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Tudo o que os especialistas financeiros dizem sobre o Brexit

Os britânicos votaram, o Brexit venceu e o impacto nos mercados foi imediato e significativo. Agora, os especialistas dos bancos de investimento e das gestoras de activos avaliam as consequências para o Reino Unido e a União Europeia.

Bloomberg
24 de Junho de 2016 às 11:39
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Foram quatro meses de nervosismo que dominaram todas as atenções. Contra as expectativas, o Brexit venceu e, agora, vão ter início as negociações para o adeus à União Europeia. Mas o impacto nos mercados fez-se logo sentir e os especialistas estão em estado de alerta. Bancos de investimento e gestoras de activos estão a informar os clientes dos efeitos do referendo na economia e nos mercados. Por isso, fique a conhecer tudo o que os especialistas dizem sobre o Brexit.

SCHRODERS: "Incerteza significa que a Fed deverá adiar ainda mais a subida dos juros"


Economia:
"Apesar de genuinamente parecer que Bruxelas não tem um ‘Plano B’ para o resultado do Brexit, podemos receber rapidamente uma notificação das autoridades da União Europeia de que um Acordo de Comércio Livre é inaceitável sem a livre circulação de pessoas", destaca a Schroders.

Esse é o ponto mais destacado pela gestora de activos, até porque acredita que "haverá uma pressão das empresas em toda a Europa para negociar um acordo que permita a continuação do comércio entre o Reino Unido e a Europa". Ao mesmo tempo, a Schroders atira: "a incerteza significa que a Fed deverá adiar ainda mais a subida dos juros".


Mercados
: "As acções europeias estão agora a negociar em mínimos históricos face aos EUA", atira a Schroders. A gestora de activos aponta que "o recente e substancial desempenho abaixo do mercado está muito relacionado com receios sobre a União Europeia", mas salienta que, "a certa altura, haverá uma oportunidade de valor convincente para as acções europeias". E acrescenta que "empresas globais e com exposição a países fora da Europa poderão ter o maior potencial de valorização". 

NATIXIS: "O custo é um efeito negativo permanente na riqueza"

Economia: Os analistas do Natixis consideram que após os resultados do referendo, "no curto prazo, a economia britânica pode viver uma queda pronunciada. Pode mesmo cair em recessão. No médio prazo, o custo da independência do Reino Unido pode muito bem ser um efeito negativo permanente na riqueza". Antecipam uma subida da inflação e uma dificuldade acrescida para o Reino Unido controlar as contas públicas. "Não há hipótese, assumindo que existia antes do referendo, de que o governo consiga equilibras as contas até ao final da década. Dado o abrandamento económico, é provável que o défice orçamental fique ainda maior".

 

Mercados: "A volatilidade irá permanecer elevada por um longo período de tempo, em particular no mercado cambial", antecipam os analistas do Natixis. Alertam que "o abrandamento da actividade económica, possivelmente levando a uma recessão, irá pesar nas acções britânicas por um longo período de tempo". Para as outras bolsas europeias a perspectiva é que poderão "vacilar devido aos danos colaterais infligidos pela saída britânica". No mercado de dívida, o Natixis prevê que as obrigações alemãs "lucrem com a incerteza". Já "as dívidas periféricas podem ficar sob pressão, especialmente se o risco de fragmentação da União Europeia, e possivelmente na União Monetária, for percebido como sendo significativo".  



PICTET: "BCE poderá intervir para estabilizar o mercado de dívida"

Economia: "O voto pelo Brexit provavelmente reforçará a recente perda de ímpeto na economia do Reino Unido", aponta a Pictet. Para a gestora de activos suíça, "o resultado do referendo afectará a confiança dos consumidores e das empresas, pelo menos no curto prazo. O investimento empresarial, já frágil, será prejudicado, bem como será o crescimento do crédito".

Devido a estes impactos, a Pictet reviu em baixa as suas previsões para a economia britânica de 1,8% para 1,3% em 2016 e de 2,0% para 0,9% em 2017. Mas também a Zona Euro será afectada. A projecção para a economia da união monetária em 2016 foi revista de 1,8% para 1,5%, sendo que para 2017 passou de 1,7% para 1,3%. A gestora de activos admite que o impacto na economia mundial será, no entanto, limitado, mas acredita que "os bancos centrais provavelmente vão tomar acções coordenadas para evitar uma crise de liquidez".

Mercados: "O mercado nunca descontou completamente o Brexit", atira a Pictet. Por isso, acreditam os especialistas da gestora de activos, "a volatilidade aumentará significativamente, apesar das intervenções dos bancos centrais, e os activos de riscos ficarão sob pressão". O cenário central da gestora de activos é que "as acções do Reino Unido caiam 12% a 15% no curto prazo", ao passo que o Stoxx 50 deverá recuar entre 7% e 10%. Por outro lado, "acreditamos que as acções dos EUA vão continuar relativamente (mas não totalmente) imunes ao voto pelo Brexit".

