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A solução desenvolvida por três investigadores do departamento de Física da Universidade de Aveiro resolve a falta de dosimetria "in-situ" (dentro do corpo do paciente) e permite validar em tempo real este tratamento, em que a radiação é colocada através de agulhas junto do tumor. Numa segunda fase, na qual está a trabalhar em parceria com o Hospital de La Fe, em Valência, a ideia será integrar estas medições num software de planeamento do tratamento, para que a dose possa ser corrigida em tempo real.
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Preço das sondas
Cada sonda de fibra óptica descartável, vendida por paciente, vai custar cerca de cem euros às unidades hospitalares.
Reduzir efeitos secundários, o tempo de recobro e os custos do tratamento são outros benefícios desta solução.
2018
Acesso ao mercado
A versão comercial do dosímetro, que está a ser testada no IPO do Porto, deve chegar no próximo ano aos mercados europeus.
"Esse é o grande objectivo e o que os físicos médicos e os radioterapeutas vêm pedindo há várias décadas", sublinha o empreendedor de 34 anos, natural de Arrifana (Santa Maria da Feira), que salienta também como "benefícios" a redução dos efeitos secundários desta terapêutica, do tempo de recobro e dos custos do tratamento.
O dosímetro está em fase de protótipo e a ser testado em pacientes do IPO do Porto. A primeira versão comercial deve chegar em 2018 aos mercados europeus, onde o processo de certificação já arrancou, avançando de seguida nos Estados Unidos. "Não é tão complexo quanto um fármaco, mas exige a preparação de um dossiê exaustivo", diz o principal sócio (39,2%) da NU-RISE, fundada em Abril de 2015 com João Veloso e Filipe Castro, que detêm ambos 29,4% do capital.
Sem "descartar" capital
Os restantes 2% estão nas mãos da Caixa Capital, que financiou com cem mil euros - cinco mil de prémio e o resto em "convertible note" e empréstimo - o vencedor do 5.º programa de aceleração "Building Global Innovators", do ISCTE e do MIT, em tecnologias da saúde. Está agora a preparar uma ronda internacional de financiamento série A, na ordem dos três milhões de euros, que quer fechar até final deste ano.
A empresa incubada na Universidade de Aveiro tem verba suficiente para executar o projecto durante dois anos, mas quer "fazer algumas coisas muito mais rápido". Moutinho fala num "trabalho em duas frentes": na europeia já decorre esse "namoro prolongado" com os fundos de capital de risco; nos EUA ainda está a aprofundar a ligação a hospitais e empresas parceiras antes de avançar com essa operação.
Com uma equipa de quatro pessoas, a NU-RISE desenvolveu um modelo em que as sondas são descartáveis e serão vendidas por cerca de cem euros, evitando "maiores preocupações na esterilização, armazenamento ou manuseamento". Sendo comercializadas por paciente, "o que torna também esta tecnologia tão atractiva" em termos de negócio, estudar a hipótese de o próprio equipamento electrónico ser gratuito, desde que a unidade hospitalar garanta um determinado número de tratamentos por ano.
Sair do ninho universitário e português
A NU-RISE nasceu na Universidade de Aveiro, com quem negociou percentagens nas patentes, e olha para os mercados internacionais.
Arranque Português antes da Europa e EUA
• Portugal é um mercado pouco representativo para vendas, mas é "um bom sítio para começar" e interessante na investigação.
• A Europa, por proximidade e ter maiores empresas da radioterapia, e os EUA, pela dimensão e aposta nas start-ups da área médica, são os mercados prioritários.
Patentes negociadas com a universidade
• Tem uma patente nacional submetida em Maio de 2012 e há outras duas internacionais a submeter brevemente em parceria com a Universidade de Aveiro (UA).
• O processo de registo atrasou-se devido à negociação com a UA, onde nasceu a empresa, sobre as percentagens das patentes.
• Decréscimo na aplicação da braquiterapia enquanto tratamento preferencial nos cancros da próstata e da mama.
• A falta de financiamento ("sempre o dilema das start-ups"), pelo risco de surgir outra empresa que seja mais rápida a desenvolver o produto e colocá-lo no mercado.
Perguntas a Luís Moutinho
Presidente executivo da NU-RISE
"É clara a mais-valia desta tecnologia"
O empreendedor aveirense explica que é preciso criar a empresa nos EUA para recolher investimento no país.
Como antecipam o acolhimento desta tecnologia nos Estados Unidos?
Em termos de aceitação do produto em si, diria que não vamos ter problemas porque já temos interagido com equipas de alguns hospitais dos EUA, em Boston e Filadélfia, e é clara a mais-valia desta tecnologia. Um dos grandes desafios é sempre a falta de dinheiro, que leva a atrasar o processo.
Quais são as exigências?
Para conseguir investimento nos EUA, precisamos de ter a empresa lá. Nesse processo estamos a fazer parcerias com hospitais, com outras empresas, e através de programas de aceleração pode ser mais fácil chegar ao dinheiro. Acabamos de ser seleccionados para um dos principais a nível mundial, o "MassChallenge", em Boston.
O investimento é avultado?
Todos os processos, como o da certificação, que envolvam trabalhar com entidades locais são caros. Por exemplo, um advogado de Propriedade Industrial lá pode receber 800 dólares por hora, o que para uma empresa europeia é completamente descabido. Mas há formas diferentes de fazer as coisas, como colaborar com empresas que já passaram por isso. Estamos a aprender a fazê-lo com menos custos.