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A construtora que entrou na "alta-costura"

A Bysteel, do grupo DST, é a quinta maior exportadora de Braga. Com a nova Bysteel FS, de revestimentos e fachadas, prevê-se que a facturação duplique em cinco anos.

27 de Junho de 2018 às 12:56
Paulo Duarte
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Num dos edifícios do grupo DST, José Teixeira, o presidente, surge maquilhado, de capacete de engenheiro, ao centro de uma longa mesa ocupada por funcionários de 12 departamentos. Ele é o Messias. Não na vida real, mas na representação de "A Última Ceia", fotografada por Ângela Berlinde, uma encomenda do grupo que investe na cultura e na arte não por requinte, mas por estratégia, mesmo que no início as pessoas achassem "um bocadinho esotérico", como diz o presidente.


Entrar nos escritórios da Domingos da Silva Teixeira (DST), em Palmeira, Braga, é quase como visitar uma exposição colectiva de pintura, fotografia, escultura e design. Há também uma biblioteca da qual se requisitam livros pela intranet, os trabalhadores podem ser disco jockeys por 15 minutos na cantina, os gestores têm aulas de teatro para desenvolverem noções de oratória e, no horário de trabalho, 30 minutos por dia estão reservados ao pensamento. "Isso implica que tenhamos 500 horas de inovação por dia. Podem dizer que meia hora por dia custa muito dinheiro, mas eu pergunto: quanto custa a ignorância?" É assim que se cultiva o "ethnos da empresa", acredita José Teixeira, engenheiro civil de formação e mecenas de um prémio literário, de uma galeria de arte e da Companhia de Teatro de Braga, entre outras frentes.

Na Bysteel, tivemos sempre um ambiente de menor actividade, de uma grande concorrência, de uma enorme queda dos preços da construção para valores que não eram praticáveis. Por isso mesmo, começámos a olhar para o mercado internacional. RODRIGO ARAÚJO
Administrador da Bysteel 

Mas não terá sido exclusivamente a aposta na cultura e no conhecimento a salvar o grupo do colapso enquanto muitas construtoras se afundavam à sua volta durante a crise económica. O investimento em tecnologia e a diversificação nas áreas da engenharia e construção, ambiente, energia e telecomunicações fizeram-nos abarcar uma extensa cadeia de valor.


15
Contrato
O valor do primeiro grande contrato da Bysteel no exterior, em Angola, foi de 15 milhões de dólares.

24
Facturação
O volume de negócios da construtora de estruturas metálicas, em 2016, foi de 24 milhões de euros.

80
Projecção
A Bysteel e a Bysteel FS pretendem facturar juntas 80 milhões daqui a cinco anos.

80,28%
Exportações
O peso das exportações no volume de negócios foi superior a 80%.


Em 2016, uma das empresas do grupo, que três anos antes nem sequer espreitava a lista das 10 maiores exportadoras de Braga, figurou no quinto lugar do "ranking", com 19,3 milhões de euros em volume de exportações, segundo os dados que a Informa D&B forneceu ao Negócios. Autonomizada a partir do departamento de construções metálicas no final de 2007, a Bysteel estava a quatro milhões de euros do valor de exportações da sexagenária Casais - Engenharia e Construção, ainda que muito longe do seu volume de negócios (em 2016 facturou mais de 24 milhões de euros, quase um terço do saldo da construtora bracarense).

"Angola foi para sobreviver"

A empresa entrou no projecto e produção de estruturas metálicas de "alta complexidade" por Portugal, mas já tinha os olhos postos no exterior. Assentou o primeiro pé em Angola, onde construiu o "shopping" dos ricos e de Isabel dos Santos, na zona de Talatona, em Luanda, e sobrevoou o Nordeste do país numa "das maiores operações aéreas desde a descolonização", descreve o administrador, Rodrigo Araújo. "Alugámos sete aviões Boeing 747 para construir as aerogares do Dundo e de Saurimo. Foi um contrato de 18 milhões para cinco meses." Mas foram as Torres Oceano, com um valor de contrato de 15 milhões de dólares, o "primeiro grande momento da Bysteel no espaço internacional", conta o gestor, que assume: "Angola foi para sobreviver."
A Bysteel é uma das empresas do grupo DST. E está virada para o mercado internacional. Angola foi o seu primeiro destino. E hoje está já à conquista da Europa.
A Bysteel é uma das empresas do grupo DST. E está virada para o mercado internacional. Angola foi o seu primeiro destino. E hoje está já à conquista da Europa. Paulo Duarte
Ainda antes que o dinheiro começasse a soprar menos do lado do país africano, vieram apertar a mão ao continente europeu, e hoje França é o maior mercado da construtora. "A Bysteel é a empresa do momento" do sector naquele que deverá ser o maior centro financeiro da Europa, em La Défense, Paris, onde têm a cargo a torre Trinity (6,8 milhões de euros) e o edifício Pascal.

O ritmo alavancou a criação da Bysteel FS, a empresa de "vestidos de alta-costura que cobrem o corpo dos modelos em aço", deslumbra-se Rodrigo Araújo, que gosta de sonhar com nomes como Frank Gehry no currículo de colaborações. Em 2016, programavam "uma nova fábrica, um laboratório de ensaios e uma empresa dotadas dos diversos conhecimentos, do design à execução". No ano passado, ganharam os primeiros contratos e querem que a FS "participe tanto como a Bysteel Construções participa hoje para o volume de negócios do grupo". Em cinco anos "andará nos 400 trabalhadores" e "as duas empresas, somadas, têm uma ambição que entra na casa dos 70 [milhões] a 80 milhões de euros".


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