"Prevemos que um número de activos de refúgio serão impulsionados pelo resultado do referendo do Reino Unido no curto prazo, incluindo o franco suíço, o dólar, o iene, o ouro e as obrigações dos países ‘core’", salienta a gestora suíça. Ao mesmo tempo, diz a Pictet, "as taxas de juro das obrigações alemães deverão cair ligeiramente, acompanhadas por uma subida dos juros na periferia da Zona Euro". No entanto, conclui, "o Banco Central Europeu poderá intervir para estabilizar o mercado de dívida".

RBC CAPITAL MARKETS: "É provável que mercado reaja a fazer lembrar a crise de 2010/2011"

Economia: Os analistas do RBC Capital Markets reconhecem que é necessário "aparecerem mais detalhes para as expectativas para a economia" e mantêm, para já, uma estimativa de queda do PIB britânico de entre 2% a 4% nos próximos dois anos. A atenção está agora virada para os próximos passos que o Banco de Inglaterra irá dar para conter o impacto do Brexit.

Mercado: A reacção violenta dos investidores, castigando os activos de maior risco, o RBC Capital Markets recomenda a manter os mercados do Sul da Europa debaixo de olho. "Destacamos que um dos factores essenciais a ter em atenção é como os mercados do Sul da Europa irão reagir", dizem os analistas do banco de investimento. Constatam que "os investidores internacionais não protegeram de forma apropriada os seus "portfolios" e depois do voto pelo Brexit irão iniciar essa protecção".

Este factor irá "ter um impacto no mercado em euros semelhante ao do mercado em libras e os mercados do Sul da europa são os mais vulneráveis". E avisam que "é concebível que ocorram reacções do mercado a fazer lembrar a crise de 2010/2011".

UBS: "A única certeza é mais incerteza"

Economia: "A incerteza deverá aumentar tanto para as empresas como para as famílias no Reino Unido, causando potencialmente um choque na procura", atira o UBS. O banco suíço antecipa que "o crescimento abrandará ainda mais no segundo semestre", admitindo até que "é muito provável" o Banco de Inglaterra vir a cortar a taxa de juro de referência, actualmente me 0,5%. "Vamos formalmente rever as nossas previsões", garante.

Mercados: "A reacção no mercado cambial, com a libra a cair 9% no início da negociação, provavelmente será uma boa indicação da tendência para os próximos dias", acredita o UBS. O banco suíço prevê que continuará "a volatilidade nas moedas e nas acções, até haver uma melhor compreensão acerca das consequências da decisão do Reino Unido", antecipando que a libra negociará em torno dos 1,30 dólares.

Quanto ao mercado accionista, a desvalorização da libra deverá contrabalançar parte das quedas. "As empresas e os sectores mais alavancados à economia do Reino Unido poderão, por isso, continuar a registar desempenhos inferiores aos do mercado", explica o UBS, nomeadamente de sectores como o financeiro e o de consumo discricionário. 

CREDITSIGHTS: "Resultado levanta questões sobre a periferia da Zona Euro"

 

Economia: "No mínimo isto pode ir contra os esforços do BCE de aumentar a confiança dos mercados na coesão da união monetária", alertaram os analistas do CreditSights. Apesar de referirem que até há poucas "linhas directas de transmissão económica, o problema é que, apesar de à superfície o Brexit aparentar ser um evento singular, em muitas formas pode ser um sintoma de problemas mais generalizados e do descontentamento com as políticas na Europa". E consideram mesmo que o resultado do referendo é um teste ao BCE, já que, "no mínimo isto pode ir contra os esforços do BCE de aumentar a confiança dos mercados na coesão da união monetária".

 

Mercados: No mercado de dívida, além da reacção das obrigações britânicas, os analistas do CreditSigths levantam dúvidas sobre os títulos de emitentes do Sul da Europa. "O resultado do referendo levantará, mais uma vez, questões sobre a periferia da Zona Euro. Não é apenas a incerteza e a uma aversão ao risco que pressiona os prémios de risco do crédito de menor qualidade da Europa. A decisão do Reino Unido irá provavelmente fazer o foco regressar para a possibilidade de mais fracturas no seio da União Europeia, e mesmo da Zona Euro, agora que o princípio da separação foi estabelecido", referem os analistas do CreditSights.


ALLIANZ GLOBAL INVESTORS – "Os investidores devem preparar-se para quedas extremas" a cada má notícia

Economia: "O golpe de incerteza pela iminente saída britânica terá o seu impacto na actividade económica do Reino Unido e da União Europeia", acredita a Allianz Global Investors, salientando que os meses antes do referendo já apontavam para isso. A gestora de activos acrescenta que "o Banco de Inglaterra prevê uma recessão técnica, mas provavelmente estará pronto a compensar quaisquer deslocações financeiras significativas".

