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A mãe e as tias tinham sido costureiras durante alguns anos, pelo que este sector não era uma novidade completa. O espírito comercial também estava lá desde pequena, quando "ia com um amigo buscar calendários à estação e vendia-os no café". Apercebendo-se que "em Portugal não há muita gente a trabalhar bem as licras" nem a aplicar as rendas ou o bordado inglês em biquínis e fatos de banho para crianças, a lisboeta, que "põe as ideias em dia" a olhar para o mar, arrumou também a vida profissional com o lançamento da Turquesa Beach.
A primeira colecção desta marca, que surge com a promessa de "[tornar] as crianças mais coquetes", foi divulgada e colocada na loja online em Abril deste ano. Estreou-se com a produção de mil peças de 18 modelos diferentes (e cada um tem várias versões), o que leva a empreendedora a apresentá-la como "apetecível porque não veremos dez crianças na praia vestidas de igual".
Além dos biquínis e fatos de banho para crianças dos seis meses aos 12 anos - cujo preço médio varia entre 20 e 50 euros -, a colecção inclui vários acessórios, como bijuteria feita com o mesmo tecido e chinelos "crocs" decorados com aplicações naquele padrão. "As crianças têm mesmo de ficar com um ar mais coquete", brinca.
Online e noutras areias
Com currículo a integrar e liderar equipas comerciais em indústrias tão diferentes como a da restauração, de ares condicionados ou farmacêutica - nesta última trabalhou 15 anos, como delegada de informação médica e na parte hospitalar -, Madalena Dias entra agora com a criatividade na escolha dos modelos, na conjugação das peças, dos tons, das texturas e das diferentes qualidades de tecidos. Ao contrário do trabalho em equipa a que estava habituada, neste novo projecto ainda labora sozinha - "sou patroa de mim mesmo, o que é uma chatice" - e é também a única sócia.
"O investimento envolveu tudo o que tinha. Tudo o que eu tinha, mesmo até ao último tostão, foi gasto com a colecção. Tenho agora de ter a parte das vendas para poder suportar o resto da operação. Mas a empresa arranca também sem uma única dívida e isso já é uma lufada de ar fresco", resume.
Confiante de que venderá todas as peças até Setembro, a empresária de 52 anos pretende dessa forma obter as receitas necessárias para iniciar no final do Verão a aposta em mercados internacionais, em que "as mães fazem mais compras online do que aqui" e também onde abunda o sol para "continuar a trabalhar o resto do ano".
Licra em mãos brasileiras e no olho forasteiro
Fornecedores e produção são parte da "alma" do negócio, a que ainda falta capital para investir em talento e prospecção de mercado.
De Itália ao fabrico lisboeta com sotaque
• As licras são importadas de Itália e os desenhos seleccionados pela empreendedora são estampados no Norte do país.
• O fabrico das peças está entregue a um grupo de seis costureiras brasileiras, em Lisboa, que "têm mais o tacto para trabalhar as licras".
• A escassez actual de capital para investir impede a empresa de "contratar as melhores pessoas no mercado", por exemplo, na área do marketing, lamenta.
• Outra ameaça apontada é "partir para o desconhecido" que são os mercados internacionais, sobre os quais, reconhece, não abunda a informação e o conhecimento.
Tecnologia "secreta" em fase de protótipo
• A marca pretende juntar uma tecnologia que irá "tapar uma necessidade que existe, sobretudo para os pais das crianças.
• O protótipo ainda está a ser desenvolvido para poder funcionar e ser aplicado nos fatos de banho, mas ainda não pode ser divulgado.
Perguntas a Madalena Dias
Fundadora da Turquesa Beach
Tenho tendência para as causas impossíveis
Os EUA e os mercados onde o sol brilha todo o ano têm potencial para esta nova marca.
Quais os mercados externos com mais potencial?
Há mercados muito apetecíveis porque o sol brilha sempre lá, como o México. Também poderão ser importantes os EUA, que toda a gente diz que é impossível, e a Colômbia. Além de ter muito sol, está a ligar-se muito à moda e o poder de compra está a subir.
Por que lhe dizem que os EUA são impossíveis?
Por vários factores. O da exportação, porque tenho de ter lá uma empresa, ter lá alguém que trabalhe os produtos, por todas as burocracias. E agora com o presidente Trump não sabemos se as coisas melhoram ou pioram. Toda a gente me assusta, mas tenho tendência para as causas impossíveis.
E por que acha que vale a pena enfrentar o impossível?
É um mercado com um valor muito alto e em que as pessoas não têm problemas em pagar 100 dólares por um fato de banho para crianças. Em termos do design, isto é diferente de tudo o que aparece por lá. Os EUA têm coisas espectaculares, mas o design não é tão bom quanto isso. E levar as nossas rendas e o nosso bordado inglês para lá é apresentar também um bocadinho de Portugal. Se enviamos vinhos, também podemos mandar fatos de banho com rendas [risos].