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My.Skinmix: Trio de cientistas liberta pele da “ditadura” dos cremes

Ana Prata, Helena Vieira e João Fernandes criaram um modelo de formulações que desafia a “estagnação” no sector da cosmética, ao permitir que o consumidor personalize o seu creme, escolhendo a textura, a acção e o aroma.

03 de Maio de 2017 às 12:30
Ana Prata, 24 anos, assumiu a liderança executiva da My.Skinmix, fundada em Janeiro de 2016 e instalada no Tec Labs, pólo de inovação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Bruno Simão
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Numa visita à casa de uma amiga, Helena Vieira encontrou na casa de banho o mesmo creme que estava a usar por adorar a textura, apercebendo-se depois de que essa era uma característica, a par do cheiro, odiada pela outra compradora, que apenas apreciava o efeito desse mesmo produto.

Os motivos tão opostos que levaram à preferência por aquele creme alertaram a doutorada em Biomedicina que dá aulas de empreendedorismo na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e que, a propósito de um trabalho nesta cadeira, comentou o episódio com Ana Prata. "Percebemos que a cosmética estava completamente estagnada no processo e que podíamos tentar dar a volta a este estigma da pré-formulação para toda a gente. A ideia é libertar as pessoas de comprarem um creme já feito", sustenta a ex-aluna, com mestrado em Microbiologia Aplicada, que aos 24 anos dirige a My.Skinmix.

Os três sócios de "background" científico - logo em 2013 juntou-se João Fernandes, com formação em Ciências Farmacêuticas, experimentado no financiamento de start-ups e conhecedor da legislação que abrange a indústria cosmética - iniciaram uma fase, que acabou por se prolongar por quase três anos, dedicada a "olhar para esta ideia das formulações e perceber se cientificamente era possível" avançar. Antes mesmo de equacionar um modelo para este negócio em que os consumidores conseguem personalizar o seu creme, escolhendo a base (textura), o motivo pelo qual precisam dele (a acção) e o aroma.

Testar para atrair

Foi em Janeiro de 2016 que os fundadores entraram com 10.500 euros para fundar a My.Skinmix, que passou o primeiro ano em "bootstrapping" para testar produto, materiais, processo, consumidores, canais de distribuição e até a imagem, que mudou duas vezes em função das reacções. Facturaram oito mil euros com a venda de cerca de 300 cremes - o primeiro cliente foi presencial, um homem que soube que estavam no edifício Tec Labs, no Campo Grande (Lisboa). O valor médio da compra ronda os 33 euros e a combinação mais cara ascende a 66,5 euros.


Os produtos da My.Skinmix chegaram ao mercado em 2016, após três anos de validação científica.


Perto de 98% das vendas foram realizadas em Portugal, até porque o site só esteve a vender online no último trimestre do ano. Essas primeiras encomendas do estrangeiro chegaram de Suíça, França e Brasil. Além destes dois últimos (respectivamente, dos maiores produtores e consumidores mundiais de cosmética), vão apostar nos mercados inglês e italiano, pelo potencial do segmento orgânico, e ainda no sul-coreano, que regista enorme fulgor.

Com a produção concentrada nos laboratórios da faculdade e as conversações a decorrer com investidores para poder "escalar depressa" o negócio, a My.Skinmix soma três canais de distribuição. Além da internet (site, redes sociais e e-mail), dispõe já de uma rede de sete consultoras com um sistema de venda presencial por catálogo e projecta um modelo de lojas móveis e temporárias, testado na última época natalícia em mercados e locais públicos da capital portuguesa.


33
Preço médio
O valor médio da compra rondou os 33 euros no ano passado. A combinação mais cara da marca pode duplicar este preço.

300
Cremes vendidos
No ano de estreia no mercado, a My.Skinmix vendeu perto de três centenas de unidades através dos três canais de distribuição.

4.000
Combinações
A jovem marca evoluiu das iniciais 250 para as actuais 4.000 combinações possíveis (excluindo a regulação de intensidades).



raio-x

Crença para o sucesso na linha "vegan" 

Vontade do consumidor e alinhamento com tendências são esperanças da My.Skinmix, que está atenta à produção e fornecedores.

Resposta a tendências e 700 inquéritos
 A co-criação, saúde e bem-estar e digital estão entre as maiores tendências desta década.
 Os cerca de 700 inquéritos realizados mostraram que a "esmagadora maioria" não só estava insatisfeita com os seus cremes, como queria personalizar a textura, a acção e o cheiro.

Produção e percepção na lista de ameaças
 Precisa de ganhar escala em termos de produção, sendo que já tem perto de 4.000 combinações.
 O público pode não percepcionar no produto o valor que a jovem empresa lhe está a tentar dar, comparando-o com os cremes de 50 cêntimos do supermercado.

Alinhar fornecimento à cosmética orgânica
 Os fornecedores, que vão dos produtores de óleos essenciais aos das etiquetas, são "sobretudo nacionais". A empresa diz que só trabalha com produtos orgânicos, sem parabenos e sem sulfatos.
 A My.Skinmix está agora no processo de encadear todos esses fornecedores para se tornar e vender como empresa "vegan".



Perguntas a Ana Prata
Co-fundadora e CEO da My.Skinmix

"Sabemos que a ideia funciona nos EUA"

A personalização é arma num mercado com uma "magnitude" para a qual ninguém está completamente preparado.

Como vão entrar nos EUA?
Vender online é importante, mas temos de ter uma estratégia para o marketing de guerrilha e apresentar a marca em sítios específicos. Isto é um conceito que exige experimentação e os EUA são muito dados à personalização. É um dos motivos pelos quais sabemos que esta ideia vai funcionar ali.

Essas acções de experimentação exigem investimento.
Sim. Por isso estamos a procurar investidores. Para crescer da forma que queremos, precisamos de investimento.

A regulamentação na área cosmética é muito mais cerrada na UE do que em qualquer outra parte do mundo. Nascemos no sítio certo. 

Que problemas antecipam?
Ninguém está preparado para a magnitude que é o mercado dos EUA. Em termos de volume e de comportamento. As próprias redes sociais lá são uma completa loucura e todas as campanhas de marketing digital que se desenvolvem na Europa não podem ser as mesmas que vai haver nos EUA.

E em termos de regulamentação?
Quase tudo o que é aprovado na União Europeia não tem grandes problemas ao ir para os EUA na área da biologia ou da cosmética. Isto porque a regulamentação nesta área é muito mais cerrada ao nível da UE do que em qualquer outra parte do mundo. Portanto, nascemos no sítio certo.


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