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26 de Fevereiro de 2018 às 20:37

A queda da qualidade do crédito

O ponto mais marcante da qualidade do crédito remete para a proporção deste que é dirigido às empresas, em geral para investimento, por oposição ao atribuído às famílias para consumo e habitação.

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Recentemente este jornal, em três dias sucessivos, chamou - com títulos de capa - a atenção para alguns aspectos preocupantes que a evolução da estrutura do crédito está a tomar.

No dia 14, referia que o crédito a empresas está em baixa. No dia 15, sublinhava que os empréstimos para compra de casas não param de crescer e foi em 2017 o dobro do valor de 2015 e o mais elevado desde 2010. No dia 16, anunciava que as casas já se vendem em menos de 90 dias e sublinhava que as recomendações do BP não travam os negócios imobiliários.

 

O crédito às famílias está em máximos de sete anos e em crescimento acelerado. Em contraste, os empréstimos às empresas continuam a cair; 2017 é o pior ano desde 2002 e os valores estão em queda há quatro anos seguidos, com quedas maiores entre as grandes empresas. Por sua vez o crédito ao sector público cresceu 8,%, entre 2014 e 2017 (de 41,5 para 45,2 biliões de euros).

 

Estes dados mostram que nos últimos três anos, desde 2014, a qualidade do crédito(1) - na perspectivo do impacto positivo sobre o crescimento da economia - tem vindo a piorar. O ponto mais marcante da qualidade do crédito remete para a proporção deste que é dirigido às empresas, em geral para investimento, por oposição ao atribuído às famílias para consumo e habitação.

 

 A deterioração da qualidade do crédito é, principalmente, tributária das políticas públicas dirigidas ao sector financeiro. Em grande parte, estas políticas sofreram uma forte inflexão negativa em 2014 - com continuidade nos três anos seguintes - marcada dramaticamente pela decisão de resolução do BES. 

 

Mais ainda do que os dados agregados, acima mencionados, a natureza negativa destas políticas torna-se mais evidente observando a desagregação dos dados pelos cinco principais bancos portugueses (NB/BES, BCP, CGD, Totta-Santander e BPI).

 

O leitor tirará as suas próprias conclusões, reflectindo sobre os dados que a seguir apresentamos para a evolução do crédito às empresas entre 2014 e 2017.

 

O BES teve uma quebra de 26% no crédito a empresas e de 6% no crédito a particulares. A proporção do crédito para empresas passa de 70% em 2014 para 64% em 2017.

 

O BCP teve uma quebra de 16% no crédito a empresas e 8% no sector de particulares. A CGD quebrou 24% nas empresas e 12% nos particulares.

 

Os valores do Totta-Santander obrigam a uma leitura mais complexa dado que beneficiou de várias operações de consolidação. Este banco regista entre 2014 e 2017 um aumento de 95% no crédito a empresas e um crescimento de 29% no crédito a particulares. Por fim, o BPI aumentou 10% o crédito às empresas e 5% no destinado aos  particulares. 

 

Considerando a proporção do crédito destinado às empresas no crédito total a empresas e particulares, confirmamos o sentido dos movimentos atrás referidos. A proporção do BES passa de 70% em 2014 para 64% em 2017, a CGD de 40% para 36%, o BCP de 48% para 46%. Só o Totta-Santander (37% para 47%) e BPI (38% para 40%) registam melhoria relativa do crédito às empresas.

 

(1)Sobre a qualidade do crédito, veja-se o capítulo 2 (O sistema financeiro, o crédito e a economia) do nosso livro: Avelino de Jesus e José Poças Esteves com a colaboração de Isabel Proença e Zorro Mendes, "O Caso BES - O Impacto da Resolução Economia Portuguesa", Clube do Autor, Lisboa, 2018.

 

Economista e professor no ISEG

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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