Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

A nota alarmante da Capital Economics sobre Portugal vista à lupa

A consultora britânica alertou para as consequências de um eventual corte da DBRS e para a exclusão do programa compras do BCE. E referiu que nesse cenário os juros subiriam para 8%, níveis que levaram ao resgate.

Bruno Simão/Negócios
09 de Março de 2016 às 18:41
  • 18
  • ...

A Capital Economics, uma empresa de "research", mostrou num relatório divulgado esta terça-feira preocupações sobre Portugal. A economista que acompanha a economia europeia, Jennifer McKeown, defendeu que após a Fitch ter cortado a perspectiva para o "rating" de Portugal de positiva para estável, aumentaram os receios sobre a decisão da DBRS a 29 de Abril.

"As últimas subidas nas taxas das obrigações portuguesas reflectem os receios de que a dívida irá em breve ser classificada como "lixo" pelas quatro maiores agências de "rating", levando o país a ser excluído das compras de activos do BCE", refere a consultora, numa nota divulgada na véspera de Portugal fazer o primeiro leilão de obrigações do Tesouro do ano.

A economista considera que "os receios aparentam ser justificados, o que sugere que os custos de financiamento de Portugal podem aumentar ainda mais". No pior cenário, que inclui um corte de "rating" da DBRS e a perda de elegibilidade para o programa de compras do BCE, a Capital Economics estima que as taxas de juro possam chegar a 8%.

O que tem dito a DBRS

Os receios sobre o risco de um corte de "rating" da DBRS causaram pressão sobre a dívida portuguesa principalmente nas primeiras semanas de Fevereiro. Alguns bancos de investimento, como o Commerzbank, por exemplo, temiam que dados os alertas deixados por Bruxelas em relação ao Orçamento do Estado, poderia haver motivo para a DBRS colocar, pela primeira vez, Portugal em "lixo", o que deixaria a dívida portuguesa vulnerável.

A agência canadiana classificou sempre Portugal acima de "lixo", mesmo no pico da crise de dívida. E após a incerteza sobre a decisão da DBRS ter levado a taxa a dez anos a passar os 4,5% a 11 de Fevereiro, Fergus McCormick, o responsável pelos "ratings" soberanos da agêcnia, afirmou que estava "confortável" com a notação atribuída a Portugal. Isto apesar de considerar que se as taxas permanecessem altas, isso colocaria riscos para a trajectória do rácio da dívida sobre o PIB. Após essa pressão as taxas chegaram a passar abaixo de 3% e situam-se esta quarta-feira em3,16%.

A DBRS referiu ainda que tem estado em contacto com o Governo português, e que o executivo tem dado garantias à agência de que caso seja necessário está disposto a tomar medidas adicionais para compensar eventuais desvios orçamentais. Após estes comentários, o Commerzbank, um dos bancos que temiam um corte de "rating" , veio referir que as declarações da DBRS atenuaram os receios de que as obrigações portuguesas iriam perder a elegibilidade junto do BCE. Também algumas gestoras de activos, como a Amundi, afastaram o cenário de cortes de "rating".

A expulsão do programa do BCE

A Capital Economics defende que caso a DBRS corte o "rating" de Portugal para "lixo", o BCE terá mão pesada com Portugal. Nas regras do banco central, apenas países que tenham pelo menos um "rating" acima de lixo. E a consultora constata que "o BCE indicou que excepções apenas podem ser aplicadas se os países estiverem sob programa de resgates e se cumprirem com as metas".

A economista ressalva que "podem ser feitas concessões para países que não estejam sob resgate mas que cumpram com as suas obrigações orçamentais". O problema, segundo a Capital Economics, é que "a projecção para o défice para 2016, de 2,2% do PIB, é pior que a anterior meta de 1,8% acordada com a Comissão Europeia". E realça que "a Comissão Europeia expressou dúvidas que esta nova meta possa ser atingida já que é baseada em estimativas económicas irrealistas".

Apesar disto, a Moody’s desvalorizou recentemente o risco de o BCE retirar a dívida portuguesa do programa de compras. "Haverá outra forma de o BCE continuar" as compras de activos, referiu Kathrin Muehlbronner, a analista da agência que segue Portugal. "Simplesmente não acredito que o BCE fará essa decisão depender apenas da DBRS, ou da Moody’s, se fosse esse o caso", acrescentou.

O risco de juros de 8%

A conclusão da Capital Economics é que "o BCE irá provavelmente excluir Portugal do seu programa de compras de activos se a DBRS baixar o "rating" no próximo mês. Isso resultaria quase de certeza numa subida adicional das taxas das obrigações, talvez para níveis de cerca de 8% que forçaram o resgate de Portugal em 2011". isto apesar de entidades como o JP Morgan terem defendido que as obrigações portuguesas negoceiam em valores atractivos e não anteciparem grandes subidas das taxas

Apesar do alerta da Capital Economics deixado na véspera de uma operação de financiamento de Portugal e dos receios do mercado constatado pela Capital Economics, o Estado conseguiu obter financiamento de 1.215 milhões de euros esta quarta-feira em dívida a cinco e dez anos. Na maturidade mais longa, a taxa da operação foi a mais alta desde 2014, saindo em 3,138%. Ainda assim, e apesar da subida, está bem distante da fasquia de 8% temida pela Capital Economics.

Filipe Silva, director da gestão de activos do Banco Carregosa, explicou que "a subida nos juros da dívida é um movimento que vem desde o momento da preparação do orçamento do Estado", quando decorriam as negociações entre o Governo e Bruxelas. Mas realçou que os dados da operação ficaram "em linha com o que está a ser praticado no mercado". E defende que "o país continua a conseguir colocar dívida sem qualquer problema, mantendo a procura constante".

Já o ministro das Finanças defendeu recentemente, numa entrevista á Bloomberg, que taxas de juro de 10% são algo que pertence ao passado. Reforçou que "o trabalho do Governo é tranquilizar os mercados quanto ao facto de que o compromisso de deixar esses tempos para trás é muito firme". 

Ver comentários
Saber mais Capital Economics Jennifer McKeown Fitch Portugal DBRS BCE Bruxelas Orçamento do Estado Fergus McCormick Governo Comissão Europeia Kathrin Muehlbronner Filipe Silva Banco Carregosa
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio