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Uma agência como a InvestBraga precisava de estar fora da máquina autárquica para funcionar?
Não está estritamente fora. É uma empresa municipal que foi reconfigurada em 2014, ano em que também passou a assumir o apoio ao empreendedorismo, através da Startup Braga, e à dinamização económica. Era necessária uma estrutura proactiva para estimular o desenvolvimento económico, que foi a minha primeira prioridade, juntamente com a criação de emprego. A InvestBraga tem sido o pólo aglutinador em relação ao INL [Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia], às universidades, às empresas... Ao mesmo tempo, é uma espécie de consultor 'pro bono' que acompanha processos de investimento. Mas, ao ser uma estrutura autónoma, acaba por ter outra flexibilidade e consegue congregar recursos que as câmaras municipais não têm.
Têm saído muito do país para captar investidores...
Tínhamos de inserir Braga em espaços de visibilidade à escala internacional e, para tudo o que tem a ver com tecnologias de informação e comunicação (TIC), podemos ser um destino natural. Infelizmente, temos um país demasiado centralista, mas nestes quatro anos temos conseguido demonstrar que o que se passa à volta de Lisboa e do Porto é muito importante. Ainda que não do ponto de vista formal, somos o terceiro concelho mais exportador - temos 500 milhões de euros da Aptiv que estão a ser imputados a Lisboa, mas que são gerados e exportados a partir de Braga. Não considerando isso, passamos para sétimo.
Querem criar uma imagem de hub tecnológico?
Não especificamente. Temos uma massa crítica muito grande nas TIC e na componente electrónica e de engenharias, ligadas à sensorização, que está a ser muito canalizada para a indústria automóvel. Mas queremos estender isto a outros domínios, como a nanotecnologia, a biotecnologia, a engenharia biológica e as ciências da saúde.
O que se pode esperar da revisão do Plano de Desenvolvimento Económico?
Não vamos alterar os objectivos estratégicos [de 2014]. Queríamos criar 500 postos de trabalho todos os anos e afinal criámos 2.000 a cada ano. Obviamente que não podemos continuar sempre a este ritmo… Mas o plano também tem uma questão importante, a corresponsabilização: não eram tudo coisas que tivessem de ser feitas pela InvestBraga ou pelo município; havia projectos que tinham de ser desenvolvidos pelas associações, pela universidade, por empresários.
Mas há medidas que dependem exclusivamente da autarquia, como a criação de um museu de arte contemporânea. A intenção mantém-se?
Mantém. Os recursos não são totalmente elásticos e não podemos pensar que basta estalar os dedos para conseguir resultados. O museu de arte contemporânea é uma peça fundamental dentro de outro objectivo estratégico: a candidatura a Capital Europeia da Cultura. Agora, há projectos da nossa estrita responsabilidade que ainda não avançaram porque não temos os recursos necessários.
De 2014 a 2016, reduziram a dívida em quase metade [de 91,7 milhões para 48 milhões de euros]. Estes investimentos não vão abalar as contas?
Sempre tivemos uma lógica de rigor. E, na sua esmagadora maioria, os projectos são financiados por fundos comunitários. Não antevejo que os investimentos possam pôr em causa a nossa capacidade de ter boas contas e de reduzir os montantes de dívida que encontrámos no início do mandato.
Em que é que o concelho está diferente desde que assumiu a presidência?
Braga passou muito tempo escondida debaixo do tapete, era uma jóia que não estava a valorizar-se fora de portas. Depois, teve um grande crescimento económico, com a atracção de empresas e a criação de emprego. Na dinâmica cultural, tem hoje uma actividade que alguns menorizam e rotulam de "festas e festinhas", mas que são um conjunto de eventos muito diversificado. E há o trabalho na área da juventude, da participação cívica e do desporto. Tudo isso marca uma ruptura grande com o que acontecia há cinco anos.
Angela Merkel não teria vindo a Braga em 2013?
Não... A cidade está substancialmente diferente, e isso não é mérito da Câmara Municipal, mas de todos os agentes e muito da universidade. Se captamos investimentos não é porque temos terrenos ou mão-de-obra barata, mas porque temos massa crítica e capacidade de desenvolvimento que não é fácil de encontrar noutros pontos à escala global.
Sucessor de um dinossauro
Eleito em 2013 depois de oito anos como vereador (na oposição, pelo PSD) na Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio sucedeu a 37 anos de Mesquita Machado (PS) no poder. Foi um dos mais longos mandatos políticos da história democrática nacional e resultou no envolvimento do ex-autarca em diferentes processos judiciais. A dívida global de 107 milhões de euros encontrada pelo actual executivo foi um dos maiores desafios de gestão.
Além de liderar os destinos do município minhoto, Ricardo Rio gosta de correr e de jogar futebol. Tem 45 anos e é formado em Economia pela Universidade do Porto.