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Wall Street com melhor sessão em três anos. Dow dispara mais de 1.000 pontos na maior subida de sempre

As bolsas norte-americanas encerraram em forte alta, numa sessão de acentuada retoma, depois das avultadas perdas dos últimos dias. Há três anos que não subiam tanto numa só sessão.

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O Dow Jones encerrou a somar 4,98% para 22.877,43 pontos, tendo sido a primeira vez na sua história que subiu mil pontos numa só sessão.

 

Já o Standard & Poor’s 500 avançou 4,96% para 2.467,76 pontos e o tecnológico Nasdaq Composite disparou 5,84% para 6.554,35 pontos.

 

Com o desempenho desta quarta-feira, depois de terem estado encerrados ontem, os principais índices de Wall Street recuperam assim de uma desastrosa véspera de Natal – depois de terem vivido a pior semana em 10 anos.

 

Os receios em torno da desaceleração económica mundial, das tensões comerciais (especialmente entre os EUA e a China) e da paralisação ("shutdown") parcial dos serviços federais norte-americanos têm contribuído para o pessimismo dos investidores e para o movimento generalizado de vendas ("sell-off").

 

Mas hoje o sentimento foi de optimismo. A ajudar ao bom desempenho de Wall Street esteve um conselho do presidente Donald Trump aos investidores: aproveitem para comprar acções, que ficaram a bons preços devido ao movimento generalizado de vendas.

 

"Temos empresas – as maiores do mundo, que estão a ter um grande desempenho", disse o presidente dos Estados Unidos aos jornalistas na Casa Branca. "Têm apresentado números recorde. Pelo que penso que esta é uma tremenda oportunidade para comprar. É mesmo uma grande oportunidade para comprar" acções, afirmou Trump.

 

Após as declarações de Trump, a Bloomberg foi analisar em que níveis se encontram os múltiplos de mercado de Wall Street. E constatou que a recomendação do presidente dos EUA até pode fazer sentido.

 

É que o PER (rácio que mede a relação entre a cotação e o lucro por acção) está no nível mais reduzido desde 2013. As cotadas do S&P500 estão a transaccionar a cerca de 13 vezes os lucros estimados para os próximos anos e também reduziram de forma substancial o prémio com que transaccionavam face às pares europeias no início do ano. Isto numa altura em que se mantém intacta a perspectiva de aumento nos lucros das empresas norte-americanas.

 

A análise da Bloomberg também mostra que as ocasiões anteriores em que Wall Street transaccionou com um PER tão reduzido representaram boas oportunidades de compra. Foi o que aconteceu no quarto trimestre de 2013, pois quem entrou no mercado nessa altura de desempenhos negativos, está agora a acumular um ganho de 56%.

Um dos grandes destaques da sessão desta quarta-feira foi a Amazon. A empresa de comércio electrónico fechou a escalar 9,45% para 1.470,90 dólares, impulsionada pelas boas vendas nesta época natalícia.

 

Com efeito, a retalhista online liderada por Jeff Bezos e a Mastercard reportaram vendas robustas neste período, o que sugere que os cheques salariais mais chorudos deste mês e os preços mais baratos da gasolina (depois das fortes quedas do petróleo nos últimos tempos – hoje contrariadas com subidas fulgurantes de perto de 10%) estão a ajudar a impulsionar os gastos dos consumidores (que são quem mais contribui para o PIB dos EUA).

 

Uma boa sessão não estabelece uma tendência

 

Apesar destes ganhos, o Nasdaq continua em "bear market" (quando perde pelo menos 20% face ao último máximo) e o Dow e S&P 500 mantêm-se em território de correcção (queda de pelo menos 10% face ao último máximo).

 

As bolsas do outro lado do Atlântico continuam também em posição de poderem registar o pior mês de Dezembro desde 1931 – em plena Grande Depressão.

 

"A única certeza em relação ao mercado este mês é a incerteza. Qualquer má notícia pode transformar uma tendência de subida numa forte queda", escreve a CNN Business.

 

Recorde-se que as quedas recentes deixaram o S&P500 em mínimos desde Abril de 2017. Desde o início do mês o índice norte-americano recua 14,8%, sendo que no acumulado do quarto trimestre o desempenho é ainda mais negativo: -19,3%.

 

O espectro do "shutdown"

 

Apesar de Trump ter ajudado ao bom momento de hoje em Wall Street, a turbulência vivida em Wall Street nas últimas sessões também se deve em grande medida ao presidente dos Estados Unidos. O Governo norte-americano está em "shutdown" desde sábado, sendo que a paralisação parcial deverá prolongar-se nos próximos dias, até que seja possível fechar um acordo para o financiamento do muro na fronteira com o México.

 

Esta paralisação é parcial, visto que parte do financiamento já está assegurado. Com efeito, já tinha havido aprovação prévia de 75% dos fundos para o funcionamento normal dos serviços públicos.

 

Contudo, os restantes 25% dos programas federais estão sem dinheiro, pelo que se encontram encerrados. Entre estes 25% estão programas dos departamentos da Segurança Nacional, Justiça e Agricultura.

 

Mas o que mais enervou os investidores foi a possibilidade de Trump demitir o presidente da Reserva Federal. No fim-de-semana surgiram notícias de que o presidente dos Estados Unidos estava a ponderar afastar Jerome Powell.

 

O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, apressou-se a tentar acalmar os mercados ao afastar este cenário. Mas ao mesmo tempo emitiu um despropositado comunicado a anunciar que tinha falado com os CEO dos maiores bancos de Wall Street e que estes lhe tinham comunicado que não existam problemas de liquidez no sector financeiro. O mercado não entendeu a necessidade de o Tesouro dos EUA de falar da saúde financeira dos bancos, o que agravou o nervosismo dos investidores e aprofundou a queda dos mercados accionistas na segunda-feira.

 

Trump reitera confiança em Mnuchin e Powell

 

A imprensa norte-americana noticiou que Trump terá ficado furioso com a forma como Mnuchin falhou na tentativa de acalmar os mercados, pelo que surgiram rumores que também pretendia demitir o seu secretário do Tesouro.

 

Na conversa com os jornalistas na Casa Branca, ao final do dia de terça-feira, Trump desvalorizou este cenário. Questionado se mantinha a confiança em Mnuchin, afirmou que "sim mantenho, [Mnuchin] é um homem muito talentoso e uma pessoa muito inteligente".

 

Trump não foi tão generoso com o presidente da Fed, mas também afastou a possibilidade de o demitir. Repetiu que o banco central está a "subir as taxas de juro de forma muito rápida", mas está convicto de que a Fed "rapidamente perceberá isso".

 

Esta mensagem de confiança em Mnuchin e Powell esteve hoje a ser entendida como uma forma de Trump acalmar os mercados financeiros.

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