Opinião
"O Cinturão Económico Chinês"
A nível empresarial, o "Cinturão Económico Chinês" oferece boas oportunidades de negócio e investimento no exterior, e várias empresas portuguesas já as descobriram, estando a construir redes ferroviárias, rodoviárias, pontes, bilhética, telecomunicações, em países como a Quénia ou Cazaquistão.
Contrariando a aproximação dos Estados Unidos à União Europeia, que será selada com a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, mais conhecida pela sigla TTIP, Transatlantic Trade and Investment Partnership, a China prepara a sua estratégia de ligação aos mercados da Europa através do chamado "Cinturão Económico" com a construção de rotas marítimas, ferroviárias e rodoviárias, um megainvestimento de 50 biliões de dólares, já apelidado como o grande projeto económico do século XXI. Por outro lado, e como resposta ao alargamento do canal Panamá, com testes de água previstos já no início de 2016, está também a investir diretamente na construção do canal da Nicarágua.
Inspirado nas antigas Rotas da Seda, este megaprojeto vai aproximar a Europa da China, facilitando o transporte de pessoas, mercadorias e fornecimento de energia, cobrindo uma área que envolve 40 países, mais de 4.4 biliões de pessoas, com um impacto económico de 21 triliões de dólares. 90% do financiamento é feito pelo governo chinês, sendo que os restantes 10% serão feitos por bancos europeus. Mostrando bem a importância estratégica económica e política deste projeto, no passado dia 6 de maio, o conselheiro de Estado da China, Yang Jiechi, e a Alta Representante da UE para Política Externa e Segurança, e vice-presidente da Comissão Europeia, Federica Mogherini, presidiram, em Bruxelas, às celebrações do 40.º aniversário das relações diplomáticas sino-europeias, onde foram reforçadas as negociações para o "Planeamento Estratégico de Cooperações Sino-Europeu 2020", e que incluíram diversos tratados de investimentos e cooperações no setor financeiro.
Prevendo-se que as primeiras ligações das rotas do "Cinturão Económico Chinês" estejam prontas a funcionar num prazo de 10 anos, desde que o projeto foi anunciado em setembro de 2013 que o governo chinês tem feito acordos de cooperação, bem como investimentos diretos, em alguns dos países-chave, como no Quénia, no valor de 11,97 biliões de dólares, ou Cazaquistão, 18 biliões de dólares, aplicados na criação de infraestruturas ferroviárias, rodoviárias e portuárias.
Portugal deverá saber tirar partido da sua posição geostratégica para beneficiar com todas estas alterações e não perder oportunidades que podem ser decisivas para o seu futuro. Sabendo que a ligação da China à Europa se vai fazer pelo lado este, quer a nível terrestre como marítimo, deveremos aproveitar o TTIP para afirmar o porto de Sines como o "hinterland" ibérico de excelência, já que a abordagem chinesa se fará pelo Mediterrâneo, e os portos espanhóis de Algeciras e de Valência terão obviamente preferência. A ligação "hinterland" de velocidade ferroviária, prevista já para 2019, será decisiva para nos dar a vantagem competitiva que nos falta.
A nível empresarial, o "Cinturão Económico Chinês" oferece boas oportunidades de negócio e investimento no exterior, e várias empresas portuguesas já as descobriram, estando a construir redes ferroviárias, rodoviárias, pontes, bilhética, telecomunicações, em países como a Quénia ou Cazaquistão.
O Velho Continente continua a ser um mercado de excelência e muito cobiçado pelas grandes potências económicas. Se de um lado temos os EUA e o TTIP, do outro temos a China e o "Cinturão Económico da Rota da Seda". Atlântico e Mediterrâneo terão no futuro um papel-chave em todo quadro macroeconómico, e Portugal tem todas as condições para saber tirar partido do novo cenário.
ISCTE-IUL
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