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04 de Abril de 2019 às 18:30

Curva das “yields” invertida: recessão ou ruído?

É indubitável que existe um abrandamento da economia mundial, efeitos do Brexit, da guerra comercial entre os EUA e a China e do enfraquecimento da atividade comercial na zona euro, mas de um abrandamento a uma recessão vai uma grande distância…

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A curva das "yields" das obrigações é um dos principais sinais para a avaliação das perspetivas dos agentes económicos – famílias, empresas e Estado - sobre a evolução da economia, sobretudo em termos de consumo, investimento e poupança.

 

Uma curva positiva das taxas de juro de longo prazo, como a trajetória de um avião a descolar, com as taxas de prazos mais curtos, a 2 e 3 anos, inferiores às taxas de prazos mais longos, a 10 e 30 anos, a indiciarem um período de expansão económica devido a uma expectativa de maior inflação ao longo da curva. As taxas de juro de longo prazo podem ser expressas como taxas de juro de curto prazo, encontradas no mercado monetário através da LIBOR, acrescidas das expectativas para a inflação, na qual a taxa de juro de longo prazo é igual à taxa de juro de curto prazo acrescida das expectativas de inflação. Se a inflação esperada for aumentando ao longo do tempo significa que há uma maior pressão sobre os preços devido à maior atividade económica, e desta forma, um aumento do consumo.

 

No entanto, no passado dia 22 de março, e pela primeira vez desde 2007, a curva das "yields" do tesouro norte-americano apresentou uma posição invertida, com a taxa a 3 meses, 2.467%, a ser superior à taxa a 10 anos, 2.444%.

 

As últimas 9 recessões nos Estados Unidos começaram com uma curva das "yields" invertida, sendo oportuno colocar a questão: será que estamos perante uma recessão económica no horizonte?

Apesar da evidência empírica indicar que sim, responder afirmativamente é uma forma abreviada e simplista de resolver a questão, impedindo um olhar sobre a floresta para além da árvore.

 

Por um lado, e ao contrário do verificado em tempos passados, existe agora uma tendência para a curva das "yields" ser mais lisa devido a um "mix" entre baixa inflação e uma taxa de crescimento reduzida da população, situação que torna mais provável a sua inversão ocasional, especialmente em períodos em que os investidores ficam mais receosos com a possibilidade de uma recessão futura.

Por outro lado, os analistas comparam mais a taxa a 2 anos vs. 10 anos, dado que a taxa a 3 meses incorpora uma maior volatilidade, com a primeira, a manter o valor tradicionalmente ascendente, 2.332% vs. 2.444%.

 

Se as duas razões acima mencionadas não fossem suficientes, a crise financeira de 2008 veio demonstrar uma maior efetividade por parte do banco central norte-americano na mitigação de situações profundamente adversas, não se coibindo de voltar a utilizar medidas não convencionais, caso o cenário assim o justificasse. A sinalização de pausa no aumento das taxas de juro por parte da FED, medida convencional, veio evidenciar uma economia a crescer, ainda que em desaceleração, com a estimativa mais recente a indicar um crescimento de 2.1% em 2019.

 

É indubitável que existe um abrandamento da economia mundial, efeitos do Brexit, da guerra comercial entre os EUA e a China e do enfraquecimento da atividade comercial na zona euro, mas de um abrandamento a uma recessão vai uma grande distância…

 

Economista

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