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Para Angola, o calçado tem de ter um formato mais bicudo e alongado e também cores vivas. Em Portugal, as preferidas são as formas mais redondas e as peles pretas e castanhas. Alongada, tanto para homem como para mulher, deve ser a configuração dos produtos desenhados para encaixar no gosto dos consumidores de Taiwan. Os sapatos clássicos da Lara Guina, feitos com peles pintadas à mão por artesãos e com solas em couro, estão há apenas três anos no mercado, mas a jovem empresária já sabe que é "fundamental" ajustar as colecções aos diferentes países.
Nascida há 30 anos na Suíça, onde os pais estavam emigrados, veio com oito anos para Portugal, formou-se em Psicologia, especializou-se na área clínica e trabalhou numa instituição particular de solidariedade social até 2011, quando criou um ATL em que dá apoio e desenvolve actividades com crianças após o horário escolar. Foi também na vila da Tocha, pertencente ao concelho de Cantanhede, que, três anos depois, decidiu acrescentar este segundo negócio que assenta na área do design, de que "sempre [gostou] muito desde criança". O facto de o marido ser da zona Norte e ter família ligada à indústria do calçado, um sector que "está com força e em grande", completou a ideia e a oportunidade.
A intervenção de Lara Guina dos Santos Pinto – adoptou o segundo apelido no dia-a-dia e para a marca comercial, por ser menos banal do que os últimos – estende-se do desenho à selecção das solas e das peles, envolvendo uma discussão dura e longa com a fábrica até "vingar" a amostra final. "Não é fácil iniciar uma marca e um design do zero, tentar agitar ali um bocadinho com ideias mais inovadoras. Isso nem sempre é bem recebido. Ouvimos mais vezes o ‘não’ e a primeira colecção não foi nada fácil de obter, também por ser uma linha com modelos arrojados e usar peles e cores que não são assim tão fáceis de obter", recorda.
Nascer a exportar
Depois de meio ano a preparar a entrada no mercado, que incluiu a participação numa feira profissional na Alemanha, a primeira venda da Lara Guina foi logo para Angola, por via de um cliente de origem portuguesa. "O objectivo era exportar e conseguimo-lo de imediato", frisa a gestora. Angola vale 75% das vendas e é o melhor mercado para a Lara Guina – "aceita muito bem este calçado, não só pelas cores e pela ousadia como pelo tipo de forma" –, mas também figura na lista das maiores ameaças devido à incerteza económica e política que atravessa.
Dirigidos a clientes que "gostam do estilo clássico, mas de andar na moda e de calçar algo que não é usual", estes sapatos têm um preço recomendado de venda que varia entre os 130 e os 200 euros em Portugal, estando presente na cadeia Stara e em "boutiques" de várias cidades. Fora do mercado interno, e além do angolano, o calçado da Lara Guina está também à venda em Taiwan, que já absorve 10% da produção e que está em "forte crescimento", e em lojas na Suíça, Luxemburgo, Alemanha e Hungria.
Curto no fábrico, grosso na concorrência
A Lara Guina produz pequenas quantidades e trabalha praticamente sem stocks, o que não a impede de apontar a grandes rivais.
FABRICO ARTESANAL E PERSONALIZÁVEL
. O produtor do calçado é uma pequena fábrica no Norte do país, que faz um trabalho "quase totalmente artesanal a um preço muito competitivo".
. A Lara Guina encomenda quantidades pequenas, o que permite uma maior personalização dos produtos, seja na escolha das cores ou dos acabamentos.
RESPOSTA RÁPIDA SEM STOCKS
. A Lara Guina trabalha quase sem stocks, mas a empresária garante que consegue cumprir os prazos de entrega.
. As encomendas são feitas com uma antecedência de um mês e meio a dois meses. Em média, são à volta de 300 a 400 pares.
CONCORRENTES DE PESO E RAIZ NO MERCADO
. A jovem empresária admite que, mesmo sendo "sapatos idênticos", aqueles distinguem-se pela forma de produção e maior qualidade.
"Gostaria de fazer a feira de Las Vegas"
A empresária crê que o calçado Lara Guina pode ser "muito bem recebido" nos EUA.
Já tiveram algum contacto com os EUA?
Ainda não vendemos nada para lá nem temos nenhum contacto nesse mercado. Mas penso que o nosso artigo nos EUA seria muito bem recebido.
O que torna atractivo o mercado americano?
É um país grande, com um número elevado de consumidores. E depois tem um poder de compra elevado. Mas é também um mercado muito complicado para entrar. Esses contactos [de potenciais clientes] não chegam até nós com facilidade. Enquanto na Europa há maior circulação de pessoas, elas vão às feiras, no caso dos EUA, talvez devido à distância, não há um contacto pessoal e troca de informações. Se calhar não se deslocam tanto às feiras profissionais na Europa.
A dimensão não ajuda...
Sim. A empresa é recente e a marca ainda não está suficientemente divulgada.
Como querem contrariá-lo?
O ideal era participarmos na feira de calçado de Las Vegas. Gostaria de fazer essa feira. Mas será um projecto a longo prazo, não para já. O investimento é bastante elevado, apesar da parceria com a Apiccaps [a associação do sector]. Entretanto, o objectivo é estarmos atentos a ver se conseguimos angariar lá algum agente.