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"Risco real" de Mexia ser afastado pode "distrair" EDP. Ações caem

Em duas sessões as ações da EDP caem mais de 4% e os analistas do CaixaBank BPI esperam que a tendência continue a ser negativa nos próximos dias.

Lusa
08 de Junho de 2020 às 09:32
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Os analistas consideram que o potencial afastamento de António Mexia da liderança da EDP não terá impacto relevante na atividade da empresa, mas temem que este seja um fator de "distração" na execução da estratégia da companhia e esperam que as ações continuem com tendência negativa na bolsa.

 

"Acreditamos ser bem possível que o juiz aceite algumas, ou mesmo todas, as medidas de coação que foram solicitadas pelo Ministério Público, pelo que existe o risco real que os CEO da EDP e da EDPR sejam suspensos de funções nas próximas semanas", referem os analistas do CaixaBank BPI, que classificam o "caso EDP" como um processo judicial "complexo e com resultado incerto".

 

Acrescentam que "só por si, o afastamento dos gestores não terá um impacto material no valor das empresas", mas "acreditamos que o sentimento negativo relacionado com esta história vai estar em destaque nos próximos dias" e "por isso esperamos uma reação negativa da cotação das ações e que a tendência negativa permaneça pelo menos até que seja conhecida uma decisão final".

 

Os analistas do CaixaBank BPI assinalam que as ações da EDP já registaram um desempenho inferior ao setor nas últimas duas semanas. A notícia com as medidas de coação propostas pelo Ministério Público foi publicada em cima do fecho da sessão de sexta-feira, levando as ações da EDP a fecharam com uma queda superior a 3% num dia de fortes ganhos nas bolsas europeias.

 

Esta segunda-feira as ações também abriram em terreno negativo, registando uma queda máxima de 3,46% para 4,102 euros. Em dois dias os títulos caem mais de 4%, mas a EDP continua a ser das poucas cotadas do PSI-20 com um saldo positivo em 2020 (+8%) e a capitalização bolsista persiste acima dos 15 mil milhões de euros.


 

Impacto "deverá ser relativamente limitado nas operações"

 

Após ter sido comunicado que o Ministério Público tinha proposto a suspensão de funções de António Mexia e de Manso Neto, entre outras medidas de coação, a EDP emitiu dois comunicados a garantir que a gestão da elétrica mantém o seu funcionamento normal. Até porque, a divulgação das medidas conhecidas na sexta-feira "não se trata de qualquer decisão do juiz". Além disso, tem até 15 de junho para exercer o direito de contraditório, como sublinhou a elétrica no primeiro comunicado emitido ao início da noite de sexta-feira. No dia seguinte, no sábado à tarde, a elétrica publicou um esclarecimento na CMVM onde reitera que vai contestar as medidas que considera "insensatas" e "ilegais".

 

Para a EDP "as medidas propostas são desprovidas de fundamentação e não são elencados os factos que alegadamente as justificam". Por isso, "serão objeto de pronúncia por parte dos representantes legais" dos gestores. 

 

Os analistas do CaixaBank BPI lembram que o processo judicial em causa visa os gestores da EDP e da EDP Renováveis e não as empresas, pelo que o impacto "deverá ser relativamente limitado nas operações da empresa, além da distração causada na gestão de topo com este caso, além do impacto reputacional".

 

Elchim Mammadov, analista da Bloomberg Inteligence, também usa o termo distração para salientar o maior dano que este caso pode provocar na EDP. "O pedido dos procuradores para suspender as funções dos CEO da EDP e EDP Renováveis pode representar uma distração na execução do plano de negócios 2019-2022", refere o analista, acrescentando que "ambos os gestores parecem ter bases fortes para contestar a proposta" do Ministério Público.

 

O CaixaBank BPI, citando a imprensa, dá conta que a EDP tem um plano de contingência caso Mexia e Manso Neto sejam acusados, que passa pela indicação de Miguel Stillwell para o cargo de CEO temporário. O atual administrador financeiro está envolvido na definição da atual estratégia da elétrica, pelo que "acreditamos que esta transição não deverá resultar em alterações materiais na execução do atual plano de negócios".  

As medidas de coação propostas para Mexia e Manso Neto

António Mexia

- Suspensão do exercício de função em empresas concessionária ou de capitais públicos, bem como qualquer cargo de gestão/administração em empresas do GRUPO EDP, ou por este controladas, em Portugal ou no estrangeiro;

- proibição de se ausentar para o estrangeiro com a obrigação de entregar o passaporte;

- proibição de contactar, por qualquer meio, designadamente com arguidos e testemunhas;

- proibição de entrada em todos os edifícios da EDP; e

- prestação de caução em valor não inferior a dois milhões de euros.

 

Manso Neto

- Suspensão do exercício de função em empresas concessionária ou de capitais públicos, bem como qualquer cargo de gestão/administração em empresas do GRUPO EDP, ou por este controladas, em Portugal ou no estrangeiro;

– proibição de se ausentar para o estrangeiro com a obrigação de entregar o passaporte.

– proibição de contactar, por qualquer meio, designadamente com arguidos e testemunhas;

- proibição de entrada em todos os edifícios da EDP;

– prestação de caução em valor não inferior a um milhão de euros.

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