Mercados: "O efeito do Brexit nos mercados é já evidente e mais significativo nos activos do Reino Unido", nota a Allianz Global Investors. De olho nos mercados accionistas, a gestora aponta que "algumas empresas cotadas no Reino Unido deverão evoluir razoavelmente bem neste ambiente", mas não as que têm uma grande dependência da libra. E acrescenta que "o que é mau para as acções é normalmente mau para o crédito".

"Apesar de a saída de liquidez imediata dos preços dos activos do Reino Unido poder estabilizar após uma ou duas semanas, os investidores devem preparar-se para quedas extremas sempre que houver dados económicos desfavoráveis, ou quando os desenvolvimentos políticos seguirem o seu curso", salienta ainda a gestora de activos. No resto da Europa, conclui, "prevemos uma subida dos prémios de risco no mercado de dívida, especialmente entre os emitentes da periferia que são vistos como mais vulneráveis ao contágio".

 

BLACKROCK: "A venda indiscriminada poderá traduzir-se em oportunidades"

Economia: "A importante decisão do Reino Unido de sair da União Europeia acarreta consequências políticas e económicas duradouras", acredita a BlackRock. Os especialistas da gestora de activos antecipam que "as perdas potenciais na exportação de serviços e nos fluxos de investimento vão sobrepor-se aos menores pagamentos à União Europeia". Quando às negociações, os responsáveis de Bruxelas deverão assumir um "tom duro em relação ao Reino Unido".  

Mas o Reino Unido terá muito que fazer e aí o foco recai no Banco de Inglaterra. "A primeira prioridade será fornecer ampla liquidez para evitar stress de financiamento", explica a gestora. E a blackRock vai mais longe ao acreditar que "o banco central cortará a taxa de juro de referência em 0,5% em breve, além de regressar às compras de activos em vez de colocar os juros em ‘terreno’ negativo".

Mercados: "Prevemos um euro fraco ao longo do tempo e pressão nas acções europeias, no crédito e nas obrigações da periferia", aponta a maior gestora de activos do mundo. E antecipa mesmo que o Brexit "levará a quedas nas acções mundiais e noutros activos de risco. Ainda assim, a venda indiscriminada poderá traduzir-se em oportunidades". Já no Reino Unido, a expectativa da BlackRock é que "a queda da moeda beneficie grandes empresas com lucros no estrangeiro, ao passo que os sectores domésticos, como a construção, o retalho e o financeiro, parecem vulneráveis".

 

FIDELITY – "BCE poderá aumentar as compras de activos"

Economia: "As empresas europeias com uma exposição significativa ao Reino Unido poderão cortar o investimento, até a incerteza sobre o compromisso britânico em relação à União Europeia aliviar", atira a Fidelity. A gestora de activos nota que as relações comerciais sairão prejudicadas e salienta que, "se o impacto económico adverso for significativo, o BCE provavelmente poderá expandir as compras de activos, reduzindo o risco de uma reversão económica pior do que o previsto".

Mercados: "Pressão negativa nas acções do Reino Unido, especialmente choques no sector financeiros e nos que estão mais dependentes dos migrantes da União Europeia", como é o caso da construção e alojamento, vaticina a Fidelity. Para a maior gestora de activos da Europa, "a pressão será menor nas empresas do Reino Unido que têm maiores ganhos cambiais", antevendo a contínua desvalorização da libra.

Mas a Fidelity aponta também para uma subida dos juros da dívida britânica, devido ao elevado risco e à perspectiva de maior inflação. Por outro lado, "quedas modestas nos preços das casas do Reino Unido são possíveis, devido à redução da confiança dos compradores e a um possível aumento do desemprego".

 

GOLDMAN SACHS – "Previsões macroeconómicas estão agora sob revisão"

Economia: "O maior risco individual para a Europa este ano - que o Reino Unido votasse para sair da União Europeia – cristalizou-se", atira o Goldman Sachs. O banco de investimento norte-americano salienta que a decisão "reduz as perspectivas de crescimento para o Reino Unido e a Europa, numa altura de elevada incerteza". E acrescenta que, "formalmente, as nossas previsões macroeconómicas estão sob revisão". Além disso, o Banco de Inglaterra deverá cortar a taxa de juro de referência em 25 pontos base na reunião de Agosto, ou mesmo antes.

Mercados: Nos mercados, "a maior volatilidade cambial é provável que continue". A expectativa do Goldman Sachs é de fuga ao risco em massa, o beneficiará o dólar, ao passo que a libra e o euro desvalorizam. Refúgio serão também o franco suíço e o iene. Mas os problemas não ficam por aqui. "A crescente convicção dos mercados, de que o Reino Unido votaria para ficar na EU, deverá espoletar uma imediata mudança para [títulos de dívida com maior] segurança", nota o banco norte-americano.

Este movimento levará "os juros das obrigações europeias dos países ‘core’ a recuar e os prémios de risco da periferia a subir". Já no segmento accionista, "ao passo de os bancos centrais actuarem rapidamente para manter o mercado a funcionar, acreditamos que as implicações para o mercado serão enormes, generalizadas e rápidas".

(Notícia actualizada às 14:26, com mais bancos de investimento)

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