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Iki Mobile: Telemóvel de cortiça apanha “rede” industrial em Coruche

A marca portuguesa exporta equipamentos e acessórios de telecomunicações para vários mercados, como Angola e Timor, e está a investir numa fábrica para desviar da China a produção de telemóveis das operadoras europeias.

02 de Agosto de 2017 às 10:29
Tito Cardoso, 39 anos, assegura que a fábrica de Coruche vai produzir telemóveis a um preço "mais competitivo" do que na China e com uma mão-de-obra de maior qualidade. Paulo Duarte
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A expectativa inicial passava pela comercialização de 30 mil produtos, mas a Iki Mobile acabou por completar o ano de estreia com perto de 290 mil artigos vendidos, metade deles acessórios e o restante telemóveis com sistema operativo Android que se destacam no mercado pela incorporação de alguns componentes em cortiça. Estes números são uma garantia da própria empresa e ajudam a explicar o entusiasmo da gestão com um projecto tecnológico que está a avançar com investimentos industriais dentro e fora do país.

Lançada oficialmente em Novembro de 2015, depois de mais de três anos a desenvolver o produto e a fazer o registo comercial em vários mercados internacionais, a marca portuguesa gerou uma facturação a rondar os cinco milhões de euros em 2016. A quase totalidade (96%) nos mercados externos, do americano ao timorense. O angolano, em que firmou um acordo de distribuição exclusiva com um parceiro local, é "o mais representativo", detalhou o presidente executivo, Tito Cardoso.


250
Lojas em Portugal
Acordo de distribuição assinado em Novembro com a Jp.di, do grupo JP Sá Couto, colocou estes artigos em 250 lojas no país.

66,9
Preço smartphone
O smartphone mais barato da Iki Mobile custa 66,9 euros, enquanto o modelo mais caro ascende a 290 euros.


O peso do negócio em Portugal deve subir no final deste exercício, já que só em Novembro assinou contrato com a Jp.di, empresa de distribuição da antiga JP Sá Couto, que colocou estes produtos com um posicionamento de "entrada de gama" em cerca de 250 lojas no país - e que tem também a exclusividade para a entrada no retalho espanhol. "Estrategicamente, estamos próximos do pequeno e médio retalhista. Já recebemos convites do grande retalho, mas não temos interesse", assegurou o gestor, 39 anos, natural de Alijó e formado de base em Arquitectura.

Mais barato que na China

A grande alteração no modelo de negócio vai chegar antes do lado da produção, que até ao final deste ano deverá deixar de estar concentrada integralmente na China, passando os produtos da Iki Mobile a ser fabricados numa nova unidade industrial situada em Coruche, que reclama o título de capital mundial da cortiça. Este investimento, avaliado em 1,6 milhões de euros, promete mais do que duplicar o número de trabalhadores, dos actuais 22 para cerca de meia centena.

Com uma estimativa de autonomia a rondar os 70% - há partes dos telemóveis que não vai conseguir fabricar e terá de comprar fora, como a câmara de filmar ou o ecrã -, a unidade vai ter como director de produção e de desenvolvimento do produto um quadro chinês que até agora era o parceiro da Iki Mobile para acompanhar o processo de fabrico naquele país asiático.

"Vamos ter um preço mais competitivo do que na China, onde tem aumentado muito, e com uma mão-de-obra de maior qualidade. Já sabemos do início ao fim como é que tudo é feito lá, podemos negociar directamente com os fornecedores. E depois há a proximidade [geográfica] e o respeito pelo trabalhador e pelas regras de higiene e segurança, que é um ponto importante para as operadoras europeias", detalhou Tito Cardoso, acrescentando que uma das metas é que elas transfiram a produção de telemóveis da China para esta fábrica portuguesa.

raio-x

Incorporar mais cortiça com âncora africana

A utilização da cortiça vai chegar a mais componentes internos dos aparelhos da Iki Mobile, que têm mercados promissores em África.

Estudo para aumentar aplicações da cortiça
 A cortiça é usada como capa e na embalagem, mas as aplicações vão aumentar após construção da fábrica com objectivo de eliminar várias componentes poluentes.
 Em estudo com a Amorim - o outro parceiro do sector é a Granorte - está o uso da cortiça em partes do isolamento e para o aparelho funcionar melhor.

Lança europeia espetada em África...
 Nigéria, Marrocos e Tunísia são alguns dos próximos mercados em que a Iki Mobile quer entrar.
 O produto "enquadra-se bem [em África] porque é europeu e isso tem estatuto" nesses países, que têm também "quase o mesmo fuso horário" que Portugal.

... Inclui investimento fabril em angola
 Outro investimento industrial em curso, no valor de quatro milhões de euros, está a ser realizado em Angola, podendo entrar em produção ainda este ano.
 Essa unidade angolana vai "fazer muita assemblagem dos produtos" para vender naquele país e servir os mercados da África Austral.




Perguntas a Tito Cardoso
Presidente executivo da Iki Mobile

Contactos em Miami para a distribuição

A fábrica vai tornar mais fácil e barato alterar a banda para o mercado americano.

Qual tem sido a reacção dos EUA aos vossos produtos?
De muito interesse. Temos contactos feitos com distribuidoras, sobretudo de Miami, para vender no mercado interno e também exportar dali para o México, República Dominicana, Jamaica - talvez no futuro para Cuba. Já vendemos alguns telemóveis no canal online, ao consumidor final, mas foi algo mais simbólico porque temos de alterar a banda e isso custa-nos bastante. Para já, o mais fácil é vender acessórios.

O consumidor dos Estados Unidos valoriza o produto em cortiça pela questão ambiental, do toque e até da saúde.

Aí o fabrico é relevante?
O mercado americano, tal como o Canadá ou o México, tem uma banda diferente [da europeia e da africana] e alterá-la não é algo que se faça de um momento para o outro. Com a fábrica conseguiremos ter autonomia completa para poder vender para lá um produto adaptado. Pegar no nosso produto e colocarmos a banda que queremos no número de produtos que eles quiserem.

E a cortiça é valorizada?
Sim. Todos os países gostam, mas quase nenhum conhece a cortiça. Temos de explicar até que não dá cabo da árvore. O americano valoriza o produto pela questão ambiental, do toque e até da saúde. Estamos a tentar provar que, pela capacidade de isolamento, a cortiça tem benefícios, por exemplo ao nível da radiação da bateria.


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