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Polyanswer: Químicos do Minho “impactam” fábricas e militares

A produtora de fluidos dilatantes para protecção de impactos está a explorar a área da Defesa e a “dar o peito às balas” na indústria, com a venda de matéria-prima para materiais de trabalho ou desportivos.

28 de Novembro de 2018 às 12:00
Com carreira iniciada na indústria têxtil e desenvolvida no sector financeiro, Miguel Pimentel juntou-se ao projecto da Polyanswer em meados de 2015. Paulo Duarte
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Um fluido que se torna duro quando sujeito a um impacto, voltando logo depois à forma original? Este é o produto da Polyanswer, com aplicação nas protecções para desporto, motociclismo, calçado e luvas de trabalho ou placas balísticas. Com a patente já registada na Europa e nos Estados Unidos, a tecnologia desenvolvida por um grupo de especialistas em Química e Engenharia de Polímeros pode ser também combinada com plásticos, borrachas ou espuma, transferindo para estes materiais as características de absorção de energia de impacto.


Instalada no Spinpark, nas Taipas, a empresa já tem a tecnologia patenteada na Europa e EUA.


Instalada no Spinpark, o centro de incubação de base tecnológica do Avepark, nas Taipas (Guimarães), a empresa surgiu em Junho de 2014 a partir destes fluidos dilatantes, que os fundadores ligados à Universidade do Minho pensavam aplicar sobretudo na área da Defesa, substituindo os desconfortáveis coletes à prova de balas por outro mais maleável e com o mesmo grau de protecção. Após o investimento da Portugal Ventures decidiram "dispersar um bocadinho a actividade". "É uma área com muito interesse, mas ter um negócio para vender a militares, seja para que país for, é muito complicado. Não chega ter um bom produto; é preciso ter os canais certos e há muitas barreiras à entrada", resume o CEO, Miguel Pimentel.

Até ao final de 2018, o investimento total terá ascendido a 765 mil euros: houve uma ronda inicial de 415 mil, um aumento de capital de 200 mil no ano passado e está em curso um novo reforço no valor de 150 mil. Com cinco pessoas a trabalhar no projecto, as vendas devem rondar os 70 mil euros no final deste exercício, em que 60% das receitas foram angariadas em 11 mercados de exportação.

Na Amazon e nos blindados

Umas caneleiras para futebolistas e um gorro de protecção também para a área do desporto são dois dos artigos criados pela Polyanswer, que estão directamente à venda para o consumidor final (B2C) através da Amazon - e que já foram comprados nos EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Espanha. O gestor explica que esta plataforma "é usada como montra", detalhando que "é um bom negócio, mas é mais útil para mostrar em que é que pode ser aplicado o produto".


11
Mercados externos
Cerca de 60% das vendas deste ano foram feitas em mais de uma dezena de países, como EUA, Rússia ou Reino Unido.

765
Investimento
Após o aumento de capital em curso no valor de 150 mil euros, a empresa terá recebido investimento total a rondar 765 mil.


Em termos estratégicos, porém, o modelo de negócio está assente sobretudo na produção e venda do fluido para ser incorporado como matéria-prima por outras fabricantes. Na lista de clientes estão, por exemplo, uma fabricante portuguesa de calçado de segurança ou um cliente americano que produz no Paquistão umas luvas de protecção para trabalho.

O material está também a ser comercializado na Rússia, onde é aplicado em equipamentos de protecção para desporto. Outro dos "clientes importantes" está no Reino Unido e faz bancos para carros militares, comprando protecções à Polyanswer para serem usadas nos cintos de segurança. Enquanto prepara a entrada na Austrália, Pimentel relata que uma das últimas "guerras" foi conseguir produzir fio com este produto, o que pode abrir novas avenidas de negócio na indústria têxtil e de vestuário.

RAIO-X 

Estender a mão para enfrentar gigantes

A Polyanswer recorreu a parceiros de capital e de desenvolvimento da tecnologia e do negócio para abrir espaço e batalhar no mercado global.

Cinco promotores e uma capital de risco
Os cinco promotores têm uma quota conjunta de 58%: são três tecnólogos (química e engenharia de polímeros), um comercial e outro financeiro.
O projecto foi apresentado a alguns "business angels", mas fecharam acordo com a capital de risco Portugal Ventures, que tem 42% do capital.

Concorrência de peso e anglo-saxónica
Embora com produto e um modelo de negócio distintos, a britânica D3O é a principal concorrente na generalidade das áreas de actuação.
Pensando no fluido como matéria-prima, o produto da Polyanswer concorre com um produzido pela gigante americana Dow Chemical.

Parcerias na academia e na indústria
Entre os parceiros de investigação destacam-se o Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) da Universidade do Minho e os centros tecnológicos da indústria têxtil e de vestuário (CITEVE) e calçado (CCTP).
Os laboratórios independentes onde testam as características dos produtos também são parceiros - e muitas vezes obrigatórios para fechar negócios.



Perguntas a Miguel Pimentel
CEO da Polyanswer

"Estas coisas não se mostram por e-mail"

O gestor admite que "vai ser preciso ir mais vezes" aos EUA, onde roupa de trabalho e desporto são prioritários.

Que projectos têm nos EUA?
São poucos ainda. Por via da Amazon vendemos alguma coisa, mas o projecto maior e mais avançado é com uma empresa de luvas de trabalho, que depois as fabrica no Paquistão. Aí vendemos o produto como matéria-prima, que substitui o material que usam. O plano é explorar este tipo de indústria e temos lá um representante e distribuidor. É muito diferente ir vender a uma empresa quando há um caso que já está a funcionar noutro lado do que estar a apresentar a ideia a muitos porque dispersamos a acompanhar cada um deles.

O nosso desafio tem sido mostrar aos clientes as características do produto. É positivo quando chegamos à parte do preço.

Quais são as áreas preferenciais nesse mercado?
Temos planos para muita coisa e só não actuamos ainda por falta de tempo e, por vezes, de contactos. Mas a roupa de trabalho e o desporto serão as primeiras áreas. Por exemplo, no futebol americano. Fizemos um gorro a pensar que podia ser usado debaixo do capacete para aumentar a protecção.

O mercado está disposto a pagar o adicional no preço?
Em alguns segmentos é sensível ao preço, mas não temos tido problemas. O desafio é mostrar aos clientes as características do produto. É uma fase positiva quando chegamos à parte do preço. Mas não é por aí [que cai o negócio]. Nos EUA temos consciência de que vai ser preciso ir lá muito mais vezes porque estas coisas não se mostram por e-mail.

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