Opinião
TAP 2020
A situação da TAP continua a ser difícil, dado que nos últimos 45 anos só por duas vezes apresentou lucros. No entanto, há vários elementos que apontam para a conclusão de que tem, neste momento, uma estratégia e um rumo definidos.
Apesar dos prejuízos nos últimos 2 anos terem sido superiores a 100 milhões de euros, cada vez mais a expressão, TAP – "take another plane", faz menos sentido.
Nos últimos dias foram associadas à transportadora aérea nacional, expressões como, "inaceitável", "falta de respeito" e "afundar" devido à previsibilidade no pagamento de prémios a uma minoria de trabalhadores e aos resultados de 2019, mais uma vez, negativos. No entanto, uma análise mais aprofundada, conduz à conclusão de que a situação da TAP é melhor do que parece, estando já a revelar resultados da sua estratégia de crescimento e modernização.
Recorrendo à metodologia universal da Standard & Poor´s e ajustando os valores ao setor da aviação comercial, é possível retirar várias conclusões mais precisas quanto à evolução recente da TAP.
1) Prejuízos em 2019: Ainda que a TAP tenha apurado um prejuízo acumulado de 106 milhões de euros, penalizado essencialmente pela depreciação da moeda brasileira e pelo investimento em 30 novas aeronaves, assistiu-se nos últimos seis meses do ano a uma forte recuperação do resultado operacional e líquido do grupo, com este último a situar-se nos 14 milhões de euros, evidenciando uma inversão dos resultados face ao ano anterior. Para além das perdas cambias não terem impacto na tesouraria do grupo é de destacar a elevada geração "cash" da operação aérea, 310 milhões de euros em 2019, realçando a rentabilidade do seu principal negócio.
2) Dívida versus Ativo: É verdade que a dívida bancária, obrigacionista e resultante dos contratos de "leasing" operacional, cresceu 88% desde a sua privatização em 2015, de 1.229 milhões para os atuais 2.306 milhões de euros. No entanto, existe uma "nuance" que torna este valor confortável e enquadrável numa empresa em crescimento. Com a adoção pela TAP da norma contabilística IFRS 16, que obriga ao reconhecimento do direito de utilização dos aviões em regime de "leasing" operacional como Ativo, o que no caso da TAP, contempla 66 aeronaves de um total de 105, os ativos tangíveis da TAP cresceram, também, em igual período, de 920 milhões para 2.765 milhões de euros, ultrapassando em 1.2 vezes o valor dos seus empréstimos e responsabilidades decorrentes dos leasings.
O endividamento da TAP tem estado a financiar o crescimento da empresa, com a aquisição de aeronaves de última geração, o que lhe permite atuar com uma frota competitiva e eficiente, estando todo o seu passivo integralmente colaterizado.
3) Condições de financiamento: O custo da dívida anualizada mais os "leasings" da TAP até setembro de 2019, último valor disponível, situava-se nos 7.3%, o que compara com 10.3% em 2015, ano da privatização. Esta evolução favorável comprova que as recentes emissões de obrigações têm permitido melhorar as condições de financiamento e quase que duplicar a maturidade média da sua dívida para um valor próximo dos 5 anos.
4) Recuperação da dívida: O peso da dívida da TAP, que em 2015 era de 12 vezes (rácio dívida liquida – EBITDA), situa-se agora num valor próximo das 6 vezes. Nos últimos quatro anos, apesar de em termos absolutos a dívida ter aumentado, em termos relativos, e comparando com os recursos gerados, a capacidade de a liquidar cresceu consideravelmente, com a tendência para o futuro a convergir para valores mais confortáveis.
5) Agências de "rating": Apesar dos "ratings" atribuídos por duas das principais casas de investimento, Moody´s e Standard & Poor´s, se situarem num nível especulativo, vulgarmente denominado por ‘lixo’, B2 e BB-, vêm ainda assim validar a estratégia de crescimento e o sucesso na implementação do projeto definido pelos novos acionistas. Com uma perspetiva estável na sua evolução, a TAP é colocada ao lado, e em alguns casos, melhor, que outras companhias aéreas, como é o caso da American Airlines, ou da escandinava SAS.
Se a estes pontos, somarmos o término dos prejuízos na operação de manutenção em solo brasileiro, que consumiu à TAP, 500 milhões em 10 anos, e os constrangimentos do aeroporto de Lisboa no qual a TAP representa mais de 50% da utilização, verificamos que se assiste a uma verdadeira transformação da empresa.
A situação da TAP continua a ser difícil, dado que nos últimos 45 anos só por duas vezes apresentou lucros. No entanto, há vários elementos que apontam para a conclusão de que tem, neste momento, uma estratégia e um rumo definidos. E se existem vários sintomas negativos, detetam-se também muitos outros de recuperação.
Economista