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À procura de bolachas no vale do silício

Mais de 90 empresas recorrem à tecnologia do INL, de onde saem bolachas de silício trabalhadas à nano-escala para melhorar sistemas electrónicos e construir protótipos.

27 de Junho de 2018 às 12:18
Em Braga há uma "estrutura única": o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia Paulo Duarte
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"Em 2011 não tínhamos mobília, a maior parte dos laboratórios não estava equipada, havia pó por todo o lado. Os primeiros três anos foram para organizar a casa. Quando o professor Lars [Montelius] veio, a abertura do INL mudou a 300% e entrámos numa fase de definição de estratégia, em termos de investigação, inovação e sustentabilidade. Agora estamos na terceira fase: a de velocidade-cruzeiro." O resumo é de Paula Galvão, chefe de inovação e de ligação à indústria no Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia - INL, "uma estrutura única" em Portugal e como poucas no mundo. Para já, todos os que aqui trabalham têm estatuto diplomático. Oficialmente, os terrenos do INL, na zona Este de Braga, não são solo português, portanto, não há que pagar impostos.

Nos últimos três anos, o instituto tem investido na ligação ao sector privado, em Portugal e no estrangeiro. O objectivo é criar impacto social colaborando com as áreas do ambiente, alimentar, automóvel ou da saúde, para as quais produz bolachas de silício que são repartidas em chips com múltiplas funcionalidades. Mas como pode a nanotecnologia ser útil a uma empresa de Israel, China ou Estados Unidos, três dos principais mercados do INL? "Para praticamente todas as empresas há um 'match' [correspondência]" entre o que elas pretendem e o que o INL faz, responde Paula Galvão. Depois, esta é "uma estrutura jovem, que facilmente se adapta". Prova disso é que tem protocolos com 92 empresas (entre as quais a Navigator, a Sonae, a Bosch e a Tekever; muitas outras entram no plano confidencial) e 75 universidades.

O contrato de desenvolvimento industrial mais antigo do INL data de 2011, ano de arranque da estrutura. Começou por valores "relativamente modestos", mas até 2019 deverá gerar um milhão de euros (valor anual). É esta a evolução que a direcção espera para outros projectos, sendo que há 25 em carteira e 35 em discussão, 15 dos quais internacionais. Com Braga, a relação é estreita: colaboram com a Câmara Municipal - estão a testar um sensor para monitorizar a qualidade do ar - e com 20 empresas privadas.

40 milhões em equipamento

Ao todo, foram investidos cerca de 40 milhões de euros em equipamento e é muito isso que leva cientistas de mais de 30 países (são entre 220 e 230, mas há capacidade para 400) a querer produzir conhecimento a partir de Braga. Um deles é o colombiano Sebastian Velasco, de 34 anos, que está a estudar, em equipa, a condutibilidade do grafeno, um material revolucionário, muito mais resistente e leve do que o aço.

Nas costas, Sebastian tem um microscópio gigante que permite olhar para as nanopartículas como se fossem favos de mel. O edifício foi construído de raiz para que a maquinaria macro pudesse entrar e permitir ao olho humano trabalhar na escala de um fio de cabelo dividido num milhão de pedaços.


Perguntas a Paula Galvão
Chefe de inovação do INL


"Entrar num projecto por mero lucro não é a filosofia do INL"

O modelo de financiamento da estrutura ibérica divide-se em três frentes, mas é a contribuição do sector privado, que garante a sua sustentabilidade.

É o mercado que está a ditar o caminho do laboratório?
O INL não quer fazer investigação por si só, não é o que apetece aos investigadores... Os desafios que o INL define para a sua agenda de investigação são os necessários para contribuir para uma melhoria da qualidade de vida. Mas, como a nanotecnologia é transversal, é muito fácil encontrar um 'match' [correspondência] com as empresas.

Recusariam um projecto de uma empresa em que não vissem mais objectivos do que obtenção de lucro?
Entrar num projecto por mero lucro financeiro não é a filosofia do INL. Isso nunca aconteceu.

Tem havido um grande investimento na estrutura e em equipamento. Já conseguiram equilibrar as contas?
Estamos no caminho certo, próximos disso. Mas os números não são públicos. O que posso dizer é que cerca de 30% do financiamento vem dos Estados-membro, Portugal e Espanha; 30% de programas de competitividade, nacionais e europeus; e 30% de contratos com empresas [a vertente em maior crescimento]. Tendo um modelo que inclui o privado, o INL terá, com certeza, um modelo sustentável. 


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