Opinião
O empreendedorismo e o desemprego
É crítico que as PME tenham acesso a incentivos económicos mais agressivos para que possam crescer com confiança e servir como fonte de empregabilidade do futuro
Os números do PIB, da exportação e de outros importantes indicadores económicos não têm a mesma tangibilidade e impacto em muitos de nós como têm os números do desemprego. Saber que quase 17% da população atida Portuguesa não tem trabalho, e que todos os meses centenas de família ficam com falta da única fonte de sustento que ainda tinham, é uma realidade séria, preocupante, e sobretudo muito tangível.
Por vezes, apenas os nossos políticos parecem não dar a importância necessária a este facto, passando horas a fio a debater os desvios às previsões do Governo sem criar qualquer proposta concreta para resolver os problemas mais críticos que enfrentamos.
O resultado é que para reduzir o desemprego, muitos ficam sentados a exigir às grandes empresas e ao Estado que contrate os nossos desempregados como se fosse uma espécie de obrigação social. Não nos podemos esquecer que o estado está numa situação de desequilíbrio (financeiro e estrutural), objectivamente com empregados a mais, e com uma necessidade de se tornar mais eficiente e minimizar custos, para que consiga responder às suas responsabilidades sem nos levar (a todos) à bancarrota. Exigir que o estado seja uma importante fonte de emprego para os nossos desempregados seria no mínimo irresponsável. Da mesma forma, as grandes empresas têm como umas das suas principais responsabilidades ser o mais eficientes possível para que consigam assegurar a sua viabilidade e uma remuneração adequada aos seus accionistas.
A redução da taxa de desemprego tem de vir através das nossas PME que representam actualmente cerca de 99% do nosso tecido empresarial. O aumento do empreendedorismo qualificado nos últimos anos tem permitido compensar encerramentos e melhorar o stock de PME. Hoje em dia, podemos orgulhar-nos de ter empresas portuguesas a "dar cartas" em Portugal e nos quatro cantos do mundo, em vários sectores diferentes. O objectivo é que continuem a crescer e que sejam o motor para o desenvolvimento da nossa economia e para a redução do desemprego.
No entanto a legislação não ajuda. Dos contactos que fui travando com gestores de PME de sucesso, era por vezes referido que a limitação do crescimento está exactamente na contratação. Para muitas empresas o custo de contratação de um trabalhador adicional representa não só um compromisso e uma responsabilidade mas também um crescimento significativo dos custos fixos da empresa. Crescimento esse que se não for acompanhado por um crescimento nas receitas poderá levar uma empresa de sucesso a uma situação de ruptura financeira. Sabendo que nem sempre as contratações correm bem, muitos gestores de PME preferem manter-se na sua zona de conforto limitando a dimensão e o crescimento de empresas que poderiam (e deveriam) servir como os principais motores da nossa economia.
Para contornar esta situação, é crítico que as PME tenham acesso a incentivos económicos mais agressivos para que possam crescer com confiança e servir como uma importante fonte de empregabilidade no futuro. Propostas para o fazer não faltam, desde a isenção do pagamento da TSU durante um período de tempo para novas contratações, até à flexibilização dos despedimentos, já foram discutidas inúmeras propostas de incentivo à contratação. Agora só falta que tenha coragem para decidir e quem tenha capacidade de executar rapidamente já que creio ser unanime que temos de incentivar o crescimento das nossas PME e temos de reduzir o flagelo do desemprego.
Francisco de Almeida
Managing Director LEAP
francisco@leap.pt