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27 de Maio de 2015 às 19:56

O novo canal do Suez

Em tempos de grandes alterações na circulação marítima mundial, dois grandes projetos deverão estar operacionais já em 2016: o alargamento do canal do Panamá e o novo canal do Suez. Ambos são estratégicos e prometem trazer grandes mudanças.

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O canal do Suez liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo e é a forma mais curta e rápida de navegar entre a Ásia e a Europa, já que a alternativa é a rota do Cabo, bastante mais longa, mas que, ultimamente, tem sido uma opção muito utilizada, primeiro devido à pirataria ao largo da Somália pelas milícias Al-Shabab, depois por causa da baixa do preço petróleo que diminuiu muito o custo desta viagem e, mais recentemente, a guerra no Iémen que está a desviar os navios do golfo de Aden e do estreito de El Mandeb. O presidente Sisi do Egito, preocupado em assegurar a principal fonte de rendimento do país, já que o turismo foi muito afetado com a instabilidade política, não tem agravado as taxas de navegação. De qualquer forma, já em 2016, espera conseguir duplicar as receitas com a conclusão das obras no canal, que vão permitir a navegação dos navios de maior dimensão, bem como a passagem simultânea, e ainda diminuir o tempo de atravessamento das atuais onze horas para apenas três.

 

Este aumento da capacidade está a ser muito bem acolhida internacionalmente, porque vai permitir a passagem de dois mil milhões de toneladas de mercadoria vindas da Ásia, sendo que se prevê que o custo final destes produtos na Europa diminua substancialmente. Para evitar ingerências externas, o financiamento total do projeto, que ascende aos 8,2 milhões de euros, foi feito apenas com dinheiro dos egípcios que subscreveram certificados com uma rentabilidade de 12%. Aos países estrangeiros foi-lhes apenas permitido investir nas infraestruturas adjacentes, e nem os Emirados Árabes Unidos ou a Arábia Saudita, que estão a ajudar o Egito a sair da profunda crise económica, foram exceção. Para a China, foi um contratempo, visto que são um dos principais usuários do canal e interessava-lhes assegurar uma participação direta no projeto, que é vital para a construção do seu "Cinturão Económico" e à rota marítima de acesso ao Mediterrâneo. Apesar de estar a investir diretamente em cidades portuárias como Port Said ou Ismailia, decidiu apostar numa alternativa estratégica: o RedMed, um projeto conjunto com Israel, que liga o porto de Eilat a Ashdod e Haifa no Mediterrâneo, e que se torna bastante mais seguro, tendo em conta a instabilidade e os atentados terroristas na zona do Sinai.

 

Os trabalhos do novo canal estão a decorrer 24 horas por dia, sob a estrita vigilância e coordenação do Exército egípcio e foram contratadas empresas belgas, holandesas, alemãs e dos EAU, sendo que as obras de drenagem do aprofundamento do canal para os 24 metros deverão retirar mais de 250 milhões de metros cúbicos de inertes ao longo de um troço de cerca de 70 quilómetros, onde já estão executadas 85% das escavações na rocha e 20% na drenagem.

 

Mas para que o novo canal do Suez seja o sucesso que Sisi tanto deseja, é preciso que haja estabilidade e segurança no Mar Vermelho, sobretudo ao largo do Iémen, no golfo de Aden, onde fica um dos maiores checkpoints mundiais, El Mandeb. Percebe-se assim a importância que esta guerra está a tomar, tendo em vista já o novo canal do Suez e o aumento do tráfego nesta zona. É necessário, e urgente, que o conflito termine antes de 2016, sob pena de todo o investimento que os egípcios estão a fazer seja em vão.

 

ISCTE-IUL

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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