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Em 2014, identificando "algumas falhas de tecnologia" no mercado e percebendo que nestas obras as empresas portuguesas "tinham sempre de recorrer a prestadores de serviços em Espanha ou na Alemanha", estes profissionais juntaram-se a outros dois finalistas de Mecânica para fundar uma consultora de engenharia.
Instalada no Instituto Pedro Nunes, em Coimbra, a Matereo desenvolveu um sistema de monitorização de pontes com inteligência preditiva, que permite a detecção precoce de danos e o fornecimento de diagnósticos estruturais precisos. "Fazemos com que o comportamento da ponte seja previsível, para não acontecerem acidentes como o de Génova [em Agosto]. Temos sensores e sistemas de inteligência que estão sempre a correr cálculos e determinam se e onde tem algum dano, as medidas para corrigir e por quanto tempo se pode prolongar a vida da estrutura sem que haja problemas", resume Fernando Ferreira, um dos cinco envolvidos neste projecto a tempo inteiro.
Só na Europa estima-se que cerca de 30% dos viadutos estão em mau estado de conservação, pressionados agora por fenómenos climáticos extremos e veículos cada vez mais pesados. Com este sistema, promete Ricardo Carmona, as gestoras das redes viárias - como a Infraestruturas de Portugal ou a Brisa e a Globalvia, com quem estão a falar - podem identificar os "problemas [que] já lá estão, só que ainda não se vêem" e resolvê-los atempadamente, reduzindo os custos mais elevados com intervenções não programadas.
"Bons ventos" de Espanha
A Matereo ainda está a trabalhar nos protótipos, mas a plataforma tecnologia já está quase desenvolvida. O tempo de chegada ao mercado, que estima que pode ir de seis meses a um ano, está sobretudo dependente de financiamento - tem várias candidaturas a correr e aguarda em breve os resultados -, uma vez que nessa fase irá precisar de "aumentar imediatamente os recursos", incluindo humanos.
Apesar de não poder alavancar em demasia nesse cliente, essa entrada no mercado pode também ser abreviada se conseguir fechar as "conversações adiantadas" em Espanha para instrumentar, pelo menos, dez pontes com este sistema. "Esperamos em breve implementar esse primeiro grande projecto. Já não falamos num piloto", acrescentou Carmona.
Para já, a empresa tem financiado essa área de negócio com projectos de engenharia, que em 2017 renderam 70 mil euros, em particular nos mercados internacionais. Este ano acabou um trabalho para a ampliação do aeroporto do Luxemburgo, cujo edifício central está em construção, e está agora a fazer um estudo de ventos para um estádio na Costa do Marfim.
Fornecer, concorrer e cooperar
No hardware dos sensores, os fornecedores são também concorrentes. Já a tecnologia está a ser melhorada com ajuda "espacial" e das telecomunicações.
Fornecimento alargado e no estrangeiro
• A empresa quer manter o sistema o mais aberto possível para conseguir trabalhar com todo o tipo de sensores, que serão o hardware crítico.
• Essas empresas com quem avaliam a transmissão de dados e projectos em conjunto são todas estrangeiras. Em Portugal, só há revendedores.
• Além dos privados, são concorrentes unidades de investigação capazes de implementar soluções integradas com software de análise de dados.
• As próprias fabricantes de sensores prestam serviços de monitorização estrutural, embora apenas analisem estatisticamente os dados recolhidos.
Parceiras vão do espaço até à Galiza
• Esteve no programa de incubação da Agência Espacial Europeia (ESA-BIC) que abre patentes para uso industrial. Melhorou a tecnologia e aproveitou ainda a formação e o "networking".
• Outros parceiros são a Vodafone - através do programa de aceleração (Power Lab) para potenciar o 5G nestas aplicações; e ao nível da capacidade de computação com um centro na Galiza.
Perguntas a Ricardo Carmona
Co-fundador da Matereo
"EUA têm problemas na rede viária"
O gestor antecipa oportunidades no mercado e já está a falar com possível parceiro.
Porque são atractivos os EUA para esta solução?
Investem muito em tecnologia e a própria metodologia de investimento é mais flexível que na Europa. E têm um problema tremendo: a degradação astronómica da rede viária, que tem dimensão considerável e está bastante envelhecida.
E já estão a criar contactos, a identificar canais de distribuição e parceiros locais…
O sistema é através da subscrição de um software e interessa-nos que a gestora disponha ao máximo dos dados sobre as pontes. Estamos a focar na analítica. Todo o trabalho de campo - instrumentação, manutenção e aplicação dos sensores -, vamos tentar que sejam os parceiros locais a fazê-lo.
Já iniciaram conversações?
Por exemplo, com a Acellent Technologies, de Silicon Valley, especialista nesta área da monitorização estrutural. Desenvolvem hardware, como sensores e sistemas de transmissão, e já os contactámos até para orçamentos para projectos-piloto na Europa. As conversas estão a ser interessantes.
E serem portugueses ajuda ou atrapalha?
Hoje em dia é fantástico ser português. Lá fora sentimos um poder grande e somos mesmo muito valorizados. Na Noruega, França, Reino Unido, Alemanha, reconhecem as nossas qualidades e a engenharia de topo em Portugal.
10 disputam vaga em Silicon Valley
O Negócios mostra-lhe os finalistas do prémio lançado pela FLAD e pela consultora EY. O vencedor será anunciado em Dezembro e terá direito um período de imersão num cluster tecnológico na Califórnia.