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Más notícias para May foram boas notícias para os mercados. Porquê?

Apesar da derrota do acordo de May no Parlamento, que representa mais uma revés no processo do Brexit e incerteza acrescida, os mercados não estão a reagir em pânico. A bolsa de Londres abriu em alta e a libra subiu. O que está a motivar o otimismo?

Reuters
Rita Faria afaria@negocios.pt 16 de Janeiro de 2019 às 13:35

A derrota da primeira-ministra britânica Theresa May, que viu o seu acordo para o Brexit chumbado no Parlamento, esta terça-feira, parecia o prenúncio de uma saída desordenada de Londres da União Europeia, um dos cenários mais temidos pelos mercados. Mas não é assim que os investidores estão a ler o chumbo, pelos parlamentares britânicos, à solução acordada entre May e a UE. Muito pelo contrário.

 

Depois do "não" ao acordo – que venceu com 432 votos, contra 202 – a bolsa de Londres arrancou a sessão desta quarta-feira em alta, e a libra britânica tocou mesmo em máximos de novembro face ao euro. De resto, as principais praças europeias seguem divididas entre ganhos e perdas ligeiras, aparentemente "dormentes" perante o cenário de rejeição do acordo para o Brexit.

 

O que foram más notícias para o Executivo do Reino Unido parecem ser boas notícias para os mercados, apesar de o nível de rejeição ter sido superior ao limite que muitos analistas consideravam poder desencadear um sentimento de pânico no mercado, e apesar de Theresa May estar confrontada com uma moção de censura. Ou talvez por isso mesmo.

 

Isto porque os investidores estão confiantes que o Governo vai sobreviver a esta moção de censura, e que o resultado da votação de ontem – que mostra uma divisão mais acentuada do que nunca no Parlamento britânico - abre a porta a um Brexit ainda mais "soft" ou mesmo a um cancelamento da saída da União Europeia.

 

"A probabilidade de uma saída sem acordo é tão pequena agora, que já nem vale a pena considerá-la", afirma Greg Gibbs, fundador da Amplifying Global FX Capital, citado pela Bloomberg. "Parece cada vez mais certo que a resolução será uma versão ainda mais ‘soft’ da proposta de May e/ou um novo referendo".

 

Essa é uma visão partilhada por vários analistas consultados pela Bloomberg, que falaram sobre as perspetivas da libra na sequência da votação. Bancos como o Standard Chartered e o Credit Agricole estão entre os que esperam que May sobreviva à moção de censura apresentada pela oposição.

 

Como destaca a agência noticiosa, uma análise mais atenta ao mercado mostra evidências de uma recuperação na confiança dos investidores, com a queda dos custos dos seguros associados à dívida subordinada dos bancos e da volatilidade da libra.

 

Ao mesmo tempo, há outro fator que explica a resiliência dos mercados face à votação: não só o resultado já estava a ser antecipado como muitas das más notícias que têm marcado o processo do Brexit já estão incorporadas nos valores dos ativos.

"Antes da votação, havia um forte consenso de que o governo sofreria uma derrota ainda maior", disse Christopher Jeffery, da Legal & General Investment Management. Por isso, a "reação do mercado tem sido relativamente moderada".

 

E porquê um Brexit mais "soft"?

O resultado da votação de ontem está a levar os investidores a acreditarem que a resolução do impasse só poderá ser alcançada com uma solução de compromisso entre o Governo britânico e a oposição, que dará origem a um Brexit ainda mais "suave" do que aquele que estava considerado no acordo alcançado entre Theresa May e as autoridades europeias.

 

"O resultado é tão desastroso para o Brexit que as hipóteses de um Brexit mais suave ou até mesmo um segundo referendo podem ter aumentado", explica Stephen Jen, diretor da Eurizon SLJ Capital, citado pela Bloomberg.

 

Esta quarta-feira, os trabalhistas voltaram a sublinhar a disponibilidade para apoiarem May, desde que seja alcançado um compromisso que envolva uma maior aproximação à União Europeia.  

 

John McDonnell, responsável pelas políticas financeiras do Partido Trabalhista, garantiu que o partido apoiará May se ela concordar em permanecer numa união aduaneira permanente com a UE, em estabelecer uma relação próxima com o seu mercado único e em garantir maiores proteções para trabalhadores e consumidores.

"Apoiaremos um acordo que una o país, proteja empregos e apoie a economia", sintetizou McDonnell. "Tivemos esta política de portas abertas durante todo o tempo. Mas durante dois anos ela não entrou em contacto, não se aproximou de nós".

 

Apesar do otimismo do mercado, os analistas avisam que os tempos ainda são de incerteza. Um resultado inegável da derrota do acordo de May, independentemente do desfecho da votação de hoje, é mais um atraso para o processo do Brexit e ainda mais incerteza para os mercados. Dean Turner, do UBS Global Wealth Management, está entre os que recomendam cautela.

"Os ativos do Reino Unido continuarão vulneráveis à volatilidade política e não esperamos que isso diminua até que surja uma conclusão concreta ", disse o economista à Bloomberg.

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