de venture capital, business angels e outros importantes investidores depositam uma fé de tal maneira forte neste tipo de empresas que por vezes investem em conceitos interessantes mas que não apresentam qualquer viabilidade financeira, na esperança de que seja descoberto um novo modelo de negócio que transforme esse conceito específico no próximo Google ou Facebook. Esta "mensagem" reflecte-se nos empreendedores, levando à atractividade do potencial do on-line e inclusivamente ao desenvolvimento de empreendedores cujo modelo de negócio é vender conceitos a investidores, independentemente da sua viabilidade financeira.


No entanto, na minha perspectiva, o canal on-line funciona como uma espécie de oleoduto. As pessoas estão dispostas a dedicar um tempo determinado por dia a navegar na Internet, e nesse tempo têm possibilidade de visitar um número finito de sítios. É, a meu ver, incrivelmente difícil entrar nesse canal e fazer parte dos sítios de eleição dos internautas. Portanto, das centenas de milhares de startups de base web que nascem todos os anos, apenas uma pequena percentagem tem algum potencial de vir a criar valor tanto para os fundadores como para a sociedade.


Adicionalmente, creio que as maiores oportunidades nos dias que correm não estão no mundo on-line, já que as mais importantes tendências de evolução do mundo actual não estão exclusivamente no on-line. O envelhecimento da população, o crescimento de economias em desenvolvimento, o aumento das necessidades de saúde e bem-estar, a procura por maior conveniência, o entretenimento, a volatilidade dos preços da energia, a maior necessidade de segurança, a consciência ambiental, o crescimento da customização, a inovação ou o aumento da transparência são apenas algumas das grandes tendências em rápida evolução e que estão a criar mercados que valem biliões de dólares a nível global. Todas elas com carência de inovação e de novos produtos e serviços que acompanhem a evolução das necessidades que apresentam.


É importante para quem esteja a ponto de se lançar no mundo do empreendedorismo ter a consciência de que há muitas áreas de actividade com carências claras e com oportunidades concretas. É importante não mergulhem no on-line porque pensam que é fácil e que têm maior potencial de sucesso, mesmo que na grande maioria dos casos, isso não é verdade.

 


francisco@leap.pt
falmeidajn@gmail.com

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